28 de março de 2009

PIRÂMIDES

Pirâmide Maia
Pirâmide Asteca
Pirâmide inca


Egito
Egito



As Pirâmides são estruturas monumentais construídas em pedra e têm uma base retangular e quatro faces triangulares (por vezes trapezoidais) que convergem para um vértice. Acredita-se que as pirâmides do Egipto Antigo eram edifícios funerários, embora alguns especialistas acreditem que além de servirem de mausoléus eram também templos religiosos. Foram construídas há cerca de 2.700 anos a.C., desde o início do antigo reinado até perto do período ptolomaico. A época em que atingiram o seu apogeu, o período das pirâmides por excelência, começou com a III dinastia e terminou na VI dinastia (2686-2345 a.C.).

Não eram consideradas estruturas isoladas mas integradas num complexo arquitectónico. Foram encontradas cerca de 80 pirâmides no Egipto mas a maior parte delas estão reduzidas a montículos de terra.

A construção das pirâmides sofreu uma evolução, desde o monte de areia de forma rectangular que cobria a sepultura do faraó, na fase pré-dinástica, passando pela mastaba, uma forma de túmulo conhecida no início da era dinástica. Foi Djoser, o fundador da III dinastia, quem mandou edificar uma mastaba inteiramente de pedra. Tinha 61 m de altura e 6 degraus em toda a volta, 109 m de norte a sul e 125 m de leste a oeste. As pirâmides têm uma estrutura subterrânea complexa, composta de corredores e salas onde a sala funerária é cavada no solo. Depois da IV dinastia, as pirâmides entram na sua fase clássica com a construção da ampla e maravilhosa necrópole de Gizé, na margem esquerda do Nilo, não longe do Cairo.

As maiores pirâmides egípcias são as dos faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos em Gizé. São famosas também as pirâmides astecas, que se destinavam à prática religiosa e atestam a competência técnica desse povo. As pirâmides de Gizé são umas e as únicas sobreviventes das Sete maravilhas do mundo antigo.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre

27 de março de 2009

O Massacre dos Gatos

Nadir Costa



Em O Grande Massacre dos Gatos, Robert Darnton relata alguns episódios da história cultural francesa, que incluem os rituais medicinais e a própria matança dos gatos. Os gemidos e os gritos desses animais estavam relacionados à feitiçaria, orgia, traição sexual, baderna e massacre, bem como também poderiam curar muitos males.

Século 17: massacre de gatos. Estes felinos eram vistos pelos supersticiosos como amigos das bruxas, principalmente o gato preto. Na frança e outros países começa um genocidio destes animais. Os gatos eram inimigos naturais dos ratos que transmitem peste e leptospirose. Resultado? Milhares de pessoas morrem. Os pobres felinos pagam pela ignorância.

Gatos são noturnos em seus hábitos, seus olhos brilham no escuro e sua habilidade de se mover rápida e silenciosamente, pode chegar a intimidar. Esta provavelmente foi a razão de o inofensivo gato tornar-se indissoluvelmente associado a bruxas, demônios e poderes ocultos.

Acreditava-se que o gato tinha um pacto com o próprio Diabo, e que também era capaz de causar tempestades ou ser uma bruxa disfarçada. Coisas terríveis aconteciam a eles; eram queimados em rituais cerimoniosos destinados a expulsar espíritos maus, enterrados vivos, e citados em todos os julgamentos de bruxas conhecidos nos séculos 16 e 17.

A histeria e a paranóia naqueles tempos era tão grande, que alguém que gostasse de um gato era suspeito de ser um iniciado em magia negra. O hábito do gato gostar de dormir na cama do dono, ou eriçar o pêlo, eram consideradas evidências de algo sombrio, de relacionamento demoníaco.

Essa convicção sobreviveu até nossos dias. Em 1929, por exemplo, houve uma virtual epidemia de massacre de gatos na Pensylvannia. Acreditava-se que, se um gato fosse imerso em água fervente, e morto, um dos seus ossos se tornaria um poderoso talismã contra feitiçaria.

Igualmente a hedionda prática de que enterrar um gato na fundação de um edifício traria sorte, continua até o século presente. Este antigo ritual às vezes culminava também com sacrifícios humanos.



Resumo


Os trabalhadores se revoltam: O grande massacre de gatos na rua Saint-Séverin

O operário, Nicolas Contat narra a história que se passou quando ele ainda era estagiário na gráfica de Jackes Vicent, na cidade de 1730.

Ele começa dizendo como era difícil a vida do aprendiz destacando dois: Jerome e Léveillé. Na narrativa Contat diz que os aprendizes dormiam em um quarto sujo e gelado, que tinham que levantar antes do amanhecer, trabalhavam antes do amanhecer, trabalhavam o dia inteiro, não recebiam nada para comer, a não ser as sobras do patrão ou ainda comida de gatos. Através dessas injustiças Jerome e Lévillé começaram a criar um ódio pelos gatos e os patrões que privilegiaram mais os gatos do que aos operários das gráficas, ou seja os gatos eram as paixões dos burgueses, enquanto os operários eram desprezados.

A noite os aprendizes não conseguiam dormir em razão aos uivos dos gatos no telhado, e, após uma noite mal dormido tinham que levantar as quatro ou cinco da manhã para abrir os portões para os trabalhadores assalariados enquanto que o patrão dormia até tarde.

Os rapazes resolveram dar um jeito nessa situação Léveillé, subiu no telhado foi até a área próxima do quarto do patrão e começou a imitar os uivos dos gatos, fez isso durante algumas noites. Depois desses episódios os patrões pensavam que estavam sendo enfeitiçados e em vez de chamar o padre deram ordem para os operários para se livrarem dos gatos. A patroa pediu que a sua gata preferida (la grise) fosse poupada.

Jerome e Léveillé ajudados pelos assalariados, começaram a matar os gatos com cabos de vassouras, barras de impressora e outros instrumentos, a começar por la grise todos os gatos alcançados foram mortos. Depois encenaram um julgamento, gatos ainda semimortos foram julgados e enforcados. A patroa atraída pelas gargalhadas chegou e soltou um grito, percebendo que algum daqueles gatos poderá ser la grise, mas os homens lhes garantiram que não, pois tinham muito respeito pela “casa”, o patrão ao ver a algazarra teve um acesso de raiva pela paralisação do trabalho, sua esposa ainda tentou lhe dizer o caso era de insubordinação, ou seja mais grave do que ele pensava.

Por vários dias Leveillé encenou o espetáculo através de mímica, principalmente quando queriam trazer alegria para oficina e os incidentes da vida na oficina eram encenados com zombaria mas tudo era voltado para o divertimento. Contat destaca no texto que Léveillé fazia mais engraçadas cópias que já vira, ou seja ele criticava e ridicularizava o patrão a patroa, e em razão disso será perdoado por algumas zombarias anteriores contra os operários.

Segundo Robert Darnton, o leitor moderno não acha engraçado um grupo de homens balindo como bodes enquanto um adolescente reencena a morte de um animal indefeso e que o que ocorreria na maioria dos leitores é de que o massacre dos gatos foi um ataque indireto ao patrão e sua mulher. A causa dessa revolta nos é mostrado nos livros da STN. Os operários eram despedidos por qualquer falha ou doença em seus lugares eram colocados compositores ou aprendizes, e por causa das bebedeiras o serviço era falho por isso os mestres procuravam trabalhadores assíduos.

A STN contratavam recrutadores que mandavam trabalhadores de outras cidades, para eles os artesãos do século XVIII eram preguiçosos constantes e não mereciam confiança, para que os operários não fugissem após o pagamento os patrões guardavam seus pertences, mas podiam ser despedidos mesmo que trabalhassem com zelo. A STN era abastecido conforme queria.

Enfim os assalariados e os patrões podem ter vividos juntos com família feliz em algum período, em alguma parte da Europa, mas não nas gráficas da França e da Suíça no século XVIII.

A religiosidade do brasileiro

O autor do texto que segue nos dá uma visão geral sobre as muitas religiões do brasileiro, ou melhor, de sua religiosidade.

A maioria do povo brasileiro é oficialmente católica. Mas, na hora do aperto, cada um apela para qualquer tábua de salvação: curas prometidas por templos petencostais, revelações em centro espíritas, despachos em terreiros de macumba ou consulta à mãe-de-santo na umbanda. Por isso, diz-se que o brasileiro não tem propriamente religião e sem religiosidade.

De fato, muitos brasileiros possuem uma religiosidade sincretista: uma mistura de diferentes influências religiosas, predominando a mescla entre o cristianismo de estilo europeu e as tradições trazidas pelos escravos e preservadas pela população negra do país.

Soma-se a isso a superstição ou crendice tão comum em nossa gente: não passar debaixo de escada, evitar o mau-olhado, jogar um gole da bebida para o santo, proteger-se de acidentes com as fitas coloridas do Senhor do Bonfim etc. é falsa a idéia de que tais superstições estariam ligado as ao baixo nível cultural de nossa população. Nos Estados Unidos, os elevadores não marcam 13° andar.... Porém, é verdade que a miséria serve de caldo de cultura para a rápida expansão de igrejas, seitas ou templos que prometem curas a quem não pode pagar médico e remédios; alívio espiritual a quem vive sob angústia em situações conflitivas geradas pela falta de recursos (como excesso de moradores num pequeno cômodo de favela); glórias celestiais a quem trabalha oprimido, por um salário de fome.

Nos últimos anos, cresce no Brasil a influência de correntes religiosas orientais, bem como o interesse pela astrologia. No fundo, as pessoas buscam um pouco de paz em situações difíceis e, frente à insegurança social, aspiram prever caminhos do futuro.

A Igreja reconhece que outras religiões são também caminhos para o encontro com Deus e o amor ao próximo. Há evidentes sinais evangélicos em expressões religiosas não-católicas. Porém, dentro do respeito à liberdade de consciência de cada ser humano, a Igreja alerta para o risco das “curas milagrosas”, aconselhando que se lute por melhores condições de assistência à saúde na sociedade brasileira (...)

É preciso também distinguir religião e magia. Na religião, os fiéis se submetem à vontade de Deus, convictos de que o Pai sempre deseja o bem e a felicidade de seus filhos. Na magia, os fiéis participam de rituais ou encomendam despachos, acreditando que assim podem obter a submissão da divindade à vontade deles. Ora, Deus não se submete aos nossos caprichos e nem devemos tomar seu santo nome em vão. (...)

Frei Betto. Catecismo Popular. São Paulo, Ática, 1992, p.239-40


Texto retirado da internet.

GRÉCIA

Nadir Costa

Quando falamos sobre Grécia, sempre lembramos de nomes como Aristóteles e Platão, grandes filósofos gregos ou de mitos como a de hércules e Perseu ou dos seus democráticos numa época imperialista e isso sem falar dos seus arquitetos e escultores de sua época. Mas o que devemos dizer com isso ? Tudo o que sabemos são relatos achados históricos sem muitos fundamentos científicos para sabermos distinguir o que é fictício e o que é real.

Uma das grandes certezas que podemos ter, são traços mostrados na cultura grega fora se passado na época Homérica onde pode-se encontrar relatos e fatos da sócio-econômia grega nesse período arcaico. Nesse relato mostra como era o auge da civilização grega para que depois na época helenística mostrasse a decadência da civilização grega.

Como citado anteriormente, os relatos que têm, não são completamente confiáveis, pois uma grande parte foi perdida com tempo, com exceção de Atenas que guarda partes importantes da Grécia antiga. Tanto que nestes relatos mostra esparta com formas políticas e sociais arcaicas pelos historiadores e relatos sobre Tessália e Macedônia, não encontrados pela falta de estruturação das póleis.

E como comprovado pelos historiadores, foi provado que a cultura grega teve a forte influência da civilização micênica, que antes dessa comprovação achavam que as duas civilizações eram completamente diferente. No que se sabe sobre o mundo micênico, é que apesar de todo o seu desenvolvimento, não existiam cidades, mas sim existiam pequenos estados com a centralização bastante acentuado da economia e da política. A distribuição e a produção dos gêneros econômico e político dependiam muito de um controle burocrático de cada comunidade.

Mas infelizmente, essa civilização foi destruída pelos Dórios que invadiram a península Balcânica tentando erradicar a cultura daquele povo, e com sorte uma parte da cultura se salvou que foi a língua propriamente dita, mas mesmo assim, o surgimento da cultura grega foi surgindo com a cultura micênica.

A arquitetura, democracia e escultura pertencem ao ponto mais alto da civilização grega, e diz respeito sobre tudo a Atenas, pois ela uma entre muitas outras cidades compunham a Hélade na antiguidade.

Antes das descobertas arqueológicas, as fontes históricas do período pré-helênico eram as obras de Homero, Ilíada e Odisséia. A Ilíada narra a guerra entre Agamenon, rei de Micenas, e os habitantes de Ílio (Tróia), e a Odisséia trata das aventuras de Ulisses, rei de Ítaca

O período homérico começou com as violentas invasões dos Dórios. A Ilíada descreve a guerra de tróia, e a Odisséia conta as aventuras de Ulisses (Odisseu) em seu retorno para casa . Nessa época, a sociedade organizava-se em genos, (grandes famílias com antepassados comuns). Cada geno era chefiado por um patriarca e sua economia era natural e auto-suficiente. O estudo da Grécia antiga deve-se a Atenas, pois com efeito no grosso da documentação que nos é disponível sobre a Grécia antiga

Nos poemas de Homero encontramos já a maior parte das tribos gregas formando pequenos povos, que já viviam em cidades amuralhadas; a população aumentava paralelamente com o rebanho, o desenvolvimento da agricultura e o nascimento dos ofícios manuais, cresciam as diferenças de riqueza, e o surgimento da aristocracia .Esses povos mantinham incessantes guerras pela posse de terras e também saqueavam

Ainda hoje se discute porque os fatos heróicos contados se passam na Idade de Bronze, e a que a sociedade de Homero descreve não são reveladas pelos achados arqueológicos da época da civilização micênica.

Os especialistas aceitam a maior parte do conteúdo dos poemas homéricos que dizem respeito ao período que se seguiu a queda da civilização micênica. Em resumo, Homero escreveu versos que vinham sendo contados por várias gerações que tem muito da época anterior ao poeta.

Os poemas Ilíada e a Odisséia nos passam três períodos históricos, que vai desde a queda da micenas até a invasão Dórica, eles nos trazem as mais importantes informações sobre a economia e a sociedade.

Os Oikos foram os primeiros traços a ser ressaltado por Homero. Possuíam um chefe guerreiro juntamente com sua família.

O trabalho produtivo dos Oikos era realizado pelos escravos. A Odisséia fornece algumas que possuíam escravos que foram conseguidos através de pilhagens e saques e também através de compras.

Escravas eram em maior número e ficavam com os afazeres domésticos, os escravos (homens) também tinham afazeres domésticos.. faziam a maior parte do trabalho porém o chefe dos Oikos podiam participar também dessas atividades da casa, assim como as senhoras.

Os escravos não tinham o mesmo tratamento alguns eram privilegiados viviam melhor do que muitos homens livres, porém pobres. Os homens inferiores aos escravos eram chamados de tetas, pois não possuíam posses e uma posição precária, vagava de um lado para outro a procura de algo para fazer em troca de alimentos ou roupas, pois não tinham a proteção de ninguém.

No período homérico era mais importante você participar de um Oikos do que ter sua liberdade.

Homero nos fala pouco sobre a maioria dos homens da sociedade que constituía de pastores e agricultores por estar mais interessado em descrever heróis, Homero também cita os (demiurgos) comunidade trabalhadora que prestavam serviços a comunidade, pois eram homens livres que possuíam especialização .

Apesar dos demiurgos não serem proprietários, tinham uma posição privilegiada entre os homens livres e pobres, devido a execução de alguns trabalhos, como: médicos, profetas e arquitetos.

O grego ao mesmo tempo que admirava o trabalho do artesão, também o desprezava, apesar da sua importância, podendo assim citar o Deus Hefesto um artesão divino, que por ser um artesão, não se igualava a outros deuses em beleza e perfeição.

Os grupos sociais descritos por Homero detinham o poder político. Eram guerreiros que formavam uma aristocracia fechada, com grupo de mesma classe social e posição econômica, eles eram responsáveis na decisão do destino da comunidade.

Para reconstruirmos a Idade das Trevas depende-se dos poemas homéricos e das informações oferecidas pela arqueologia, já para o período arcaico conta-se com documentos bem mais completos, oferecidos pelas escavações arqueológicas .

Os dois processos mais importantes do período arcaico foram a formação das cidades-estados e a expansão colonial grega.

A formação das cidades-estados foi devido a desagregação da comunidade gentílica.

Esparta e Atenas serviram de modelo para as demais polis gregas , pois o estudo dessas duas cidades nos permite conhecer a história da Grécia antiga.

Cada cidade-estado tinha autonomia política e apresentavam diferenças entre si.

A marginalização e as condições miseráveis em que se encontravam as camadas populares da Grécia no final dos tempos homéricos e início do período arcaico geraram a necessidade de uma expansão colonialista, visando atender suas necessidades econômicas, e, ainda promoveu o aparecimento de uma economia monetária, crescimento do comércio e o aumento da escravidão. As reformas sociais deram origem a democracia.

A civilização grega, é considerada por muitos como a principal matriz da civilização Ocidental.

As principais fontes escritas sobre o período homérico são as Ilíadas e a Odisséia, dois longos poemas atribuídos a Homero. A Ilíada descreve episódios verídicos e imaginários da guerra de Tróia. Já a Odisséia conta o regresso de Ulisses da guerra de Tróia e o cotidiano das comunidades da época.

AS HERESIAS MEDIEVAIS

A heresia no universo da ordem

A mandala de Hildergard Von Bingen, mostra no globo terrestre os quatros elementos, com águas celestiais, vento ocidental, o eter e suas estrelas, que eram governadas pela Lua com os planetas Mercúrio e Vênus e o vento oriental, abaixo escuridão, gelo e raios e a esquerda o vento norte, mostra ainda a camada de fogo contendo o Sol, Marte, Júpiter e Saturno e o vento Sul, a direita a zona precedente. Havia entre os teólogos e míticos uma fascinação sobre a criação.
Guillaume de Conches, acreditava que as leis da natureza tinha uma ordem inabalável. Para Hugo de Saint-Victor a matéria no início era uniforme, alguns estudiosos de Chartres aceitavam a idéia de um caos sacudidos por movimentos convulsivos, mas Deus não era confuso, isso porque a matéria formara-se imediatamente.
A criação para a filosofia e no plano mítico tinha um carater de mistério, e através desse mistério, o mundo e a presença de Deus era captados. Como não era fácil de se compreender Deus, os homens tinham que observar as suas manifestações . Para o homem do século XII Deus representava um artesão supremo, e que tudo o que existia no mundo era da bondade divina, e a criação não era encarada fora de Deus.
Segundo Santo Agostinho Deus deu a todas as substâncias uma medida, uma forma e uma ordem, e que todas tem seu lugar. Tudo tem uma ordem natural e foi feito perfeito.
A cabeça do homem representa a esfera celeste; a visão, do fogo; a audição e o olfato do ar; o paladar, da água; o tato e a carne, da terra, enfim o homem é a natureza. Deus é o responsável por tudo e os homens indicados por Deus podem até o limite de suas forças. Ao eleitos da Igreja teoricamente o seu poder deriva de Deus.
O cristianismo transforma-se em uma religião universal, de acordo com a política do Império Romano. Todos os povos deveriam ouvir as mensagens de Cristo, que estabelecia igualdade entre todos. A medida que as idéias de Cristo são divulgadas torna-se mais claro que o reino de Deus não era desse mundo e para se alcançar este outro mundo teriam que se passar pela morte e pela ressurreição . Todas essas mensagens eram passadas pelos sucessores diretos de Cristo neste caso Pedro e Paulo. Os seguidores de Cristo passa a ser um grupo organizado. O cristianismo se transforma um fato político, em igreja. A vida, a morte e a ressurreição de Cristo são de suma importância, pois o seu nascimento representa o recomeço da humanidade, com Cristo há um antes e um depois, o tempo torna-se linear.
A Igreja como herdeira de Cristo é que leva todos aos caminho de Deus, e que o homem ressuscitará e será julgado por seus atos. O papa é quem tem o poder de estabelecer laços entre Deus e os homens, e se houvesse dúvidas a respeito desses ensinamentos essa igreja passa a exercer um poder temporal sobre os grupos que não tem como resistir.


A ruptura : do questionamento à heresia

Quem não acreditasse na Igreja e nas suas doutrinas, ela utilizava de vários métodos como: a negação, a discussão, a excomunhão e aniquilação do inimigo.
Devido aos conceitos indefinidos deixados por Cristo nos primeiros séculos houve uma forte penetração do platonismo e o neoplatonismo, no campo político houve influência romana. O cristianismo tanto foi ameaçado como estimulado pelo paganismo e filosofias antigas, pela cultura da antiguidade, e os cristãos versavam sobre os mais diferentes aspectos de suas verdades, mas essas divergências nem sempre constituíam em heresia. Para representar uma heresia, há uma união de elementos e circunstâncias que ameaçam o poder da Igreja. Para que seja considerada heresia ela se manifesta em discordância grupais.
Heresia é escolher, e dentro da mentalidade religiosa medieval era inaceitável escolher, o homem era escolhido, a escolha significava uma perturbação da ordem cósmica. É ortodoxo aquele que aceita as verdades relacionadas com o homem e a divindade . É herético aquele que escolhe uma verdade não estabelecida pela Igreja.
O herético não é um indivíduo sem fé, ao contrário ele é mais profundo, ele crê de uma maneira insolente. A heresia foi se modificando gradativamente na Idade Média Segundo Isodoro de Sevilha o herético não era mais o mesmo que criticava os dogmas cristão, e essa ligação herética com a Igreja é o que diferencia do israelita ou muçulmanos, pois esses eram considerados infiéis. Com o correr dos séculos a desobediência aos ensinamentos da Igreja crescem por não concordarem com as determinações papais .Nos textos medievais o herético é tido como louco e há relações entre heresia e a imoralidade. Para a Igreja a heresia se aproximada da bruxaria, e passa a ser vista como perversão com costumes ímpios. Essa confusão entre bruxaria e heresia é representada no processo de Joana D’Arc, só que essas idéias só ocorrem no mundo adversário . Raramente a heresia popular medieval apresentavam relações com a bruxaria ,da mesma forma que a magia aparecia no dia-a-dia do herético, também ocorria nomeio dos católicos.
A formação de um grupo herético não implica no rompimento entre a comunidade de origem e seus membros. Essa união é mais percebível no ponto de vista mental do que social. Nem sempre o herético abandona seu trabalho ou sua família para viver na marginalidade, e os que se afastam acabam formando grupos com diversos valores e apesar de sua crença o herético continua com os valores de sua comunidade social e trabalho, estando assim ligado a um sistema de vida e valores opostos. Na Idade Média existia heréticos de todas as camadas sociais, inclusive o clero, e até as mulheres eram consideradas iguais aos homens.


O oriente gerador de heresias


A religiosidade cristã manifestava-se diferentemente no ocidente e no oriente . O misticismo exagerado no cristianismo oriental era visto pela Igreja do ocidente com reserva. O monaquismo irlandês era o que mais se parecia ao oriental e era tido como irregular por Roma. A regra de São Bento ostenta a disciplina e a vida do dia-a-dia da comunidade e não ao misticismo. O monaquismo ocidental caracterizava-se por formar mais moderadas do contemptus mundi, evitando a queda num gnosticismo ou dualismo. Já no oriente desde os inícios do cristianismo tendia-se a especulação sobre problemas doutrinais. Com a chegada dos germanos, os cristãos romanos viram-se ameaçados tanto no lado espiritual como no material, por exemplo: Sidônio Apolinário em 475, dizia temer mais as leis de Cristo do que os ataques a Roma.
A Segunda vaga cristã no ocidente não seguia as mesmas doutrinas da Igreja de Roma, mas o arianismo. A antiga Europa romana nos inícios do século VI estava submetida aos heréticos. Todos os povos bárbaros eram arianos. Os católicos da Grã-Bretanha e da Gália foram atacados por povos pagãos , apenas duas regiões permaneceram católicas, a Irlanda e a Armórica, já não havia governo que comungasse a ideologia romana. Para sobreviver o papa uniu-se ao rei visigodo Teodorico. Em 320, em Alexandria, o bispo Arius pregava uma versão original e simples da Trindade, segundo ele a Trindade somente Deus pai era um eterno, inconcebido; Cristo para os teólogo a era o verbo, palavra de Deus, o logos grego,foi criado por Deus e por sua vez o logos teria criado o Espirito Santo. Cristo não era mais Deus , mas sim a primeira das criaturas. Em 325 o concílio de Nicéia declarou consubstancial ao pai, condenando o arianismo. Apesar dessa interpretação sobre a Trindade o arianismo tinha os mesmos rituais católicos, os mesmos sacramentos; diferenciando-se em algumas formulas. Seus locais de culto eram praticamente iguais aos dos ortodoxos. Não possuíam um clero regular e era casados e geralmente poucos instruídos,dependiam dos príncipes e não constituíam uma hierarquia como na Igreja romana. O arianismo era nacionalista. Os germanos evitavam se misturar com os católicos. Em 540 o arianismo desapareceu dando de novo lugar ao catolicismo ortodoxo.
A reconquista bizantina, a conversão de Clóvis ao catolicismo e a ausência de um clero instruído e organizado fez com que o arianismo desaparecesse, ficando apenas na Espanha e deixando a Igreja de Roma livre para solidificar sua doutrina e dominação dos povos; apesar de que a Igreja não conseguiu apagar os traços do paganismo. Ainda que a Igreja de Roma estivesse sujeita aos jogos políticos e nem sempre tinha um comportamento espiritual exemplar, tentou cristianizar com exageros, ocorriam os exorcismos e rezas diversas para cada problema. O clero era visto em todos os atos da vida pública.
A partir do século VI , a Igreja instalou-se na Europa num clima de sacralidade. No ano 1000 os movimentos heréticos expande-se ameaçando as doutrinas da Igreja; como por exemplo: Raul Glaber um cronista da época relata um fato que ocorreu por volta do ano 1000 , onde ele cita a história de um camponês que teve um sonho visionário, e que após essa visão, este camponês passou a fazer pregações contrárias aos dogmas da Igreja, em suas pregações ele conseguiu um considerável números de adeptos. O texto de Glaber segundo a antiga tradição literária fala de um camponês que ousa subverter toda a ordem, pois na época apenas o clero podia falar, esse camponês é visto pela Igreja como um louco, desqualificado e que acabaria se matando num poço.
Na Aquitânia, os maniqueus seduziram o povo, eles negavam o batismo , a cruz e todos os ensinamentos, fingiam a castidade, mas entre eles estava presente todas as formas de devassidão. Em 1022 em Orleans clérigos eruditos ensinavam que o corpo de Cristo não era real, Não nasceu de Maria, nega a paixão e ressurreição de Cristo , essa doutrina foi passada por homens vindos da Itália. Esses clérigos segundo Adhemar Chabannes adoravam um diabo sob a forma de um negro ou um anjo de luz, e que lhes dava muito dinheiro. Na Itália em 1028 uma comunidade negava a Trindade, proibia o casamento, mas ao mesmo tempo socializava os seus bens. No século XI havia camponeses adeptos dos maniqueus, estes eram contra o casamento e pregavam com eloquência
Em meados do século X, os abades de Cluny (910) tinham grande projeto de expansão que combatia a secularização da ordem sacerdotal, o que correspondia a um ideal de pureza. Os mesmos propósitos surge na França, em 1039, com São Rufo. Na Segunda metade do século, o eremita Gualberto tem a atenção voltada para esse movimento. Outras ordens surgem com a intenção de reformar e sanear como a de São Roberto e outras. A reforma alcança a cúria romana,Gregório VII em 1075, proclama o poder da religião sobre o poder político, para libertar a Igreja dos poderes a que estava submetida. Esses movimentos e reformas surgem no momento em que ocorrem mudanças em todos os setores como: economia, produção e efervescência intelectual urbana. Os movimentos heréticos atrai toda a camada social, desde os camponeses até os nobres, eles buscam um caminho que a Igreja não indicava.


As origens da heterodoxia na Baixa Idade Média

A origem da heresia divide os historiadores, uns acreditam que vieram das doutrinas do oriente; outros tentam minimizar esse fator.
No século XII emprega-se a palavra ariano, isto prova que os termos nada tinha com o conteúdo de ensinamento de cada grupo herético. Em 1145, São Bernardo não conseguia dar nome a esses movimentos . Meio século mais tarde Alain de Lille julga os novos heréticos menos racionais que os antigos . A tendência dos heréticos contemporâneos eram cópias das heresias antigas . A heterodoxia torna-se mais intelectualizada, havia debates teológicos nos meios eclesiásticos. A heresia medieval infiltra-se nos meios sociais, reaparece as heresias antigas, como o desprezo pelos sacramentos, pelas hierarquias eclesiástica, pela cruz, casamento e pela carne. Os heréticos dos séculos XI E XII repetem uma série de princípios caros aos Bogomilos e muitas as semelhanças entre os dois movimentos do oriente e ocidente.
Da crença dos bogomilos sabe-se que eram dualistas, para eles o diabo é que tinha criado o mundo, e que Cristo não tocaria neste mundo, detestavam a cruz, não adoravam Maria, achavam inúteis os sacramentos, não respeitavam as festas, a Igreja ortodoxa era considerada falsa etc. A única oração admitida era o Pai-Nosso, renunciavam a quase todas as coisas do mundo, não comiam carne. Não tomavam vinho , desencorajavam o casamento, confessavam-se entre si, ensinavam o povo a não obedecer aos senhores, eram radicais, humildes, quietos e sombrios Cosmas os considerava hipócritas. A heresia bogomila expandiu-se no oriente principalmente no domínio bizantino. Zigabenus diz que os heréticos não acreditavam num dualismo completo. O diabo tinha sido sempre o princípio do mal. No início apenas Deus reinava sobre o universo espiritual. A Trindade existia em Deus; o filho e o Espirito Santo originava-se de Deus, com formas diferentes e que cuidariam do mundo desde sua criação até o fim, o Pai gerou o filho, e o filho gerou o Espirito Santo e este gerou os 12 apóstolos .
O diabo também era filho de Deus chamado Satanael. Satanael revoltou-se contra o pai juntamente com outros anjos, com o fracasso esses anjos rebeldes tiveram que abandonar o céu, e nesse momento o diabo criou a Terra e um segundo Céu , criou Adão e Eva a partir da água e da terra, acidentalmente um pouco de água escapou do pé direito de Adão dando origem à serpente, quando o diabo soprou o espirito em Adão, esse sopro desviou-se para a serpente, então ele pediu a ajuda de Deus, e assim Adão pertencia aos dois; do mesmo jeito originou-se Eva . A serpente seduz Eva que gera Caim e uma filha Calomena; Adão com ciúmes gera Abel e Seth. Como punição o diabo foi privado por Deus de sua forma divina e seu poder criador, mas continuou sendo dono do que criou. Mas algumas almas conseguiram chegar ao Céu e pedir ajuda para a humanidade, 5500 anos depois, Deus enviou seu filho Gabriel, como Jesus para curar os males da Terra. O filho entrou na virgem através da orelha nela encarnou e pelo mesmo lugar saiu. A virgem nada percebeu, depois ela encontrou o filho numa gruta em Belém, ele viveu, ensinou, fingiu morrer, foi até o inferno e amarrou Satã e voltou para o Pai.
Os bogomilos não aceitavam a maior parte do Velho Testamento, liam o livro dos profetas, os quatro evangelhos e os Atos dos Apóstolos, aceitavam as Epístolas e o Apocalipse; para eles Moisés era um marionete do demônio e os únicos santos para eles eram os citados na genealogia em Mateus e Lucas, e, as pessoas que tinham sido martirizadas por se recusarem a adorar imagens. A Igreja ortodoxa era atacada, as relíquias eram tidas como superstições, e os milagres eram frutos de um pacto com o demônio. Sabiam que o demônio, voava por todas as partes e que cada pessoa tinha o seu demônio particular. Para eles os demônios adoravam as cruzes, diziam que a missa e a liturgia da Igreja não tinham sido instituídas por Cristo e pelos Apóstolos, eram contra o batismo de crianças porque ela não entendem o seu significado. O bogomilismo originou-se de uma heresia antiga denominada paulicianismo . Bogomil a adaptou para os eslavos e ela espalhou-se entre os camponeses. Atacando os ideólogos e os poderosos os bogomilos transformaram suas crenças na maior religião da Europa. Não há muita certeza sobre a expansão das heresias do oriente para o ocidente e nem se sabe quem foi o responsável por essas manifestações heréticas.
Historiadores como R. Morghen, não acreditavam numa ligação entre a heresia ocidental e o oriente. Apesar de não haver documentos a respeito, deve-se levar em conta de que nessa época tudo era passado por via oral e provavelmente a transmissão das doutrinas ocorreram da mesma forma, isso porque há coincidências entre os heréticos orientais e ocidentais. Para a compreensão da heresia na Europa é a presença de uma disponibilidade de espírito para acata-la. A Europa nessa época passava por transformações, a Igreja passava pela reforma e a conscientização do povo fez com que as heresias propagasse por toda a Europa.

As heresias do século XII

No início do século XII , surgem grupos que rompem com o formalismo, seguidores de Pedro de Bruys (1120), e os adeptos de Henrique companheiro de Pedro de Bruys. O grupo de Eon de I’Etoile e seus heréticos da Bretanha, o Bando de Tanchelmo no norte da Europa; o grupo de heréticos do Perigord e outros menos documentados. Formaram-se também grupos mais dogmáticos com ligações mais precisas com o oriente e afirmavam que sua doutrina vinha dos gregos. Após a Segunda cruzada (1147), alguns franceses que estiveram em constantinopla começam a pregar erros aprendidos no oriente, formando um bispado no norte do Loire sob a direção de Roberto de Epernon.
No concílio de Reims de 1157, a Igreja ataca os heréticos e são chamados de búlgaros. Alguns historiadores consideram que a instalação da doutrina dualista no norte e sul de Loire, era uma filiação ao oriente. A Europa recebia do mundo grego e búlgaro as heresias na Segunda metade os século XII. A revolta de Arnoldo de Brescia e seus discípulos contestavam a Igreja, negavam o direito de propriedade a Santa Sé. Os passagianos e os Speromitas negavam a unidade da substância trinitária e observavam a Lei mosaica.
No final do século XII , os pobres de Lyon (valdenses) agrupam-se em nome do evangelho e da reforma. Valdès, com seus seguidores pregava a penitência sem permissão eclesiástica. O grupo de Valdès proibidos pelo arcebispo de Lyon de pregar, foram expulsos. Valdès pediu ajuda do papa mas não foi atendido e em 1184 foram excomungados no Concílio de Verona juntamente com outros grupos. Formaram-se dois grupos entre os valdenses: os franceses do Languedoc, Provença, Delfinado, que incentivaram laços com a Igreja, embora admitissem somente o evangelho como Lei religiosa. Os valdenses italianos desligaram-se da Igreja e criaram um culto especial, espalharam-se pela Europa.
A pobreza voluntária baseada nos textos de Mateus, foi utilizados por tantos homens que a Igreja os qualificou santo; é, o caso de Roberto d’Arbrissel que foi chamado pelo papa Urbano II, deixou a vida errante, montou seu grupo de discípulos e passou a respeitar a hierarquia eclesiástica tornando-se assim como santo da Igreja . Para a Igreja o que interessava era a atitude desses homens perante as doutrinas da Igreja . A grande diferença entre Valdès e Francisco de Assis; é, que Francisco de Assis se submeteu a autoridade eclesiástica. Depois de muitas conversas a cúria decidiu que quem jurasse obediência, estariam livres das acusações, os que não aceitassem eram tidos como heréticos. Estes episódios demonstram que o problema não estava no teor de suas crenças, mas sim porque não tinham a autorização da Igreja. A Igreja não quer apenas que os homens sejam seguidores de Cristo , mas que eles sejam organizados e obedientes.
A figura do eremita e a sua idealização na sociedade demonstra o poder da Igreja. A Igreja desconfiava de que o eremita escondia uma heresiarca ou um propagador da heresia, geralmente tratava-se de um laico. Independente, extremamente pobre, o que constituía um perigo aos bens materiais da Igreja. Todo aquele que não fosse ligado a um membro da Igreja era considerado transgressor.
Segundo Raul Glaber no castelo de Montforte na Itália, uma mulher estaria propagando uma heresia, ela se vestia de negro, sua doutrina tinha pontos em comum a outras heresias, negava a encarnação de Cristo e da redenção, acreditava que a salvação provinha de uma iluminação intelectual, pregava contra a Igreja, proibia as relações sexuais não comiam carne e tinham como o ideal a morte e o martírio, eram contra a riqueza. Apesar da rigidez, a heresia de Montforte atraiu tanto camponeses como nobres e pessoas cultas.
O movimento patarino, como outras heresias era urbana com raízes rurais, ela iniciou-se ao norte de Milão, estendendo-se a outras cidades, eram contra os bispos, questionavam os sacramentos ministrados por sacerdotes indignos. Aos patarinos obrigavam os clérigos simoníacos ou concubinários a abandonar suas mulheres, eram identificados por serem moralistas, o primeiro chefe desse movimento foi Anselmo de Boggio, que foi eleito pontífice com o nome de Alexandre II..


Os cátaros

O movimento herético que mais se destacou foi o dos cátaros. A parte das terras atingidas pela heresia no sul da França pertencia à província eclesiástica de Narbona. A diocese de Carcassone, foi tomada pelo catarismo, a diocese de Narbona foi atingida em sua parte ocidental. 1140 marca o início da expansão herética pelo sul, em 50 anos, a heresia conseguiu impor-se e expressar-se livremente. Em nenhuma outra região notou-se uma oposição a Igreja tão eficaz e violenta, esse movimento desencadeou-se pelas pregações do monge Henrique, o povo seduzidos por suas pregações deixavam de frequentar a Igreja e pagar os impostos. A Igreja mobilizou-se para destruir Henrique, apesar dele não ser o único responsável pela impopularidade das doutrinas ortodoxas, havia também os arianos. Quando Bernardo de Clairvaux ( depois são Bernardo ) passou por Albi, a cidade já estava mais contaminada pela heresia do que Toulouse. No seu primeiro sermão Bernado fez uma contraposição da heresia com as verdades da fé católica.
A hostilidade da nobreza em relação a Igreja era forte, o mais contaminado parecia ser o de Verfeil. No campo Bernado foi recebido com reserva, quando ele começava seus sermões as pessoas iam aos poucos abandonando as igrejas e do lado de fora faziam barulho para que não pudessem ouvir o que diziam .De volta a Clairvaux, Bernardo estava ciente de que levaria tempo para que a heresia fosse extinta, apesar de ter desmascarado os lobos que devastavam as vinhas do senhor. Henrique foi preso logo após a passagem de Bernado pelo sul. Os maiores aliados dos heréticos pareciam ser os cavaleiros que pelo ódio aos clérigos protegiam todos os que a estes atacavam. Após a partida de Bernado estava surgindo um outro movimento chefiado por Pons, discípulo de Henrique.
Em 1163, no Concílio de Tours, presidido por Alexandre foi redigido em cânon consagrado aos heréticos, nele fala-se que a heresia implantara-se na região de Toulouse e se espalhava até a Gasconha e atacaram as almas simples, contavam com a proteção de pessoas que os acolhiam em suas terras. A decisão tomada pelo Concílio era o da vigilância redobrada e a condenação daqueles que ajudassem os heréticos, proibia as relações entre os católicos e heréticos, até mesmo as de comércio e também era concedido o direito de confisco pela Igreja dos bens dos heréticos. De nada adiantou o Concílio, em 1165, houve uma grande concentração de Lambers, os hereges foram levados ao tribunal e interrogados pelos juízes, esses bons homens disseram não considerar o Velho Testamento e que seus princípios origina-se dos evangelhos e das Epístolas, baseando-se em São Paulo, disseram que o homem e a mulher são unidos para a luxuria e a fornicação, afirmaram que não fariam qualquer juramento ao tribunal e não aceitavam a autoridade dos juízes, e que os juízes eram lobos, hipócritas, sedutores e mercenários; com isso os juízes os declararam heréticos e tudo ficou como estava antes. O encontro foi importante, por ter sido o primeiro confronto em público entre católicos e cátaros.
Dois anos mais tarde houve uma reunião; com o objetivo de adotar o dualismo absoluto, os bispos cátaros presentes foram reordenados pelo papa Nicetas. Foi estabelecido os limites das dioceses cátaras de Toulouse Carcassone, isso mostra a importância numérica de cátaros na Europa. Diante desse movimento nota-se a impotência da Igreja de Roma, a fé católica é descrita como sendo um barco preste a afundar. Atração dos cátaros sobre a população, principalmente na zona rural paralisava a Igreja de Roma. O Conde Raimundo V, vendo essa situação escreveu ao abade Alexandre da ordem Cisterciense, descrevendo os efeitos sobre as pessoas, e que não acreditavam mais nos sacramentos e que ele sentia-se incapaz de conter a heresia, pois ele já não contava com o apoio da nobreza. A 21 de Setembro de 1177 O Conde e rei Luiz VII juraram um pacto de aliança contra os heréticos.
Pela primeira vez houve uma intervenção militar contra os heréticos de Toulouse. A aristocracia, os comerciantes e o povo demonstraram hostilidade aos representantes da Igreja e dos reinos. Um rico cidadão Pierre Maurand foi convocado para interrogatório acusado de heresia Maurand foi condenado a uma sessão de chicotadas para que negasse a heresia, ele teria que ir a Igreja todos os domingos descalço e devolver tudo o que tinha pego da Igrejas e destruir o lugar onde se reuniam os heréticos. O abade de Clairvaux e o bispo inglês de Albi ,foram também para a região onde deveriam convencer o visconde Rogério de Biziers a libertar o bispo de Albi, limpar suas terras da heresia e expulsar os heréticos; mas o visconde escondeu-se.
Nessa mesma época, instalava-se o Concílio de Latrão, no dia 5 de março de 1179. O cânon 27 do concílio ataca os heréticos: cátaros, patarinos, publicanos, e pedem aos príncipes para que defendam a fé cristã . A Segunda parte do cânon era relacionada aos bandidos, mercenários que desrespeitavam igrejas, maltratavam crianças, viuvas e órfãos, esses mercenários tinham o apoio da nobreza. Esses nobres e seus mercenários deveriam sofrer os mesmos castigos dos heréticos, seus vassalos não deveriam mais nenhuma obrigação para com eles, todos os que ajudassem a combater as heresias gozariam de indulgências.
Esses apelos da Santa Sé não encontraram eco em Languedoc e Barcelona; bandos de mercenários infestaram o Languedoc matando, pilhando e queimando. A Igreja passou a atacar a heresia através de uma de suas praça-fortes, com a ajuda do conde de Toulous. Dois heresiarcas em Lavaur converteram-se a boa fé mas apesar desse êxito, a heresia continuava a fazer adeptos, em outubro de 1187 com a queda de Jerusalém, que passa às mãos dos infiéis, a heresia no sul da França foi esquecida pela Igreja e Somente em 1198 o papa Inocêncio III enviou novos legados à província de Narbona.
A heresia era forte também nos condados de Foix, Mirepoixe Pamiers, em várias famílias a heresia passava de geração em geração. A expansão da heresia deu-se em razão de vários fatos de diferentes ordens, e sua aceitação foi rápida e grande, devido aos seus pregadores trabalharem com instrumentos conhecidos de seus ouvintes. A semelhança entre heresia e ortodoxia não é apenas na forma de divulgação empregada ou no tema, mas na estruturação das igrejas heréticas, vários heréticos tinham sido padres ou monges portanto já tinham vivido dentro das hierarquias romanas, a igreja cátara aos poucos acabou organizando-se como a católica. Havia a existência de vários elementos de doutrinas e mistura no pensamento cristão, principalmente no apogeu das heresias, havia no mundo cátaro; esposa valdense, filho católico e filha patarina, também tinha pessoas católicas e cátaros ao mesmo tempo.

As doutrinas heréticas

Em 1125, um camponês de Bucy, de nome Clementius ,que possuía um grupo ao qual ensinava que Cristo era apenas uma fantasia, o altar era a boca do inferno, os mistérios da missa não tinham valor, o casamento e a procriação eram crimes. Segundo o cronista Guibert de Nogent, seus discípulos viviam com pessoas do mesmo sexo, mas havia ocasiões em que participavam de orgias e as crianças que nasciam dessas relações eram queimadas, e com suas cinzas preparavam pão para a comunhão.
Eon de I’Etoile, que pregava nas cercanias de Saint-Malo fazia reuniões secretas nas florestas de Broceliande , julgava-se messias que tinha vindo para julgar os vivos e os mortos, seus discípulos eram considerados anjos, a seus seguidores era permitido qualquer alimentação, desde que se alimentassem também de comida espiritual. Eon vivia confortavelmente com o dinheiro que recolhia de seus seguidores. Tanto Eon quanto Clementius morreram na prisão, esses heresiarcas eram antimaterialistas, condenavam o casamento e a riqueza, e como eram na maioria das vezes ignorantes certamente aprenderam essas doutrinas através de contatos com missionários do oriente ou pregações de tecelões relacionados como missões heréticas.
Em 1157, o arcebispo queixou-se que o maniqueísmo espalhara-se em sua diocese pela boca de tecelões intinerantes, estes condenavam o casamento e incitavam a promiscuidade sexual. Na Alemanha, o abade Schoenau escreveu um tratado contra os cátaros, e promoveu em 1163 a queima de vários em Colônia. Um ano antes, o imperador Henrique III enforcou muitos maniqueus na mesma cidade. Em 1160, na Inglaterra um certo Geraldo e mais trinta pessoas foram condenados, tiveram suas cabeças marcadas a ferro quente. Um grupo de heréticos condenados em Vézèlay, em 1167 denominados publicanos, segundo a Igreja negavam os sacramentos, o sinal-da-cruz, a água benta, o casamento, o sacerdócio; sete deles foram queimados. Segundo o historiador Runciman, a origem desses heréticos flamengos e borguinhões estava ligada ao oriente. Os paulinianos de constantinopla seriam responsáveis pelo trabalho missionário; e constituíam uma ramificação da Igreja de bogomila.
No concílio de Saint-Felix de Caraman no Languedoc o papa Nicetas induziu os heréticos a adotar um dualismo absoluto ao invés do maniquísmo . Essa idéia no primeiro milênio a. C, pode ser encontrada nas religiões tanto na China como na Índia. No Irã por volta de 1000 anos a .C Zaratustra evidencia a existência de dois mundos. Segundo ele o homem poderia escolher entre o bem e mal, tendo que arcar com as consequências após a morte. Alguns historiadores negam as relações entre os ensinamentos de Zaratustra e o maniquísmo.
Na Grécia, os adeptos de Dionísio pregavam sobre o mal eminente ao corpo, exortavam a libertação da alma pela meditação; Platão pensava na alma perdida que se afastou do mundo luminoso do espírito , que se exila na matéria inferior de onde quer escapar para voltar para o Céu. No movimento gnóstico, essas idéias era fundamentais, o conhecimento representa uma iniciação nas verdades maiores da religião, as comunidades gnósticas reuniam sábios e eruditos com crença comum da renúncia ao mundo e marca os cristãos nos primeiros séculos do cristianismo profundamente.

HISTORIA DA INQUISIÇÃO

Nadir Costa


Introdução

Poucos termos passaram ao uso comum com a opinião sinistra quanto enganosa como Inquisição, que se tornou sinônimo de hipocrisia, sadismo e fanatismo. Para o imaginário atual, a inquisição foi apenas um tribunal de padres mal intencionados que queimavam gente. Por outro lado, colocar semelhante reparaç1ao não significa restabelecer a Inquisição, mas retomar eventos significativos para a análise histórica, descartando as visões redutoras que podem seduzir os que buscam na história um espetáculo.
O primeiro problema é: como se formou a historiografia sobre a Inquisição? quem escreveu sobre ela? O que está por trás das posições assumidas? Quando a Europa burguesa emergiu dos escombros do universo feudal, apareceu toda uma literatura que pintou a Inquisição com as piores cores possíveis. Era natural, já que o Tribunal do Santo Ofício tinha sido uma estrutura sólida do Antigo regime. O certo é que a historiografia só se ocupou da Inquisição a partir do século XIX, embora já se tivesse escrito anteriormente sobre o tema
Atualmente, parece claro que os que escrevem sobre a Inquisição acabam, marcados pelas questões contemporâneas. Certos autores ,têm minimizado ao alcance da repressão inquisitorial terminam se colocando a serviço de forças que desmentem a imparcealidade alardeada. Admitir que imparcialidade é inviável não significa dizer que é impraticável contar a verdadeira história da Inquisição. Uma verdadeira história da Inquisição implica contemplar todas as variáveis possíveis e aceitar-se como uma história posicionada a partir de um determinado enfoque metodológico. Em seu tempo, a Inquisição cumpriu um papel político .
Antes de buscar exemplos historiográficos, é interessante referir um episódio ocorrido no Brasil, durante o governo Geisel (1974 079), apesar da censura, foi exibido, um filme de Giuliano Montaldo Intitulado Giordano Bruno. Tratava-se de um filme com importantes implicações políticas para os dias de hoje, embora a ação transcorra no séc .XVI. O vilão do filme é a Inquisição e o espectador medianamente informado e o pior informado saía desse filme com a imagem mais negativa possível da Igreja. O filme, involuntariamente , talvez tenha auxiliado os setores conservadores, dado o contexto brasileiro de então . Seguramente houve muita gente que restringiu-se a apreender os aspectos evidentes e deixou o cinema com sentimentos rancorosos para com a Inquisição e para com a Igreja - toda a Igreja , em qualquer lugar e época.
Dois livros serão analisados como exemplos de diferentes abordagens da Inquisição . No primeiro o enfoque político é ostensivamente assumida. No segundo ela é percebida sob a camuflagem fornecida por um discurso aparentemente neutro e imparcial. Trata-se respectivamente , de História da Inquisição , de Iossif Grigulevich ( Editorial Caminho, Lisboa), e A Inquisição , de Guy e Jean Testas (Difel, São Paulo).
Grigulevich , começa dizendo que, via história da Inquisição, deseja mostrar que a opressão e a intolerância são necessidades permanentes à dominação da classe. Historiador soviético formado na fase pré- Perestroika, Grigulevich está alinhado com uma visão marxista e, em função disso, associa a perseguição religiosa a heréticos do passado à perseguição religiosa aos comunistas da atualidade. O autor tece críticas contundentes à hierarquia da Vaticano em especial, face ao papel desempenhado pelo anticomunismo da cúria romana nos tempos da guerra fria.
O modo como Grigulevich e Guy e Jean Testas valorizam as bibliografias que atenuam ou agravam o papel da Inquisição é sintomático das forças que atuam por trás desses autores. Grigulevich compara os autores que buscam reabilitara Inquisição aos que se esforçaram por justificar e / ou minimizar o nazismo. Guy e Jean Testas adotam a postura cautelosa de evitar a condenação a priori da Inquisição. Grigulevich denuncia a aparente imparcialidade como mero sofisma, registrando as arbitrariedades da Inquisição para reforçar a credibilidade da posição adotada, quando atenua os males que ela causou. Ele cita o caso do abade francês Vacandard, que em sua história crítica da Inquisição declara que as responsabilidades daquele tribunal e da Igreja em geral não pode ser minimizadas, mas acentua que os meios empregados foram concordes com os tempos e eficazes para defender o catolicismo.
Guy e Jean Testas atenuam as condições carcerárias das vítimas da Inquisição , apoiado-se em Miguel de la Pinta Liorente ,que também utilizam paracontra-argumentar na questão de quantos a Inquisição matou na fogueira. Para Grigulevich, Miguel de la Pinta Liorente é apenas um apologista do tribunal, não sendo, pois uma fonte confiável ele critica também Vicente Palácio Atard, por Ter colocado a Inquisição acima do bem e do mal ao por seus defeitos na conta da falibilidade humana, e o americano William Thomas Walsh, tido como mero advogado da Inquisição
Juan Antonio Liorente, ex-secretário da Inquisição espanhola e tendo acesso a documentos, escreveu sua história crítica da Inquisição na Espanha, o texto prova, segundo Grigulevich , as atrocidades da Inquisição naquele país. A obra data de 1817. Em 1888 , o americano Henry Charles Le a escreveu história da Inquisição na Idade Média, outro texto enaltecido por Grigulevich pela riqueza das fontes utilizadas e por ser um severo golpe nos paladinos da Inquisição .
Guy e Jean Testas suspeitam dos números de Juan Antonio Liorente acerca de quantas foram as vítimas da Inquisição espanhola. Grigulevich observa que Liorente fornece algarismos gerais pela falta de documentação mais detalhada, ele é da opinião de que nem os dados mais completos mais completos poderiam dar a verdadeira dimensão da opressão e da crueldade representadas pela Inquisição na história européia .
Guy e Jean Testas destacam que a Inquisição espanhola fez menos vítimas que às caças às bruxas na Alemanha ou na Inglaterra ou que o terror na Revolução Francesa. Os dois autores falam em situar a Inquisição em sua época para minimizar o alcance do que ela fez, mas esquecem completamente o contexto histórico da Revolução Francesa para ficar apenas com os números do terror, mesmo que ambos tenham tido em comum o conteúdo da irracionalidade e o caráter de espetáculo. A Inquisição precisou do terror para evitar as transformações e o aplicou de um modo calculada e deliberadamente mais organizado e violento do que a Revolução Francesa.
As divergências entre Grigulevich e Guy e Jean Testas são muitas. Grigulevich , arrola argumentos para mostrar como a Inquisição paralisou a evolução do pensamento da Espanha, Guy Jean Testas defendem que aquela foi a fase áurea da literatura espanhola( Lope de Veja, Cervantes, Calderón de la Barca ), Transcrevem Menéndez y Pelayo para mostrar que na Espanha da Inquisição, floresceram o ensino e a pesquisa e que os textos de Copérnico, Campanella, Bruno, Galileu, Espinoza e Newton nunca foram proibidos. Grigulevich, afirma que Menéndez y Pelayo era apologista da Inquisição.
Sem deixarem de reconhecer os suplícios impostos pela Inquisição, os dois autores observam, que o estabelecimento daquele tribunal foi produto de uma longa evolução que teve de se dobrar a numerosos imperativos .Grigulevich, vendo a Inquisição como instrumento repressivo de um sistema de poder, dentro de uma formação econômico-social feudal, não admite separar responsabilidades eclesiástica e políticas naquele contexto.
Guy e Jean Testas destacam o papel que o papa Honório III deu aos dominicanos no exercício da tarefa inquisitorial, frisam que os dominicanos e também os franciscanos, “estavam preparados para esta tarefa e poderiam associar à sua ação à prédica, a fim de despertar os arrependimento e a devoção”. Intencionalmente, os autores mencionam ocasiões em que os dominicanos foram assassinados no exercício de suas funções. Grigulevich, prefere esmiuçar a repressão inquisitorial, e destaca os santos da Igreja que pregaram o extermínio físico dos hereges: S. João, S. Pedro, S. Agostinho, S. Bernado – Assunto que Guy e Jean Testas não tocam. Grigulevich, citando Bertrand Russell, qualifica-o de fanático desalmado.
Grigulevich diz que a Inquisição surgiu para combater a heresia enquanto ameaça à dominação vigente, Guy e Jean Testas dizem que ela nasceu para enfrentar “os perigos que ameaçavam a Igreja e para extirpar um “mal tão profundo” que “roía a Cristandade”. Grigulevich dizia que a heresia foi a resposta ao verdadeiro mal, um sistema social injusto e opressor que se juntava a uma hierarquia eclesiástica onipotente e venal. Guy e Jean Testas mostram os albigenses como Heréticos agitadores. Grigulevich os vê como seita dissidente e contestatória.
Guy e Jean Testas dizem que S. Domingos lutou para evangelizar o Languedoc, “vivendo na miséria”. Grigulevich afirma que ele buscou, astuciosamente, adotar uma estratégia de mimetismo na região. Guy e Jean Testas entendem a crueldade inquisitorial como abuso eventual e produto de circunstâncias específicas e singulares, para eles, a Inquisição nasceu para combater os desvios da fé católica; Grigulevich vê no mesmo fato, um exercício sádico de um suposto direito de reprimir, reforçado pela impunidade e marcado pela arbitrariedade indiscriminada. .
Ao se referirem ao IV Concílio da Latrão (1215), Guy e Jean Testas dizem que ele resultou do fato de o papa Inocêncio III ter ficado horrorizado com os abusos na repressão as albigenses. Na visão de Grigulevich, temos um indivíduo repressor, ávido de poder e intolerante. O mesmo Concílio é analisado minuciosamente como a institucionalização da arbitrariedade e da repressão.Guy e Jean Testas observam que com a expulsão dos judeus da Espanha, eles foram para Portugal, criando um problema demográfico para o país adotivo, pelo que o rei D. João II limitou a 600 o número de famílias que poderiam entrar. Acrescentamos dois autores que o fanatismo dos católicos portugueses produziu tamanho massacre de judeus em Lisboa. A conclusão de que foi bom implantara Inquisição em Portugal, pois isto impediu que se repetissem as nefastas manifestações de histeria coletiva antijudaica.
Grigulevich diz que D. João II permitiu que os judeus ficassem em Portugal porque eles pagavam oito cruzados de ouro por cabeça para ter esse direito, dinheiro que o rei usava para custear suas guerras na África. E Grigulevich apresenta ainda razões completamente diferentes para explicara posterior instalação da Inquisição por D. João II : ela não se destinaria a solucionar o problema do incontrolável fanatismo popular, mas seria uma concessão às pressões da Espanha.
Guy e Jean Testas , ao concluírem sua análise da Inquisição espanhola, duvidam de que ela tenha favorecido a disseminação da covardia, naquele país, pois a Espanha, dizem , produziu Cortez, Pizarro, S. Tereza de Ávila e Cervantes.
Os dois referidos autores insistem de que a Inquisição poupou à Espanha os horrores das guerras religiosas.
Ao longo dessa breve comparação entre diferentes modos de enfocar a Inquisição, tornou-se claro que Grigulevich parte para uma visão teórica que faz com que o célebre tribunal seja visto dentro do contexto de conflitos sociais e políticos da época. Guy e Jean Testas usam o contexto como desculpa para o que consideram desvios das finalidades originais da Inquisição. Grigulevich, por sua parte, como foi visto, não separa as responsabilidades da Inquisição e as da Igreja, visto que asa considera componentes orgânicos de um mesmo sistema de poder e dominação.
Entendido assim, o comportamento da Inquisição foi necessário aos interesses globais a que serviu.
Guy e Jean Testas assumem uma postura ostensiva de neutralidade, encontram motivos para atenuar a violência inquisitorial, sem deixar de reconhecê-la. Por quererem ver a Inquisição historicamente, concluem que devem interpreta-la com os olhos da época em que existiu, eles dizem que a Inquisição é produto do contexto histórico, mas analisam , valendo-se de uma generalização que oculta os interesses de classe nos quais se inscreveu a atuação inquisitorial. Não é função do historiador meramente reproduzir o modo como o passado se viu a si próprio, mas detectar, por trás dos fatos e discursos, os conflitos sociais em jogo e construir, tão objetivamente quanto possível, um conhecimento adequado de uma determinada situação. Guy e Jean Testas invocam uma história, mas se afastam daquilo que ela tem de concreto
Eles dizem que a Inquisição surgiu para combater uma heresia, e aceitam o termo sem discuti-lo. Não buscam a motivação social do que rotulam como heresia., teriam de partir de uma linha de análise diferente , aquela que os levaria a se posicionar perante o problema da Inquisição e então passariam a percebê-la como parte integrante de um sistema de poder teocrático-feudal e instrumento necessário de dominação. Guy e Jean Testas terminam aderindo a uma bibliografia conservadora e simpática à Inquisição, num esforço de combater os que a condenam. O problema dos dois autores é que desembocam no beco-sem-saída de uma alternativa intelectual anódina, do que resultou um livro utilizável em nível de resumo informativo, mas que em nada auxilia o desenvolvimento de uma consci6encia crítica.
Fica evidente que este trabalho adotará uma linha de análise análoga à de Grigulevich, ou seja um a interpretação à esquerda, tentando contemplar as múltiplas peculiaridades daquele tribunal, que também fascina por certas incoerências e contradições que marcam sua história. A bibliografia utilizada é eclética e, como opção crítica pretende descartar tanto a neutralidade enganosa quanto o dogmatismo estéril. O resultado final do corte histórico será uma breve síntese.


Inquisição e heresia

A origens da inquisição estão ligadas ao momento histórico em que a Igreja se tornou poder e parte de um sistema institucionalizado de dominação feudal. A Igreja foi solidificando sua supremacia, impondo a unidade ritual e buscando unir, nem todo homogêneo, as diversidades religiosas locais.

A questão da arte

O estudo da arte no período oferece interessantes recursos a tais reflexões. A imposição do canto gregoriano foi parte da estratégia de unificação ritual. O estilo romântico expressou a disciplina rigorosa ,cujos ideais de vida penetravam a sociedade civil e cujas atividades assumiram importantes papel após a desunião do Império Romano. O cristianismo prospera-se no início entre os pobres, fornecendo conforto espiritual e diminuindo a desilusão diante do fracasso das revoluções sociais. À medida que a Igreja se tornou poder, ela se afastou de suas origens e se identificou com o universo feudal. O sacerdote passou a rezar a missa de costas para o fiéis, o altar ficou mais distante, as cerimônias adquiriram maior solenidade.
No imaginário social, a figura do sacerdote adquiriu respeitabilidade em relação diretamente proporcional à aura de mistério que passou a cercar a sua atividade, exercida num palco destinado a funcionar como réplica visível do paraíso invisível, espaço sagrado - o altar. O gótico valorizou ao máximo o altar, tornando-o mais distante e elevado possível. O latim, língua do saber e do sagrado, passou a ser visto como modo do sacerdote se comunicar com a divindade como só ele sabia o latim, isto lhe conferiu importante exclusividade e o conjunto dos rituais se tornou aparato de poder.
A esse poder se ligou a uma concepção do mundo. Numa sociedade feudal que limitava as possibilidade de escolhas sociais, armada de uma doutrina a Igreja enrijeceu suas posições para defender a dominação, e a doutrina iliminou a possibilidade de escolhas espirituais. Transformando-se em norma, a doutrina fez da escolha uma transgressão. Colocada acima da vontade individual, a doutrina não poderia conviver com a escolha.

O desafio das heresias

A palavra heresia significa ,escolher, preferir. Ao longo de todo o período em que a Igreja exerceu sua dominação, a palavra adquiriu um sentido polissêmico , múltiplo ,tudo o que contrariava o pensamento eclesiástico passou a levar esse rótulo. No período medieval, os protestos contra as injustiças da ordem vigente vieram muitas vezes revestidos do discurso de contestação religiosa. O fato de o papa Gregório IX Ter proibido a leitura da Bíblia aos fiéis é uma dado sintomático – livremente lida, sem a cobertura da Igreja, ela a poderia Ter uma interpretação subversiva e, portanto herética. As heresias religiosas representaram o nascimento das primeiras e importantes minorias dissidentes no Ocidente europeu.
Posteriormente, quando a repressão às heresias se organizou em tribunais inquisitoriais, a Igreja pôde, ideologicamente, apropriar-se dos primeiros escritos cristãos para justificar as suas atitudes. No evangelho de S. João, Cristo disse que aquilo que não permanecesse nele ser ai arremessado fora e lançado ao fogo para arder. S. Agostinho afirma que a Bíblia recomenda o castigo da esposa infiel, tanto mais justo é castigar o que renega a Igreja. Os hereges matam a alma dos homens, as autoridades matam apenas os corpos. S. Jerônimo, argumentou que nem os maiores excesso deveriam ser considerados crueldade se fossem para a defesa de Deus e só pela morte poderia o pecador atingira salvação espiritual. A visão dos vencidos na disputa pela definição do dogma, dos derrotados na guerra teológica ocorrida numa época que as verdades da Igreja ainda não tinha se cristalizado.
As primeiras heresias importantes surgiram no Oriente região onde a demanda religiosas multiplicavam-se rapidamente . Constantino iniciou a tradição da intervenções do Estado na Igreja, herdada depois do Império Bizantino. Entre os primeiros heréticos estão os gnósticos; que pretendiam a união do cristianismo cm seitas místicas de origem helênica; os montanistas ; que defendiam as tradições ascéticas e igualitárias dos primeiros cristãos, os donatistas; que defendiam um novo batizado para os apóstatas, os arianos; que diziam se Cristo semelhante mas não igual a Deus, os nestorianos; que afirmavam Ter o filho de Deus se unido a um homem comum, Jesus e os pelagianos; que afirmavam poderem os crentes se salvar, prescindindo da Igreja.
A partir de determinado momento, a oposição ao feudalismo e à Igreja confluíram inevitavelmente para desencadear as heresias. O discurso herético contra a opressão e a corrupção da Igreja fortaleceu-se ao incluir a pregação moralizadora. Para os hereges , a opressão da Igreja se reforçava com a abjeção e a hipocrisia do alto clero. Transformar a heresia simplesmente num insulto à fé foi a maneira mais fácil e conveniente de colocá-la à margem da sociedade e legitimar a repressão. As heresias não nasceram por oposição à Igreja, mas dentro da religião.
Tal com S. Domingos, que, revestido da pobreza e da humildade dos Evangelhos, procurou atrair uma população seduzida pela pregação albigense, de modo a fazê-la retornará obediência ao Vaticano. A Igreja não poderia simplesmente condenar todos os movimentos que na Baixa Idade Média, clamaram por uma religião voltada ao povo e reformada em seus costumes. Aceitou aqueles que poderia aceitar e os utilizou com antídoto para sua defesa.
Percebe-se como eram de pouca importância reformar a Igreja por dentro querer mudar-lhes os costumes sem romper com ela, e rebela-se abertamente contra a estrutura teológico-feudal. Por outro lado, é compreensível o motivo que fez o papado a incentivar as cruzadas para reaver a Terra Santa. Elas foram uma forma de o Vaticano propagandear o seu papel unificador da cristandade, canalizar as revoltas e a solução de problemas sociais para a guerra contra os turcos. E ao mesmo Tempo,eram alimento à belicosidade feudal.

As principais heresias

As heresias surgiram em várias regiões, e, uma das primeiras foi a dos valdenses, criada por Pedro de Vaux; sua doutrina exigia o retorna à pobreza evangélica, negava o purgatório e o papel dos sacerdotes como mediadores entre Deus e os homens, exigia a tradução da Bíblia e condenava as indulgências, eles foram condenados pelos concílios de Verona e de Toulouse, pelos papas Lúcio III, Inocêncio III e Bento XII até por reis, como Francisco I da França. Apesar de tudo os valdenses conseguiram sobreviver. Livres da perseguições desde 1848,ainda subsistem em certas regiões da Itália.
Nessa mesma época, disseminou-se a famosa peste negra que se alastrou-se rápida, produzindo perplexidade, desespero, desolação, devastação, crise econômica e vazios demográficos. Esta peste atacou mais os pobres do que os ricos, embora até reis, como Afonso XI, de Castela. A peste negra foi um flagelo sem resposta.
A primeira importante heresia do séc. XIV foi a dos dolcinistas seguiam a mesma doutrina dos apostólicos de Sagarelli, clamavam pelo à pureza do cristianismo primitivo, defendiam a pobreza e a castidade, recusavam a hierarquia eclesiástica. Foram cruelmente perseguidos pelo papa Clemente V. Um caso de heresia que foi até o extremo na crítica à moral da Igreja de Avignin foi a dos irmãos do Livre Espírito, divulgada por Margarida Porete, Jeanne Dabenton, Katrei e Bloemardine. Defendiam o confisco dos bens, a promiscuidade e o nudismo e afirmavam que não ter bens era não ter pecado. A seita foi perseguida pela Igreja, a partir de1372.
Com o aparecimento dos albigenses, a situação se alterou, já que os bispos locais se revelaram impotentes para combatê-lo, o que chamou atenção do Vaticano. Em geral afirma-se que a Inquisição foi criada pela necessidade de lutar contra os albigenses que se alastravam pela Europa. A heresia se dessiminou na mesma época em que o papado assumiu o caráter de monarquia absoluta, a primeira da Europa e munida de uma ideologia transnacional.
Quando a Igreja definiu o seu perfil de Estado centralizado que surgiu a Inquisição – foi a centralização da justiça religiosa como decorrência da centralização do poder do papa.
Os cátaros ou albigenses, obtiveram apoio em diversos setores da sociedade, a massa popular e nobres. originários do sul da França , sofriam influências doutrinárias orientais, diziam-se perfeitos e crentes, os crentes tinha direito de Ter prosperidade e família. A doutrina deles baseava-se no maniqueísmo absoluto e exigia a integral aplicação do Sermão da Montanha. Afirmavam a existência de uma luta permanente entre o bem e o mal, identificavam como mal tudo o que se relacionava com o copo como o casamento e o prazer matrimonial. O corpo para eles era uma prisão da alma; clamavam pela castidade e repeliam a autoridade do papa, o culto de imagens e os sacramentos; condenavam a riqueza.
A cruzada contra os albigenses foi pregada pelo papa Inocêncio III, ele enviou emissários autorizados a organizar a repressão à heresia com i uma instrução de usar a espada de ferro caso falhasse a espada espiritual da excomunhão.. Por Ter excomungado o conde Raimundo VI de Toulouse, Pedro de Castelnau acabou assassinado . A resposta do papa foi fulminante: exortou à formação de uma cruzada contra a heresia, desligou a população do juramento de fidelidade ao conde, confiscou suas terras e afirmou que os hereges deveriam ser tratados sem piedade. O resultado foi um exército de mercenários, comandados por Simon de Montfort que atacou o Languedoc e Raimundo VI perante a Igreja.
Arnoldo Amalric, declarou que caberia a Deus distinguir, dentre as vítimas, os que eram católicos e os que eram hereges . Os conde de Toulouse perderam seus bens.
Em 12l2, reuniu-se o IV Concílio de Latrão, que aprovou um decreto contra as heresias, que veio a servir de base jurídica para o estabelecimento da Inquisição, o decreto desligava os vassalos da obediência aos senhores vacilantes em seu zelo católico, proibia o conforto espiritual a suspeitos de heresia , ordenava o confisco dos bens dos heréticos e os entregava às autoridades competentes para sofrerem o castigo merecido. No ano seguinte ao Concílio , instituiu-se a ordem da medicante dos pregadores de S. Domingos. Eles aceitaram fazer um jogo de palavras com seu nome, pretendiam não só pregar a fé católica mas também morder em sua defesa. Atuaram igualmente nas nascentes universidades e viriam a ser os futuros inquisidores.
Na mesma ocasião, o imperador do Sacro-Império , Frederico II, também decidiu pactuar com a Igreja: duas vezes excomungado pelo papa Gregório IX, tido como cético e autor de um panfleto anti-religioso, Frederico II estabeleceu a pena de morte na fogueira para os hereges e aliou-se a Luiz IX na defesa do catolicismo. Amadurecia, pois aos poucos a idéias de um tribunal organizado no combate às dissidências religiosas.. Em 1231, reafirmando a excomunhão dos hereges, o papa Gregório IX promulgou um édito. No mesmo ano, o governador de Roma em nome do papa, Annibale, designou inquisidores especiais para perseguir e julgar os inimigos da fé da cidade.
Em 1252, uma bula do papa Inocêncio IV completou o processo de institucionalização da Inquisição como tribunal. Nas dioceses seriam criadas comissões especiais para combater a heresia, incluindo inquisidores nomeados pelo papa, doze fiéis insuspeitos, o bispo local, dois notários e outro funcionários menores. A tortura aplicada não só aos acusados, mas também aos que acobertassem. As populações da aldeias e cidades seriam responsabilizadas caso não cooperassem.
Em Milão, o inquisidor enviado pelo papa, Pedro de Verona, foi morto devido à crueldade implacável das perseguições que empreendeu, o que não impediu que ele viesse a ser santificado. Parma se revoltou contra os dominicanos inquisidores que levaram à fogueira duas mulheres da nobreza, a Igreja não afrouxou a perseguição. A igreja multiplicava os esforços para disciplinar e uniformizar as regras do processo inquisitorial, o que pode ser exemplificado nos concílios de Narbonne e Béziers, e no manual escrito por Bernado Gui.

O processo inquisitorial

Um processo inquisitorial era longo, tortuoso, complicado; convidava-se o herege ou quem tivesse cometido um crime correlato a arrepender-se num prazo que variava de quinze dias a um mêses, sujeito a pequenas punições. Findo o prazo e não havendo o arrependimento, vinham a excomunhão que podia ser provisória ou definitiva, a prisão e o interrogatório.
A norma comum para iniciar um processo inquisitorial era o culpado se apresentar espontaneamente ou ser preso em virtude de denúncia. O anonimato do denunciante era preservado. Para condenação, exigiam-se no mínimo, duas testemunhas. Entretanto, o ideal era a confissão de culpa. A tortura como parte do processo inquisitorial foi regulamentada pelos papas Inocêncio IV , Alexandre IV e Clemente V. E preciso lembrar que a tortura era parte integrante de qualquer processo judiciário no período
A Igreja fez da punição da heresia um ritual destinado a exibir a majestade do seu poder ou a magnitude da sua piedade. A cerimônia pública. O auto-de-fé ocorria geralmente aos domingos. A peregrinação tinha que ser iniciada no prazo de três meses após a condenação e os sentenciados precisavam comprovar que a tinham realizado. Quanto `destruição das casas dos hereges, a inquisição preferia destruir seus locais de reunião. Os condenados à morte e à prisão tinham os bens automaticamente confiscados. A pena mais grave era a morte.

Santo Tomás de Aquino, teólogo da Inquisição

Com respeito à heresia, as punições de S. Tomás foram claras: uma vez aceita a Igreja por uma livre decisão do católico, este perdia o direito de contestá-la ou abandona-la. Segundo S. Tomás, se um herege persiste no erro, apesar das exortações religiosas, deve ser excomungado , privado da vida eterna, morto e privado da vida eterna. S, Tomás explicou por que Deus permitia o surgimento das heresias da seguinte maneira: a existência do mal é uma necessidade para se poder distinguir o bem, sendo que a extirpação do mal reforça o bem. Ainda segundo S. Tomás, era justa a execução do herege relapso, pois comprovando não ser constante em sua fé constante, ele poderia, no convívio com outros cristãos, infectá-los som sua heresia.
Defendendo a punição, mostrando a necessidade de intolerância e explicando o pecado, S. Tomás de A quino foi não apenas o mais completo ideólogo da Inquisição que se institucionalizava como também o pensador que melhor formulou as justificativas intelectuais de um Estado Teocrático- absolutista que então se estruturava e buscava firmar a sua autoridade centralizadora numa Europa repartida em feudos rivais e com monarcas politicamente quase impotentes.
Inquisição é um termo que na língua portuguesa, é usado comumente como: maldade, fanatismo, violência, obscurantismo e ignorância. para pessoas um pouco mais informadas, a Inquisição foi um tribunal de padres violentos e mal intencionados, criado na Espanha com o objetivo de defender o catolicismo.
Estas concepções não deixam de se justificar até certo ponto que esta instituição católica aplicou métodos que hoje repugnam à consciência de pessoas civilizadas.
Historicamente, a Inquisição não pode ser vista de forma tão simplificada e unilateral . mesmo não pretendendo reabilitar uma instituição que foi precursora de órgãos largamente adotados pelos Estados totalitários modernos, é preciso descartar as visões reducionistas e simplistas, aprofundando o tema.


LOPEZ,Luis Roberto – História da Inquisição. Porto Alegre. Mercado Aberto,1993.

A REVOLUÇÃO SOCIAL 1945-90

Nadir Costa





No século XX o mundo o entrou numa transformação rápida e universal que a história humana já viveu . Para se notar essas transformações levou-se algum tempo. Para a 80% da humanidade , a Idade Média acabou em meados da década de 1950, mas percebeu-se que ela acabou na década de 1960. Os que viveram essas transformações não perceberam toda a sua extensão, porque essas transformações era gradativa e por mais dramáticas que sejam, não são concebidas como revoluções permanentes.

A mudança social que mais marcou a Segunda metade deste século foi a morte do campesinato, com exceção da Grã-Bretanha que a maioria da população empregada era de agricultores e camponeses.

No início da década de 1980, menos de três em cada cem britânicos ou belgas estavam na agricultura. Nos EUA a população agrícola também declinou em idêntica proporção. No Japão, os camponeses foram reduzidos de 52,4% da população em 1994 a 9% em 1985.

Com essas estatísticas ficou comprovado a previsão de Marx de que a industrialização acabaria com o campesinato. Enquanto a maioria camponesa diminuía em vários países, na Europa agrária ainda aravam a terra. Mas na década de 1980 só u bastião de camponeses restava na Europa e no Oriente Médio ou seus arredores. Apenas três regiões permaneceram dominadas por aldeias e campos: África subsaariana, o sul e o sudeste da Ásia continental e a China. Nessas regiões os camponeses representavam a metade da raça humana no fim do nosso período. Porém já desmoronavam pela bordas sob as pressões do desenvolvimento econômico.

O progresso agrícola ocasionou o êxodo do campo na maior parte do mundo, os países desenvolvidos transformaram em grandes produtores agrícolas para o mercado mundial, o aspecto mais visível era a quantidade de máquinas utilizadas e a disposição dos agricultores de países ricos, e menos visível mas significativa era a Química agrícola que era utilizadas. Não mais se precisava de grande números e mãos de obras para se colher uma safra.

Nas regiões pobres do mundo a revolução agrícola também foi notada embora fosse em menor escala. Nos países do Terceiro Mundo e partes do Segundo Mundo não mais alimentavam a si mesmos, e muitos menos produziam os grandes excedentes exportáveis de alimentos que se poderia esperar de países agrários. As regiões das quais os camponeses saíam em massa eram muitas vezes, pouco povoadas e cultivadas, e tinham fronteiras abertas para as quais uma pequena proporção dos compatriotas migrava como posseiros e colonos livres.

O mundo da Segunda metade do século XX tornou-se urbanizado, em meados da década de 1980, 42% da população era urbana, se não fosse o peso das enormes populações rurais da China e Índia, que equivale três quartos de camponeses asiáticos. A “cidade grande” tornou-se uma região de assentamentos, em geral concentrados numa área ou áreas centrais de comércio ou administração. A partir da década de 1960 houve uma revolução no transporte público, e, novos meios de transporte suburbanos foram construídos ao mesmo tempo. Contudo na cidade do Terceiro Mundo o sistema de transporte eram absoletos e inadequados, mesmos sendo utilizado por 10 a 20 milhões de habitantes que gastavam várias horas de viagem por dia para irem trabalhar.











No fim da década de 1980 os governos ofereciam à população a alfabetização básica, e, só os estados mais honestos admitiam ter até metade de sua população analfabeta, na África admitiam que menos de 20% de sua população sabia ler e escrever. A alfabetização progrediu, apenas nos países comunistas eram admitidos que haviam liquidado o analfabetismo num tempo bem curto. A alfabetização em massa gerou uma demanda para a educação secundária e superior.

Na década de 1960 os estudantes tinham costituído, social e políticamente, uma força que jamais haviam sido.Pois em 1968 as explosões de radicalismo estudantil em todo o mundo falaram mais alto que as estatísticas. À primeira vista nota-se que a corrida as universidades nos países socialistas fora bem menos acentuadas.

Supreendentemente o crescimento da educação superior, no início da década 1950 produziu 100 mil professores no nível universitários causada pela pressão dos consumidores, apesar dos governos socialistas não estarem preparados. Para conquistar um status e uma renda melhor, as famílias corriam a pôr os filhos nas universidades. A grande explosão mundial possibilitou as famílias modestas, empregados de escritórios e funcionários públicos, logistas e pequenos comerciantes, fazendeiros e, no Ocidente, até prósperos operários a pagar em tempo integral os estudos de seus filhos.Em países democráticos e igualitários, ao terminar os estudos secundários os alunos passavam automaticamente para as escolas superiores que multiplicaram–se para receber os novos alunos, e na década de 1970 os novos estabelecimentos universitários quase dobrou no mundo.

Essas massas de moças e rapazes e seus professores, constituíam um novo fator na cultura e na política . Movimentavam-se e comunicando idéias e experiências, como mostrou na década de 1960 o radicalismo estudantil principalmente em países ditoriais. A política deles era a capacidade de agir com sinais e detonadores para grupos maiores, mas que se inflamavam menos . Em 1968 provocaram enormes ondas de greves operárias na França e Itália.

As rebeliões estandantis parecem detonar a revolução, forçando o governo a tratá-los como sério perigo público, massacrando-os como na praça Tiananmen, em Pequim. Apos o fracasso alguns estudantes radicais tentaram fazer revoluções sozinhos, através de terrorismo de pequenos grupos, mas não houve impacto político sério e onde ocorreu essa ameaça, foram eliminados. Os únicos sobreviventes dessas iniciativas na última década do século eram o grupo terrorista nacionalista basco ETA e a guerrilha camponesa teoricamente comunista Sendero Luminoso no Peru, e antes da Segunda Guerra Mundial, a grande maioria dos estudantes na Europa Central e Ocidental e na América do Norte era apolítica ou de direita.

Durante esses dez anos, o número de estudantes de humanidades multiplicou, a consequência foi tensão entre essa massa de estudantes, despejadas nas universidades e instituições que não estavam preparadas para tal influxo. E, além disso ir para a universidade deixou de ser privilégio e constituía uma recompensa em si, e as limitações que lhes era imposta deixava-nos mais ressentidos o que ampliava –se ressentimentos contra qualquer autoridade , e portanto no Ocidente os estudantes inclinavam-se para a esquerda.

Carta do chefe Seattle (1854?)

Nadir Costa

O documento abaixo é uma das várias versões existentes de uma carta endereçada ao presidente norte-americano, Franklin Pierce, pelo chefe da tribo Suquamish, Seattle sobre uma oferta de compra do território de sua tribo feita pelo governo dos Estados Unidos.
Sempre utilizada por ambientalistas, a carta e talvez até as palavras do chefe nunca tenham sido ditas. São várias as objeções levantadas sobre a autenticidade da carta. Entre elas está a parte onde o chefe fala da matança dos búfalos feita por brancos que atiravam dos trens. No entanto, pesquisadores afirmam que Seattle nunca poderia ter visto um búfalo em sua região e muito menos um trem.
Uma outra objeção é que para a carta ter chegado ao presidente, ela deveria seguir uma formalidade burocrática, e não existe registro dessa carta em nenhuma repartição responsável pelos assuntos indígenas.
Outros historiadores defendem a autenticidade da carta a partir de sua primeira versão, publicada em 1887, pelo Dr. Henry Smith que transcreveu as palavras de Seattle quando do seu encontro com Isaac Stevens, comissário para negócios indígenas em 9 de dezembro de 1854. No entanto, outras testemunhas do evento, não lembram desse momento de tanta eloqüência por parte do chefe Seattle.

"Como podeis comprar ou vender o céu, a tepidez do chão? A idéia não tem sentido para nós. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, com podeis querer comprá-los? Qualquer parte desta terra é sagrada para meu povo. Qualquer folha, pinheiro, qualquer praia, a neblina dos bosques sombrios, o brilhante e zumbidor inseto, tudo é sagrado na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o interior das árvores leva em si as memórias do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem a terra de seu nascimento quando vão pervagar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta terra maravilhosa, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós.
As flores perfumosas são nossas irmãs; os gamos, os cavalos, a majestosa águia, todos são nossos irmãos. Os picos rochosos, a fragrância dos bosques, a energia vital do pônei e o homem, tudo pertence a uma só família.
Assim, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossas terras, ele está pedindo muito de nós. O Grande Chefe diz que nos reservará um sítio onde possamos viver confortavelmente por nós mesmos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Se é assim, vamos considerar a sua proposta sobre a compra de nossa terra. Mas tal compra não será fácil, já que esta terra é sagrada para nós.
A límpida água que percorre os regatos não é apenas água, mas o sangue de nossos ancestrais. Se vos vendermos a terra, tereis de vos lembrar que ela é sagrada, e deveis lembrar a vossos filhos que ela é sagrada, e que cada reflexo espectral sobre a superfície dos lagos evoca eventos e fases da vida de meu povo.
O marulhar das águas é a voz de nossos ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, eles nos saciam a sede. Levam as nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se vendermos nossa terra a vós, deveis vos lembrar e ensinar a vossas crianças que os rios são nossos irmãos, vossos irmãos também, e deveis a partir de então dispensar aos rios a mesma espécie de afeição que dispensais a um irmão.
Nós sabemos que o homem branco não entende nosso modo de ser. Para ele um pedaço de terra não se distingue de outro qualquer, pois é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo de que precisa. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, ele vai embora, à procura de outro lugar. Deixa atrás de si a sepultura de seus pais e não se importa. A cova de seus pais é a herança de seus filhos, ele os aquece. Trata a sua mãe, a terra, e a seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas ou roubadas, como se fossem peles de carneiro ou brilhantes contas sem valor.
Seu apetite vai exaurir a terra, deixando atrás de si só desertos.
Isso eu não compreendo. Nosso modo de ser é completamente diferente do vosso. A visão de vossas cidades faz doer aos olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e como tal nada possa compreender.
Nas cidades do homem branco não há um só lugar onde haja silêncio, paz. Um só lugar onde ouvir o farfalhar das folhas na primavera, o zunir das asas de um inseto. Talvez seja porque sou um selvagem e não possa compreender.
O barulho serve apenas para insultar os ouvidos. E que vida é essa onde o homem não pode ouvir o pio solitário da coruja ou o coaxar das rãs à margem dos charcos à noite? O índio prefere o suave sussurrar do vento esfrolando a superfície das águas do lago, ou a fragrância da brisa purificada pela chuva do meio-dia ou aromatizada pelo perfume das pinhas.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois deles todos se alimentam. Os animais, as árvores, o homem, todos respiram o mesmo ar. O homem branco parece não se importar com o ar que respira. Como um cadáver em decomposição, ele é insensível ao mau cheiro. Mas se vos vendermos nossa terra, deveis vos lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar insufla seu espírito em todas as coisas que dele vivem. O ar que nossos avós inspiraram ao primeiro vagido foi o mesmo que lhes recebeu o último suspiro.
Se vendermos nossa terra a vós, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir sorver a brisa aromatizada pelas flores dos bosques.
Assim consideraremos vossa proposta de comprar nossa terra. Se nos decidirmos a aceitá-la, farei uma condição: o homem branco terá que tratar os animais dessa terra como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo outro modo. Tenho visto milhares de búfalos apodrecerem nas pradarias, deixados pelo homem branco que neles atira de um trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como o fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante que o búfalo, que nós caçamos apenas para nos mantermos vivos.
Que será dos homens sem os animais? Se todos os animais desaparecessem, o homem morreria de solidão de espiritual. Porque tudo que aconteça aos animais, pode afetar os homem. Tudo está relacionado.
Deveis ensinar a vossos filhos que o chão onde pisam simboliza as cinzas de nossos ancestrais. Para que eles respeitem a terra, ensinai a eles o que ensinamos aos nossos: que a terra é nossa mãe. Quando o homem cospe sobre a terra está cuspindo sobre si mesmo.
De uma coisa temos certeza: a terra não pertence ao homem branco; o homem branco é que pertence à terra. Disso temos certeza. Todas as coisa estão relacionadas como o sangue que une uma família. Tudo está associado.
O que fere a terra, fere também os filhos da terra. O homem não tece a teia da vida; é antes um de seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio.
Mesmo o homem branco, a quem Deus acompanha, e com quem conversa como amigo, não pode fugir a esse destino comum. Talvez, apesar de tudo, sejamos todos irmãos. Nós o veremos. De uma coisa sabemos - e talvez o homem branco venha a descobrir um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Podeis pensar hoje que somente vós possuis, como desejais possuir a terra, mas não podeis. Ele é o Deus do homem, e sua compaixão é igual tanto para o homem branco, quanto para o homem vermelho. Esta terra é querida d'Ele, e ofender a terra é insultar o seu Criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Contaminai a vossa camas, e vos sufocarei numa noite no meio de vosso próprios excrementos. Mas no vosso parecer, brilhareis alto, iluminados pela força do Deus que vos trouxe a esta terra e por algum favor especial vos outorgou domínio sobre ela e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério para nós pois não compreendemos como será no dia em que o último búfalo for dizimado, os cavalos selvagens domesticados, os secretos recantos das florestas invadidos pelo odor do suor de muitos homens e a visão da brilhantes colinas bloqueadas por fios falantes. Onde está o matagal? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. O fim do viver e o início do sobreviver."

Bibliografia PINSKY, Jaime e outros (org.). História da América através de textos. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1991. p.37-41