20 de setembro de 2013

A história como Re-presentação da experiência passada.

Nadir Costa

A História como re-representação da experiência passada”, in Patrick Gardiner, Teorias da História, 4ª ed., Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian,

Segundo o autor, o historiador estabelece o exterior e o interior de um acontecimento, investigando as ações de um acontecimento numa descoberta do exterior se imaginando dentro dessas ações. Representando o passado criticando e corrigindo erros quando houver. Se interessando pelos costumes sociais que os homens criam pelo pensamento.
Para compreender a História o historiador parte do fato de que o passado não é um dado que ele possa apreender empiricamente pela percepção, visto que o único conhecimento do passado que lhe é possível é dedutivo ou indireto, nunca empírico, e a mediação não pode realizar-se por testemunha. Pois essa mediação forneceria quando muito uma crença infundada e improvável. Além do mais sua atitude é criticá-las e não acreditar nelas. Quando um homem pensa historicamente, tem diante de si certos documentos ou relíquias do passado, sua incumbência é descobrir que passado é esse que deixou tais relíquias, e o que essa pessoa queria que elas significasse. Para descobrir esse pensamento o historiador deve pensá-lo de novo ele mesmo. Para Collingwwod, o historiador numa primeira interpretação tratará apenas de cópias de pensamentos passados e não dos próprios pensamentos passados, ou ainda de que ele nunca pode repensar pensamentos passados, posto que o ato de pensar representa experiência individual e nenhuma experiência é rigorosamente igual a outra.
A história não pode existir daquilo que não é experiência, nem pode haver, história da natureza. A natureza contém processos, está submetida a eles. Ainda que a única condição que tornaria possível uma história da natureza seria se os fenômenos da natureza fossem ações praticadas por algum ou alguns seres pensantes. O autor cita ainda que não pode existir história de nada que não seja pensamento. O historiador procura dominar a história de um pensamento em que não pode penetrar pessoalmente, acontecerá que em vez de escrever a sua historia, se limitará a repetir os relatos que registram os fatos externos de sua evolução. O conhecimento objeto tem, pois, como verdadeiro objeto o pensamento, não coisas sobre que se pensou, mas o próprio ato de pensar.
Para que qualquer ato de pensamento se torne objeto da história, é preciso que ele seja um ato não só de pensamento, mas também de pensamento refletivo. Um ato é algo mais do que um mero fenômeno individual; é algo que tem um caráter universal. As características destes atos é que eles sejam praticados, segundo a expressão corrente, de propósito; que exista, como fundamento, um propósito sobre o qual se erga toda a estrutura do ato e com o qual esteja de acordo. Toda ação propositada tem de ser ação prática, conceber o propósito, e depois, levá-lo a cabo, o que é uma atividade prática que sobrevêm a teoria. O que vem a ser um erro, pois tem influenciado a teoria e a prática da historiografia levando muita gente a pensar que o único objeto possível da história é a vida prática dos homens. Não é verdade que uma pessoa interessada em pensamento teorético esteja agindo sem um propósito, uma vez que a diferença entre conceber e realizar um propósito não ficou corretamente definida quando se disse que era a diferença entre um ato teorético e um prático.
O cientista, o historiador e o filósofo avançam não menos do que o homem prático, nas suas atividades de acordo com planos pensando intencionalmente, alcançando resultados planejados conforme critérios originados dos próprios planos, e que o historiador seja capaz de o interpretar, ou seja, de re-presentar no seu próprio espírito o pensamento que é objeto do seu estudo, considerando o problema, e reconstruindo os degraus através dos quais se foi tentado a sua solução.





O engenho colonial.

Nadir Costa

Teixeira em seu livro O Engenho Colonial, relata o dia-a-dia da sociedade canavieira na época colonial, ele cita a importância do nascimento de descendente varão do senhor e que isso era motivo de festa. O autor enfatiza o poder do senhor em relação aos seus familiares, escravos e os agregados da propriedade.
No livro de Arruda; o senhor de Engenho era a pessoa que detinha o maior poder dentro da família e da sociedade brasileira daquela época. De forma idêntica; Maria Cristina Giovani diz em seu livro: “ os senhores de engenhos eram os mais importantes e influentes proprietários de terra, tinham grande poder econômico, social e político, eram temidos. Todas as pessoas que viviam em suas propriedades estavam sob seu domínio e deviam obedecê-lo, tinham poder de vida e morte sobre seus escravos, trabalhadores livres e seus familiares.
O autor cita que o trabalho dos escravos era duro e eram constantemente vigiados pelos feitores e a qualquer deslize era castigado a chicotadas, e se cometessem alguma falha ou fugissem eram levados ao tronco e o castigo era visto por todos os que estivessem na propriedade.
Piletti diz: “ que os escravos começavam a trabalhas ao raiar do dia e só paravam ao escurecer. Quase não tinham descanso. Nos engenhos as condições de trabalho eram extremamente duro, tanto nos canaviais quanto nas moendas e nas caldeira”.
Tanto Piletti quanto Teixeira concordam em relação a alimentação dos escravos; que eram insuficientes e de péssima qualidade, e que eles aproveitavam as sobras das comida dos senhores, principalmente nos dias de festa.
Quando havia festas as mulheres vestiam suas melhores roupas, os escravos eram também vestidos para acompanhar seus donos , principalmente quando a festa era em outra propriedade.

 Ao se comparar o autor com outros autores de livros didáticos percebe-se que na maioria deles há uma certa semelhança dos fatos, apesar de que os livros didáticos trazem os conteúdos muito resumido, levando o leitor a ter que examinar várias obras para completar o entendimento.
Os manuais erram pela omissão, redução e simplificação ao não considerar todo o processo histórico em curso no continente. Sobre a escravidão no Brasil, o exemplo mais claro disso é a forma como o negro é tratado nos livros didáticos, mesmo os mais politicamente corretos, acabam tratando o negro como objeto. “ A maioria das figuras nos livros, mostram sempre o negro apanhando, em uma situação constrangedora em relação ao branco”. Ignoram os casos de ascensão social de negros. Há registro de negros que se tornaram livres e compravam escravos.


Teixeira Jr., Luiz Alexandre: O Engenho Colonial. O Cotidiano da História. Editora Ática.

O que é etnocentrismo

Cada sociedade possui sua própria cultura, sua própria visão do mundo. A comparação e o confronto entre estas diversas identidades são objetivos do etnocentrismo, com isso busca compreender melhor o próprio ser humano e sua relação com o mundo que o cerca. Com a descoberta do Novo Mundo, começa a surgir modelos explicativos das diferenças entre esses povos. Desses encontros, entre “eu” e a sociedade do “outro”, surge a ideia de perplexidade por que ele o “eu” não conhecia o “outro” e assim o século é marcado pela perplexidade.
Talvez possamos comparar o etnocentrismo a nós mesmos, visto que somos seres absolutamente voltados para nosso próprio “eu”. A partir do momento que os seres humanos granjearam a capacidade de pensar, passaram a considerar seu próprio “eu” como centro de todo interesse, muitas vezes defendendo somente o que lhe é conveniente e não o que talvez seja verdadeiro. Entretanto tais formas de pensamentos só interessam a nós mesmos ou a uma minoria restrita, esses valores são interpretados de acordo com o interesse de um pequeno grupo de pessoas e quase nunca é visto pelo “senso comum”, que talvez vá beneficiar um grande número de pessoas.
Etnocentrismo é algo que cada ser e cada sociedade carrega dentro de si, são fórmulas avaliativas que nos coloca simplesmente em moldes já preestabelecidas de condutas que já existem. Se olharmos para o etnocentrismo sob uma ótica independente de valores estabelecidos, vamos alcançar um dia uma sociedade quase utópica.
Se colocarmos o etnocentrismo de lado, vamos perceber que absolutamente nada é regra, se ao julgarmos povos ou grupos estrangeiros pelos padrões e práticas de sua própria cultura, veremos que o etnocentrismo trouxe normas e valores a serem seguidos e aprovados pela sociedade, não se preocupando nem um pouco com a verificação do que realmente seria verdadeiro na organização de uma sociedade.
Certos grupos são tidos como exemplos a serem seguidos e outros como totais “aberrações da natureza”, visto que durante muito tempo presumiu-se que era certo somente aquilo que uma minoria tem como: costumes crenças, religião e cultura, sem preocupação com a constatação do certo ou errado na formação dos seres humanos, que se veem obrigados a relacionarem com várias culturas existentes.



 



BANDEIRANTISMO: VERSO E REVERSO

Fichamento
Nadir Costa

INTRODUÇÃO

DAVIDOFF, Carlos Henrique. Bandeirantismo: verso e reverso. São Paulo: Brasiliense, 1982. (Coleção Tudo é História)

Para boa parte das pessoas, o tema Entrada e bandeiras provavelmente ainda evoque a imagem dos heróis paulistas do século XVII, dos “construtores épicos do Brasil”, dos “aventureiros” que expandiram as fronteiras e em cujo rastro se fez a ocupação do interior e dos sertões. (p.07).
Destas três imagens, a mais cultivada e que contou com maior poder de difusão para o público foi a primeira, a dos “construtores épicos do Brasil”, a dos heróis paulistas. (p. 08)
Hoje, passados já mais de 50 anos do tempo em que se construía a epopéia dos bandeirantes, não é mais possível navegar nas mesmas águas, pois, contrastada com o conjunto mais amplo da produção historiográfica realizada sobre o Brasil Colônia e sobre as próprias bandeiras, ela parece francamente datada. (p.09).

São Vicente e São Paulo de Piratininga: o cenário histórico do bandeirante.

Como se sabe, o núcleo inicial da cidade de São Paulo foi o Colégio fundado pelos jesuítas, em 1554, (...). Seis anos depois de sua fundação, o novo núcleo incorporou o vilarejo de Santo André da borda do Campo. (...). Tratava-se de uma localidade que não apresentava boas condições naturais para o plantio, estando também constantemente sujeita a ataques dos indígenas, que utilizavam as matas da serra como ponto de apoio. (p. 16).
Durante os primeiros anos o novo povoado teve uma existência instável, devido à resistência indígena, e em 1562 esteve a pique de desaparecer, com o ataque das tribos confederadas do planalto, situação que se repetiu em 1590.(p.17).
O primeiro aspecto a realçar é que dentre os colonos que vieram para a distante capitania meridional, (...) tratava-se de homens do campo, mercadores de poucos recursos e aventureiros dos mais diversos tipos, seduzidos pelas oportunidades eventualmente existentes nas novas terras.(p.18).
Outro foi o rumo tomado para o aproveitamento do solo, e diferentemente do que ocorreu no nordeste... a agricultura de subsistência constituiu seu ponto forte. As relações mercantis eram limitadas, pouca a moeda existente e raros os contatos com as outras capitanias e com a própria Metrópole.(p.19).
A agricultura de subsistência incluía o trigo, o algodão (...). As pereiras e figueiras eram mais raras e os marmeleiros tinham uma importância especial, pois a conserva desta fruta constituía o principal produto de exportação paulista.(p.19)
Um item também importante na economia paulista de subsistência da época era a criação de gado, atividade a que se prestavam muito bem os campos do planalto, ao contrário do que ocorria na faixa litorânea e mesmo em Santo André, devido à ausência de um rio.(p.19).
Na segunda metade do século XVII deixaram de ser avaliada os bens de pouco valor e passou a ser assinalada a presença de novos implementos e mercadorias de luxo, o que poderia estar associado a uma circulação maior de riqueza devido à marcha do ciclo da mineração.(p.20).
Um dos aspectos que mais chamam atenção no exame dos inventários paulistas é o pouco é o pouco valor representado pela propriedade imobiliária, principalmente durante o século XVI, surpreendente, à primeira vista quando comparado a outros bens dos acervos.(p.20).
A desvalorização (...) encontra sua explicação básica na carência do conjunto das condições necessária para que aí se efetivasse uma exploração mercantil. Faltavam capitais, escravos, implementos de todos os tipos e melhores condições de transporte e comunicação com a Europa.(...). As mercadorias e passageiros eram levados da marinha ao planalto pelos escravos indígenas, alugados tanto pelos particulares como pelos jesuítas, e o resultado final era um enorme encarecimento das mercadorias.(p.21).
No período inicial de sua existência, ao término do século XVI, São Paulo contava aproximadamente com mil e quinhentos habitantes e cento e cinqüenta residências. O número de ruas era muito pequeno e em seus primórdios as casas eram meras choupanas cobertas por palha, substituídas posteriormente pelas construções de taipa com telhados.(22).
A vida urbana (...), passados os perigos iniciais de desaparecimento sob a ameaça indígena, (...). Richard M. Morse indica que se realizavam pelo menos cinco procissões religiosas anuais, que atraíam à cidade os chefes de família e seus dependentes, e que as sessões da câmara e as assembleias extraordinárias garantiam, ainda que de forma instável, a participação dos agricultores no governo local.(p.22 e 23).
Em resumo, (...) a situação material e as condições de vida de São Paulo dos séculos XVI e XVII, (...), a conclusão a que se chega é de que aí a vida do colonizador se desenvolveu num cenário de extrema penúria. (p.23).
É preciso lembrar, no entanto, que não são todos os autores que concordam com a visão de Alcântara Machado sobre a sociedade paulista dos tempos da colônia.(p.23).
Apesar das vozes em contrário, a tendência dos historiadores, incluindo Sérgio Milliet, é considerar que São Paulo não conheceu nenhuma forma de riqueza estável – nem mesmo mediana – até fins do século XVIII, com o advento do café, que acabou por inaugurar uma fase duradoura de prosperidade.(p. 24).

As bandeiras: solução de urgência para a pobreza dos paulistas

O bandeirante foi fruto social de uma região marginalizada, de escassos recursos materiais e de vida econômica restrita, e suas ações se orientaram ou no sentido de tirar o máximo proveito das brechas que a economia colonial eventualmente oferecia para a efetivação de lucros rápidos e passageiros em conjunturas favoráveis.(p. 25).
Para empreender as suas incursões, tanto no caso do apresamento e tráfico do indígena quanto na busca das riquezas fantásticas, os paulistas se organizavam nas chamadas “bandeiras”. Contudo a partir dos fins do século XVI até o início do século XVII, essas milícias passaram por modificações, transformando-se em corpos paramilitares de ataque ao sertão.(p. 24).
No tocante aos termos entradas e bandeiras, a historiografia tradicional adota duas posições.(p.27).
A expedição bandeirante era comandada por um chefe, branco ou mameluco, que encerrava em suas mãos poderes absolutos sobre os subordinados.(p.27).
No que diz respeito ao carregamento, os bandeirantes levavam pólvora, machados, balas, cordas para amarrar os índios aprisionados, por vezes sementes, sal e um apequena quantidade de alimentos.(p.27).
Ao que tudo indica caminhavam descalços e não com as botas de montaria tão comuns nas estátuas e figuras dos bandeirantes; o vestuário de restringia ao chapelão de abas largas, à camisa, ceroulas e aos gibões de algodão acolchoados, que serviam de anteparo às flechas dos indígenas.(p.28)
Do ponto de vista geográfico, as bandeiras paulistas foram possíveis devido à posição de São Paulo, centro de circulação fluvial e terrestre à “boca do sertão”.(p.28 e 29).
São Paulo dominava ainda outra via de comunicação, o caminho do Mar, a leste. Tratava-se de vereda quase intransitável que levava à beira do mar, e que com o tempo se tornaria uma das principais artérias da capitania, trajeto indispensável para as comunicações entre o planalto e o litoral.(p.30).

Escravidão indígena e violência: o bandeirantismo de apresamento

De qualquer modo, as novas disposições também continuaram a ser burladas, através de vários expedientes.(...).Outras vezes o colono induzia o casamento de um índio livre com índia escrava, com o que em geral se conseguia mais um cativo, o marido índio e os futuros filhos do casal.(p.37).
Os abusos mais gritantes praticados contra os indígenas consistiam na substituição ou superposição de um tributo ilegal em trabalho forçado ao tributo taxado, que acabava redundando na “servidão infernal” dos índios a que se referia o famoso defensor do... , o padre Bartolomé... (p.38 e 40).
Do ponto de vista das incursões propriamente ditas, as bandeiras do século XVI atuaram, sobretudo na região do Tietê, onde foram rapidamente dizimados os Tupiniquins, no alto Paraíba, chamado pelos paulistas da época de rio Surubis.(p.40).
Esta expansão das razzias paulistas contra os indígenas, no início do século XVII, deparou com o movimento da colonização espanhola que, a partir do Paraguai, buscava o mar. (40).
Os moradores de Assunção, buscando acesso a um caminho que facilitasse as comunicações com a Europa e tentando estabelecer alguns anteparos à expansão vicentina, procuravam estimular a fundação de cidades em pontos estratégicos das rotas que interpunham entre eles e os paulistas.(p.41).
As reduções jesuíticas se estruturavam em forma de vilas no centro do aldeamento, em volta de uma praça quadrada, erigia-se a igreja e a moradia dos padres que, em geral, eram as construções mais ricas.(p.42).
Quanto à utilização produtiva da terra, fazia-se a divisão em lotes, de que as famílias indígenas deviam retirar seu sustento, depositando-se a safra, contudo, no armazém comum.(...). Neste caso, o produto gerado destinava-se à manutenção dos padres, funcionários, artesãos e dos que de alguma forma precisavam ser sustentados pelo trabalho coletivo. Nos tupambae criava-se gado, fabricavam-se tecidos e plantava-se a erva-mate, produtos negociados pelos padres para a obtenção dos artigos de que necessitavam as missões, como ferramentas, sal e ornamentos religiosos.(p.42).
A estrutura econômica missioneira baseava-se fundamentalmente na organização coletiva da força de trabalho e numa forma de distribuição dos produtos regulada pelos critérios religiosos de devoção e pelos de produtividade.(p.43).
Desde logo, as missões foram alvos de salteios vicentistas, e as razões para que isto ocorresse são óbvias, como indica Capistrano de Abreu, pois não havia presa mais tentadora para caçadores de escravos: “por que aventurar-se a terras desvairadas, entre gente boçal e rara, falando línguas travadas e incompreensíveis, se perto demoravam aldeamentos numerosos, iniciados na arte da paz, afeitos ao jugo da autoridade...? . (p.43).
Os colonos, por sua vez, desde o século XVI, divisavam na ação dos jesuítas e nas suas aldeias uma forma de subversão da ordem, uma inversão da ordem natural da colonização, em que o indígena deveria necessariamente estar submetido aos desígnios do colonizador, que requisitava como escravo.(p.44).
Com o advento do século XVII, o conflito entre os colonos e jesuítas foi se tornando cada vez mais intenso até adquirir contornos trágicos, (...).(p.45).
O outro fator a precipitar, de forma indireta, o choque trágico entre os paulistas, índios e os padres foi a desorganização do mercado português de e escravos africanos, no início do século XVII, por parte da Holanda.(...).Nesta conjuntura especial, os paulistas se viam estimulados a fazer um grande negócio da preia e venda dos índios para as regiões que sofriam carência da mercadoria, possível de ser explorado em condições muito favoráveis e numa escala razoável, dada a existência da ótima fonte de abastecimento de indígenas representada pelas missões.(p.46).
Quanto à violência dessa razzias, é exemplar o impressionante relato do padre Montoya, sobre a incursão do bandeirante Raposo Tavares em Jesus Maria, no Rio Pardo; (...). (p.47 e 48).
Á primeira vista, pode causar espanto a denúncia de violência e genocídio feita pelo padre Montoya, pois o seu relato revela uma face em geral oculta nos manuais tradicionais de História do Brasil, freqüentemente tributários do cultivo da imagem heróica do bandeirante e por isso pouco interessados em divulgar a versão jesuítica, contraponto do ufanismo imperante.(p.48).
Firmam seu ponto de vista; os tempos eram violentos e, portanto eram naturais as “crueldades” cometidas pelos colonizadores. Concede-se que houve violência, mas cancela-se tal reconhecimento ao se invocar o espírito dos tempos que, na sua generalidade, sanciona a violência que particularmente se exerceu no Brasil.(...).a mentalidade imperante no século XVII, segundo o historiador, tornava menos grave a hipocrisia piedosa do arsenal jurídico da época, corporificada nas encomiendas, “mitas”, nos “serviços de forros”, nos “administrados” e nas “guerras justas”, etc...(cf.Affonso de E.Taunay, História das Bandeiras Paulistas).(p.50)
Na verdade, a versão jesuítica da época, que representa o contradiscurso das interpretações triunfais do bandeirantismo, foi paulatinamente despojada do seu caráter de denúncia, e com o tempo passou a ser encarada pela corrente dominante da historiografia como expressão de interesses secundários quando comparados aos frutos do movimento histórico dos paulistas do século XVII.(P.53).
Tomando a questão em seus pontos fundamentais, é muito difícil sofismar a violência praticada pelo colono contra o indígena.(p.53).
O escambo pode se desenvolver principalmente devido o valor, redefinido, que os indígenas davam às mercadorias trazidas pelos brancos, como os machados, enxadas, facas, foices, tecidos, espelhos, colares de vidro, etc. (p.54).
No entanto, ao se substituir o escambo pela agricultura, as relações entre colonos e os índios sofreram uma alteração profunda, e o sistema tribal não subsistiria mais na sua forma tradicional.(p.54).

Escravidão indígena e violência: o bandeirantismo de apresamento

A obra dos jesuítas, para Jaeger, representou a redenção material e espiritual dos indígenas, que, nas missões, ficavam sob o amparo paternal dos seus mais dedicados e decididos amigos, os missionários da Companhia, que os dirigiam com mão suave, mas firme, para o bem-estar corporal e ainda os encaminham para uma vida melhor no além-túmulo.(p.57).
Em resumo, esse é, para o autor, o conjunto da visão do indígena não-missioneiro. É bastante evidente que as justificativas dadas para enfatizar o papel evangelizador dos padres da Companhia de Jesus são muito toscos, quase uma transposição literal e freqüentemente exagerada de determinados preconceitos às vezes arraigados no senso comum.(p.58).
Em realidade, e voltando ao ponto inicial, o branco não desenvolveu nenhuma outra alternativa para o indígena nos quadros da colonização que não fosse ou a submissão total ou o seu isolamento – (p.58).
Quanto às condições de vida do escravo indígena em São Paulo, eram das piores e os documentos da época se referem aos conselhos – inúteis – para que se desse bom tratamento às “peças”, para que não fugissem e não “andasse” a morrer.(p.59)
Contudo a atividade do indígena que parece ter sido a mais rentável para o colono paulista da época era a de caça ao próprio índio, pois tratava-se de “bons sertanistas cursados no sertão”.(p.59).
O processo de perda de identidade cultural do indígena foi se acentuando cada vez mais com o passar do tempo e com a estabilização das práticas de escravização e submissão dos autóctones por parte do colonizador.(p.60).
Quanto ao rendimento bruto das bandeiras apresadoras, é muito difícil se ter uma ideia exata, pois como já disse anteriormente, os índios escravizados não podiam constar nem ser avaliados nos inventários.(p.60).
Com a transladação dos jesuítas para as margens dos rios Uruguai e Paraná, tiveram início o armamento dos índios missioneiros, reivindicação constante dos jesuítas à Coroa espanhola.(p.61).
Contudo, o período da caça ao índio em larga escala chegava ao seu fim, e para isso concorreram vários fatores.(p.61, 62).

Novas tentativas de fortuna: o ouro das Gerais.

O período de ouro das minas gerais está intimamente associado ao bandeirantismo paulista. (p.63).
Na ausência, em São Paulo, de uma atividade agrícola plenamente inserida nos desígnios mercantis da colonização portuguesa, que fornecesse os bens tropicais exóticos exportáveis para a Europa, como era o caso do açúcar produzido em outros pontos da colônia, e com o declínio da atividade de caça ao índio, os paulistas procuravam redirecionar e concentrar seus esforços em busca de alternativas econômicas.(p.63 e 64).
Quanto à localização dessas riquezas, supunha-se que não ficavam as grandes distâncias, já que se considerava que as minas de prata de potosi estavam próximas das fronteiras brasileiras. Desse modo, a penetração pelo sertão deveria naturalmente conduzir a elas. (p. 64,65).
Desde o início da colonização pensava-se que a capitania de São Vicente constituía um lugar privilegiado para a procura de ouro e Martin Afonso de Sousa teria escolhido a região entre a ilha de São Vicente e o planalto de Piratininga para o estabelecimento dos primeiros núcleos de provocação porque se tratava da provável “costa do ouro e da prata”.(p.65)
As primeiras pesquisas de metal precioso, na capitania de São Vicente, tiveram maior sucesso, chegando-se a fazer, desde o início, alguma mineração incipiente.(p.66).
A.J. Antonil refere-se, para o período em questão, à existência de outro em Parnaíba, Paraguai, Curitiba e Jaraguá, lembrando asa dificuldades para “cantar” e “juntar” o metal explorado de forma muito rudimentar.(p.67).
Concretamente, esse período inicial de pesquisa de metais preciosos na capitania de São Vicente não chegou a descobrir mais do que ouro em pequenas quantidades, e tudo indicam que não se fizeram fortunas pessoais com esses achados.(p.67).
As grandes descobertas auríferas só se produziram efetivamente no final do século XVII e início do século XVIII, num contexto bastante diferente do período do ouro de lavagem, e que se caracterizava por modificações nas relações entre Metrópole e Colônia no seu conjunto.(p. 68).
Tendo em conta a perspectiva das relações internacionais, Celso Furtado, na Formação Econômica do Brasil, sintetiza o dilema com que Portugal necessariamente tinha que se defrontar: era impossível manter a neutralidade em face das nações poderosas do momento.(p.69).
O tratado que vinculou definitivamente o destino de Portugal aos desígnios dos interesses ingleses foi o de Methuen, celebrado em 1703.(p.70
Em ultimo instância, é esta subordinação econômica e política de Portugal à Inglaterra que explica o destino que posteriormente sofreu o ouro de origem brasileira.(p.71).
Analisando as mudanças ocorridas neste período, que se segue à recuperação da autonomia portuguesa, Caio Prado Jr. Fala no surgimento de um novo sistema político e administrativo que, em ultima instância, visava assegurar que a colônia americana fosse estritamente uma produtora e fornecedora de gêneros úteis para a Metrópole, que lhe rendessem grandes lucros no mercado europeu.(p.71)
Quanto à política de monopólios, Portugal continuou, após a recuperação de sua autonomia, a seguir uma orientação bastante rígida, que se manifestou, por exemplo, na criação das companhias privilegiadas do comércio, em 1647 e 1682, a que se atribuía o direito de exclusividade no comércio colonial.(p.72).
A retomada das iniciativas de estímulo oficial aos paulistas para que procurasse as pedras coradas e os metais preciosos, única riqueza de que “se podia esperar remédio” (...) desde os fins do século XVI que se esperava particularmente dos paulistas a descoberta de tais riquezas, pois era conhecida sua experiência como sertanistas.(p.73).
Contudo, as primeiras convocações para que os paulistas efetivamente se empenhassem nessa busca não chegaram a trazer frutos concretos, o que se explica por duas ordens de fatores.(p.73).
A rebeldia dos paulistas frente às injunções metropolitanas pode ser observada no caso da flagrante desobediência ou escamoteamento das leis sobre a escravidão indígena e no caso do conflito com os jesuítas que, após serem expulsos de São Paulo, só puderam voltar à capitania adotando uma atitude conciliatória para com os interesses escravagistas aí imperantes.(p.74).
Foi somente em 1672, quando já se encontravam esgotadas as possibilidades de apresamento dos indígenas com resultados compensadores, que reclamos da Coroa para que se efetivassem os achados de metais preciosos começaram a surtir efeito entre os habitantes do planalto.(p.75,76).
Quanto à sequência dos primeiros achados, Capistrano de Abreu menciona o de Antônio Dias, próximo a Ouro Preto, o de João de Farias, o de Bueno e Bento Rodrigues um pouco mais distante, os do ribeirão do Carmo e do Ibupiranga, todos nas cercanias de Ouro Preto e Mariana.(p.77).
Referindo-se ao período inicial da descoberta da minas, Saint-Hilaire relata que bandos numerosos de homens de todas as idades e de todas as condições saíram de São Paulo e das Vilas vizinhas à cata de ouro.(p.77).
No que diz respeito à forma de ocupação da área mineradora, de início os paulistas não formaram nenhum estabelecimento fixo.(p.77,78).
Nas áreas em que as riquezas eram maiores se demoravam mais, chegando a erigir casas e constituir aldeias que, com o tempo, se transformaram em arraiais e, posteriormente, em cidades, como foi o caso de Mariana, Ouro Preto, Sabará, Caeté, Pitangui e São José. (p.78).
Somente em 1723 apareceram os primeiros porcos e galinhas e em 1725 um frasco de sal chegava a obter por pagamento meio libra de ouro.(p.78).
A situação só começou a melhorar paulatinamente a partir de 1725, com a abertura de novos caminhos por terra e o início de atividades agrícolas e pastoris mais estáveis.(p.78).
Com relação às repercussões das novas descobertas em outros pontos da Colônia, não se pode deixar de enfatizar a grande migração de brancos e dos escravos negros para a região das minas.(p.79).
Mas não foram apenas os habitantes da colônia que afluíram em massa para as Minas Gerais. O fluxo imigratório de Portugal para o Brasil, que se iniciara em meados do século XVII, ganhou novo ímpeto com a notícia das descobertas auríferas.(p.80).
Na perspectiva das autoridades coloniais, os novos achados despertaram reações contraditória: por um lado, entrevia-se um século de prosperidade para a Metrópole, e por outro colocava-se de forma premente a questão do controle administrativo, fiscal e policial da área mineradora e de sua população.(p.80).
Diferentemente do que ocorreu no período da caça aos índios, em que os paulistas se ausentavam pelo sertão e depois retornavam, revivendo continuamente o binômio sertão – (...). Os que se dirigiam para a região mineradora à busca de enriquecimento rápido não voltavam, e a agricultura e a criação foram abandonadas por falta de escravos.(p. 81 e 82).
Quanto às riquezas das minas, passaram de maneira muito fugaz, por São Paulo.(p.82).
Agravando o quadro crítico da economia paulista, em 1758 foi abolida a escravidão indígena em todo o Brasil, através do decreto de D. José I, de que era ministro o marquês de Pombal.(p.82).

A questão do heroi bandeirante

Tanto Southey, como Sani-Hilaire e posteriormente Oliveira Martins, Oliveira Vianna, A.R.Taunay, Alfredo Ellis e Cassiano Ricardo contribuíram de alguma forma para a consolidação da imagem heroica do bandeirante. (P.85).
Para os estudiosos das bandeiras da primeira metade do nosso século, o bandeirante era considerado exatamente em elo fundamental da constituição e permanência do povo brasileiro e do Estado nacional, em última instância, de sua unidade geográfica e política: “De qualquer maneira... é certo que aos paulistas vetustos das eras passadas deve o Brasil o que é como grande nação continental” (Alfredo Ellis Júnior, O Bandeirismo Paulista). (p. 86).
Uma forma mais acabada deste tipo de concepção é dada por Cassiano Ricardo em seu livro Marcha para o Oeste. O autor sustenta a tese de que o fenômeno social bandeira é fundamentalmente um processo, em que os paulistas, através de seus vários avanços geográficos, tiveram que se adaptar a várias mudanças, à pressão das condições e a circunstâncias determinadas.(p.87).
Na versão dos estudiosos das bandeiras, o bandeirante, que em suas ações é homem de seu tempo, na perspectiva histórica realmente rompe com o curso dos eventos, ele altera as disposições de Portugal, Espanha e da Santa Sé sobre a distribuição geográfica do Novo Mundo, modifica os desígnios da expansão espanhola e jesuítica, faz descobertas que redirecionam o curso da história e – aspecto crucial - é a corporificação individual de um novo tempo histórico de que é o prenúncio - o da nacionalidade.(p.88).
Encontramos uma visão crítica da figura heroica do bandeirante, a partir de uma perspectiva que recoloca em cena a violência cometida contra o indígena, em Capistrano de Abreu, considerado por Taunay como pioneiro sertanejo.(p.89).
Numa outra perspectiva, que poderíamos denominar de “crítica ética e espiritual” temos a visão da figura heroica do bandeirante contida no famoso livro de Viana Moog Bandeirantes e Pioneiros. p.90).
Como se pode perceber, este autor procurou inverter os sinais do culto do herói bandeirante, tentando cercá-lo criticamente nas suas múltiplas manifestações, como se estivesse diante de um símbolo dotado de um poder de ubiquidade e de permanência histórica que pudesse corporificar e revelar as várias faces do que acreditava serem os males da nacionalidade.(p. 90 e 91).

Do ponto de vista da historiografia das bandeiras, outra versão crítica do bandeirantismo na perspectiva de uma história social rigorosa do bandeirante, com visíveis efeitos desmistificadores, encontra-se no livro de Alcântara Machado Vida e Morte do Bandeirante. (p.91).
O bandeirante que Alcântara Machado nos mostra é o simples morador de uma região secundária da Colônia, sem importância econômica, distante dos centros mais dinâmicos do Brasil e da Europa, que levava uma vida quase indigente, lutando com as injunções mais imediatas e prementes de uma existência material extremamente difícil.(p.93).
Dentre os vários pontos levantados nestas versões da figura do bandeirante, há um aspecto que parece particularmente importante recuperar e recolocar em cena, isto é, o da violência e genocídio praticados por ele contra o indígena, pois trata-se do contraponto histórico necessário da imagem triunfal.(p.93)
A rigor – e basta examinar os textos para se certificar a construção da figura do herói bandeirante só avançou na proporção exata em que se encobriu ou descartou a questão da violência cometida contra os grupos locais, abrindo caminho, deste modo, para que se exaltasse a ideia de expansão territorial e heroísmo, desvinculando-a da interpretação de seu verdadeiro contexto histórico e social do século XVII, que necessariamente envolve a consideração do destino que sofreu a população indígena que esteve sob a área de ação das bandeiras.(p.94).

A Conquista da América A questão do outro.

Resenhando

Nadir Costa

O autor, em seu livro, nos dá exemplos do problema do outro, o conquistado, e reconhece claramente os avanços tecnológicos do “eu” do conquistador. Segundo o autor, um dos grandes problemas dos indígenas é a incapacidade de seu sistema comunicativo; é dizer que eles não dominam a linguagem dos conquistadores nem entendem seus costumes. Em seu livro a conquista da América, se desenrola os diferentes problemas que tiveram os conquistadores e os indígenas. Sem dúvida, neste livro, aparecem algumas perspectivas dadas desde o ponto do “eu” colonizador. Um dos temas principais é que Todorov sugere que é necessário conhecer o outro para conhecer-se melhor. Seu desejo de compreender, unir e comparar os dois lados, desde uma perspectiva europeia, sugere que ainda hoje existem as separações de continentes, países e culturas. Além disso, Todorov nos apresenta o problema do outro: o conhecimento europeu ante o conhecimento indígena, tratando de comparar o uso das referências textuais e como estas contribuíram para a história da conquista das Américas. Por exemplo, Cristóvão Colombo, Hernam Cortez, Montezuma, La Malinche, os Astecas e os incas são representantes históricos que utiliza o autor para estabelecer o problema da conquista.
Todorov comenta a história da interação entre Cortez e Montezuma e a conquista dos astecas no México. Segundo o autor, o imperador dos astecas é um líder indeciso, incapaz de proteger a seu povo durante a conquista. O descreve como um herói débil, reservado e tímido (nunca queria que lhe vissem o rosto). Todorov explica precisamente a debilidade dos vencidos e seus problemas e reproduzindo outra versão do “outro”. Se examinarmos a história mexicana poderíamos ver que Montezuma era um dos líderes mais poderosos dos astecas e suas táticas de guerra eram diferentes por outro motivo. Os índios começavam a perder sua fé em seus próprios deuses porque não viam nenhuma ajuda, não lhes respondiam seus deuses para dar-lhes consolo. Todorov não comenta muito sobre o “outro”. Suas debilidades são por falta de comunicação física e espiritual. Ao contrário, se comenta muito o heroísmo de Hernam Cortez e suas capacidades extraordinária de manipular os signos e utilizar a linguagem como arma.
O calendário dos astecas consistia de13 meses e vinte dias em cada mês. Quando se sabia a data de nascimento se sabia também o destino dessa pessoa. Diz-se que um mundo sobre o determinado é um mundo sobre o interpretado. Os índios viam muitos signos que talvez lhes davam muitas ideias falsas do futuro, porém não menciona que às vezes lhes davam ideias corretas para o futuro. Isso não constrói seu futuro, não tem livre arbitro, sua vida considerava-se determinada desde o princípio. Uma vez de identificar-se com a forma de vida que levavam os astecas, seus avanços intelectuais e suas interpretações do futuro, Todorov só menciona as maneiras em que se separa o um do outro em vez de comparar como se assemelhavam as barreiras culturais que interferiram com o conhecimento do outro. Os astecas tinham uma ontologia distinta a da europeia e a demonstravam em forma de atuação, de modos mais simbólicos( sacrifícios, comunicação com a natureza, etc). Não eram algumas ideologias semelhantes a alguns pensamentos do velho continente? Sua filosofia de vida predestinada também forma parte do pensamento ocidental. Segundo o autor, a comunicação indígena entre homem e natureza era mais estreita e se via suas vidas refletidas nos sonhos, ideias.
Os incas, os Astecas e muitas tribos grandes tinham a mesma profecia que iria vir “Deuses” do oeste para conquistá-los. É misteriosa a uniformidade do tempo. Os indígenas tinham escolas em que aprendiam escrever, porém seu modo comunicativo, segundo o autor, não era tão avançado como o alfabeto. Esta forma de comunicação que parecia inadequada para um espanhol, era outro motivo que tinham os espanhóis para civilizar os indígenas. Talvez uma técnica desvantajosa para o guerreiro nativo. As maneiras em que se comunicavam para realizar os gritos de combate não ajudaram a dissimular as táticas de guerras dos indígenas. Suas interpretações da religião Católica eram sinônimas da mentira.
Este exemplo para demonstrar como o indígena é forçado a aceitar a religião católica porque os espanhóis ganharam a conquista por causa da comunicação simbólica entre o homem e não só entre homem e natureza.
Todorov nos mostra que Cortez se preocupava com a comunicação, ia atrás de interpretes, queria entender e se fazer entender “o que Cortez quer, imediatamente, não é tomar, mas compreender, são os signos que interessam a ele em primeiro lugar, não os referentes”. Sua expedição começa com uma busca por informação e não por ouro. A primeira ação que executa é procurar um interprete. Ouve falar de índios que empregam palavras espanholas, deduz que talvez haja espanhóis entre eles, suas suposições são confirmadas, um deles, Jerônimo de Aquilar se une á tropa de Cortez. Aquilar é transformado em interprete oficial, entretanto ele só fala o Maia, e na busca por interprete Cortez encontra Lá Malinche que lhe serviu de interprete durante todo o processo de conquista.
La Malinche como interpretadora é uma figura importante para a vitória dos espanhóis, sem ela a comunicação extraordinária que tinha com os indígenas não haveriam ganhado a guerra, ela representa uma mistura das culturas. Em parte foi um dos primeiros exemplos da importância de ter um interprete, e segundo em como utiliza o idioma como arma para manipular as conversações.
Cortez sabe explorar as divisões internas através do conhecimento dos índios e consegue fazer com que eles fiquem seus aliados
Os astecas veem uma intervenção divina e Cortez não o vê, só interpreta tudo o que está a seu favor. Por exemplo, Todorov diz que Cortez não gostava de derrubar os templos indígenas e a arquitetura dos indígenas porque queria preservar a cultura. Nota-se que quer preservar a cultura artificial da representação da cultura, porém não quer preservar as vidas dos astecas.
Menciona-se que a linguagem é o companheiro do império. No caso de Cortez sua linguagem era usada para manipular e fingir para assim poder conquistar. As ações do conquistador também serviam para conquistar, demonstra que estava débil quando na realidade estava forte. Além disso os espanhóis tinham muitos aliados nos indígenas que haviam vivido sob o domínio dos astecas. Os signos de Cortez se projetavam num ponto de vista muito subjetivo e individual e os astecas eram mais regra e coletivos em sua maneira de comunicar.



TODOROV, Tzvetan – A Conquista da América A questão do outro.