26 de abril de 2009

Reação republicana

Oligarquias disputam o poder
Vitor Amorim de Angelo



Reação republicana é o nome pelo qual ficou conhecida a chapa de oposição apresentada, em 1921, por alguns estados - Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro e Distrito Federal - contra o candidato à presidência da República apoiado por Minas Gerais e São Paulo. Em março de 1922, seria escolhido o novo presidente da República, que substituiria o paraibano Epitácio Pessoa, no cargo desde 1919.

Seguindo a política do café-com-leite, as oligarquias de Minas e São Paulo lançaram o nome do governador mineiro, Arthur Bernardes, à sucessão presidencial. Insatisfeitos, alguns estados de importância secundária no cenário político-econômico da época - ou que buscavam mais espaço frente à hegemonia mineira e paulista - indicaram o então senador fluminense Nilo Peçanha para a disputa contra a chapa situacionista. Estava formada, assim, a Reação republicana.

Versões para a dissidência
O movimento oposicionista de 1921 evidenciou, pela segunda vez, a crise política provocada pelo controle da máquina pública por parte das oligarquias de Minas Gerais e São Paulo. Ao mesmo tempo, canalizou as insatisfações provocadas pela relativa exclusão política a que estavam condenadas outras elites regionais.

A Reação republicana representou, de forma consistente, mais uma contestação à dinâmica político-eleitoral que dominava a República desde o final do século 19. Algumas versões tentam explicar o movimento de 1921 e estabelecer suas conexões com o quadro mais amplo da política do café-com-leite e da política dos governadores.

A primeira delas atribui a crise não à disputa pela sucessão presidencial em si, mas à indicação do vice na chapa encabeçada pelo candidato apoiado por Minas e São Paulo. Assim, não haveria maiores questionamentos quanto à preponderância desses estados, mas tão-somente no que dizia respeito à participação, ainda que secundária, das demais oligarquias no processo político.

Outra versão tenta associar o lançamento de Nilo Peçanha à presidência com os interesses de uma camada urbana em franco crescimento no Distrito Federal. Nesse caso, é ressaltado o aspecto populista do então candidato da oposição e a forma como ele se relacionava com sua base político-eleitoral.

Por fim, uma outra corrente de historiadores atribui a Reação republicana aos problemas da economia brasileira do início dos anos 1920. Muito além da insatisfação política, as oligarquias dissidentes, conforme essa versão, sentiam-se prejudicadas pela política econômica que, privilegiando a recuperação financeira do setor cafeeiro, afastava-se dos interesses mais imediatos daquelas forças regionais.

A campanha de Arthur Bernardes
O programa lançado pelo movimento oposicionista defendia: 1) maior independência do Legislativo em relação ao Executivo, o que significava uma crítica à política dos governadores; 2) o fortalecimento das Forças Armadas, o que acabou atraindo os militares para a campanha de Nilo Peçanha; e 3) políticas sociais para a população urbana, o que permitiu o avanço da candidatura oposicionista sobre esse segmento do eleitorado.

No caso dos militares, em particular, sua relação com Epitácio Pessoa vinha se deteriorando desde 1919, já que o presidente, em várias ocasiões, nomeara civis para ocupar cargos militares - por exemplo, o Ministério da Guerra. Em 1920, o ex-presidente Hermes da Fonseca retornara do exterior. Seu prestígio junto às Forças Armadas fez com que seu nome fosse cogitado novamente para a sucessão de 1922.

Embora Nilo Peçanha tenha conseguido emplacar sua candidatura, em detrimento à de Hermes da Fonseca, os militares não apoiaram o candidato da situação. Para isso também pesou bastante o episódio envolvendo supostas cartas que Arthur Bernardes teria escrito criticando os militares e, em particular, o marechal Hermes da Fonseca, eleito, em 1921, para presidir o Clube Militar. Mas tarde, descobriu-se que as cartas eram falsas.

A eleição transcorreu normalmente e, apesar da intensa radicalização política, a vitória do candidato situacionista confirmou-se. Em Pernambuco, eclodiram rebeliões populares contra o resultado das eleições no estado. O governo Epitácio Pessoa enviou tropas para reprimir as manifestações. Hermes da Fonseca envolveu-se no episódio ao manifestar-se contra o envio do Exército para acabar com as rebeliões.

Em seguida, como reposta, o governo decretou a imediata prisão do marechal e o fechamento do Clube Militar. A partir daí, desencadeou-se uma onda de insatisfações dentro das Forças Armadas que culminaria com a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana. Apesar da vitória e da posse, no final de 1922, Arthur Bernardes conviveria com a constante tensão com os militares ao longo de todo o seu governo.
* Vitor Amorim de Angelo é historiador, mestre e doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos. Atualmente, é professor de história da Universidade Federal de Uberlândia.

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