Província da Cisplatina deixou de ser brasileira
Newton Nazaro*
Em 7 de setembro de 1822, respaldado pela elite agrária, D. Pedro proclamou a independência do Brasil. No ano seguinte, porém, a disputa entre o imperador e os latifundiários pelo controle político do país levou o monarca a dissolver a Assembléia Constituinte e a manter o Parlamento fechado pelos três anos seguintes.
Sem um canal de interlocução com o governo centralista de D. Pedro 1º e pressionados pelas camadas populares, pela concorrência do charque do Rio Grande de São Pedro e dos comerciantes do Rio de Janeiro, comerciantes e fazendeiros da Cisplatina se uniram ao líder rebelde Lavalleja na luta pela independência da região, em 1825.
Movimento separatista
Em Buenos Aires, manifestações populares levaram o governo das Províncias Unidas do Prata a dar apoio militar ao movimento. Mas se, por um lado, o governo das Províncias Unidas temia um conflito direto com o Brasil, por outro lado a adesão ao movimento separatista da Banda Oriental abria a possibilidade de anexá-la e, posteriormente, desativar o porto de Montevidéu.
Assim, Buenos Aires se transformaria na única porta de entrada de toda a região do Prata e monopolizaria todo o lucro de seu rico comércio.
O fato de ser a única monarquia das Américas fazia que o Brasil figurasse perante os governantes das repúblicas vizinhas como um agente dos interesses da Santa Aliança. Do ponto de vista da Inglaterra, isso representava um contraponto à influência dos Estados Unidos no continente, expressa pela chamada doutrina Monroe ("A América para os americanos"), de 1823.
Foi justamente essa proximidade diplomática com a Inglaterra que desencorajou um ataque de todos os demais países vizinhos contra o Império do Brasil.
Apoio inglês ao Brasil
Com pretensões sobre o comércio platino e com base na identidade entre os regimes políticos, a Inglaterra apoiava o Brasil, enquanto os Estados Unidos apoiavam as Províncias Unidas na disputa pela Banda Oriental, também com vistas sobre o mercado regional.
Esses apoios de parte a parte, todavia, não chegaram a evoluir para uma participação direta de ingleses nem de americanos no conflito, mas a duração da guerra prejudicou o trânsito de seus navios mercantes no Prata.
Para a diplomacia britânica, havia duas possibilidades de solução para o conflito: ou a posse das Províncias Unidas sobre a Banda Oriental, mediante indenização ao governo brasileiro, ou a criação de um Estado tampão entre os dois maiores países da América do Sul.
Em 1828, a independência do Uruguai
A segunda opção pareceu aos ingleses mais interessante. Um consenso em torno da soberania da região significaria uma paz duradoura, necessária aos seus interesses comerciais. Para isso, foi necessário que o presidente Rivadávia, das Províncias Unidas, assumisse o compromisso de manter a passagem dos navios brasileiros pelo Prata a caminho dos rios Paraná e Paraguai, rumo ao Mato Grosso, e do rio Uruguai, rumo à região das antigas missões jesuíticas.
Do ponto de vista do Brasil, a manutenção da livre navegação pela bacia platina, àquela altura, já era motivo mais que suficiente para o fim dos gastos insustentáveis com as operações militares que, além do dinheiro, haviam consumido também a vida de 8 mil homens.
Em 27 de agosto de 1828, foi assinada a Convenção Preliminar de Paz pelos representantes do Império do Brasil e da República das Províncias Unidas do Prata, sob a mediação da diplomacia britânica. O ato marcou a independência da República Oriental do Uruguai.
*Newton Nazaro é graduado em História pela PUC-SP, professor do Curso Intergraus, em São Paulo, e co-autor da coleção "Panoramas da História", a ser lançada pela Editora Positivo.
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