31 de março de 2010

A Igreja na Idade Média

Professor: Juberto Santos**

A história da Igreja cobre um período de aproximadamente dois mil anos, é uma das mais antigas instituições religiosas em atividade, influindo no mundo em aspectos espirituais-religiosos, morais, políticos e sócio-culturais. Não poderíamos assinalar a Cristandade Medieval sem antes, rapidamente, marcar as primeiras comunidades cristãs.

A Igreja Primitiva

Era a Igreja formada pelos primeiros cristãos em áreas urbanas (forma organizada das cidades romanas), onde as transformaram (At 17,4). Todos continuavam firmes no ensino dos apóstolos, viviam em amizade uns com os outros, e se reuniam para as refeições e as orações. O melhor documento histórico para entendermos bem o período é o livro dos Atos dos Apóstolos, onde vemos como essas comunidades se desenvolveram, suas dificuldades nos arredores da Palestina e parte da Ásia menor. Ao ler At 2, 42-47, podemos perceber o dia-a-dia dos primeiros cristãos. Eles viviam em regime de comunhão de bens, se aplicavam também na Oração (sendo a força catalisadora para a mudança de vida  a oração precisa da razão, assim como a fé), a fração do pão (partilha do todo, segundo a necessidade de cada um – o “pão” – sendo visto como a totalidade da necessidade) e havia meditação na Doutrina dos Apóstolos (consideravam o estudo, a investigação e a reflexão para terem certeza daquilo que iriam acreditar). Sua atuação se dá em Atenas, Jerusalém, Éfeso, Corinto, Roma, Alexandria, Antioquia e Tessalônia. Os primeiros cristãos mudavam as cidades, mexiam com o sistema, eram intelectuais... Podemos dividir esse período em “Período Apostólico” (30-70 d.C), “Período Sub-apóstólico” (70-135 d.C) e “Período dos Mártires e da Institucionalização da Igreja” (135-313 d.C). O termo “Apóstolo” significa “enviado”, em grego. Missionários itinerantes, que tiveram contato com Jesus de Nazaré. Foram testemunhas oculares. Até o ano 100 d.C os cristãos ainda são bem desconhecidos. Os romanos os confundem com os judeus. Aos poucos, o cristianismo vai mostrando sua existência. Era o início da “Grande Igreja”. O Cristianismo nasceu e desenvolveu-se dentro do quadro político-cultural do Império Romano. Durante três séculos o Império Romano perseguiu os cristãos (época das perseguições), porque a sua religião era vista como uma ofensa ao estado, representava outro universalismo e proibia os fiéis de prestarem culto religioso ao soberano. Aos poucos se propagou em Roma e pelo império. As principais e maiores perseguições foram as do imperador Nero, no século I (morte de Paulo, Pedro), a de Décio no ano 250, a de Valeriano (253-260) e a maior, mais violenta e última a de Diocleciano entre 303 e 304 que tinha por objetivo declarado acabar com o cristianismo e a Igreja. O balanço final desta última perseguição constituiu-se num rotundo fracasso, Diocleciano, após ter renunciado, ainda viveu o bastante para ver os cristãos viverem em liberdade. No século IV, o Cristianismo começou a ser tolerado pelo Império, para alcançar depois um estatuto de liberdade e converter-se finalmente, no tempo do imperador Teodósio (379-395), em religião oficial do Estado (380). O imperador romano, por esta época, convocou as grandes assembléias dos bispos, a saber, os concílios e a Igreja puderam então dar início à organização de suas estruturas territoriais.

• O Concílio de Jerusalém (49 d.C) - Ele seria o marco definitivo da ruptura do judaísmo com o cristianismo. A admissão de gentios (não-judeus) era um fato de difícil compreensão para os cristãos-judeus, que ainda se encontravam em parte presos às velhas tradições e práticas antigas. Foi presidido pelo Apóstolo Pedro. Seria o Concílio de Jerusalém, o primeiro deles. Assim foi aceito o batismo de não-judeus. “A salvação é pela fé e pela graça, não pela observância da Lei” (At 15:7-11).

• Início do Monaquismo (séc. IV) - A Cristandade instrumentaliza a Igreja pelo Estado até um determinado ponto. Alguns bispos e os ascetas (eremitas) percebem esse perigo da “mundanização da Igreja”, pois o imperador está “na Igreja e não acima da Igreja” (Santo Ambrósio, bispo de Milão). Eremitas (Latim) / Anacoretas “ir para” (Grego) / Mônacos (Grego)  pessoas solitárias que fugiam do convívio das cidades e aldeias e iam para as margens do deserto. Esses bispos escrevem textos assinalando fronteiras, pois a igreja está no mundo, mas não é o mundo. Ela podia ser protegida pelo Estado, mas não queriam pagar com a sua submissão perante ele. Ela não é poder político. Primeiramente esse movimento é considerado “anárquico”, pois ele se automarginalizou, contudo, foi recuperado pela Igreja e deixou de ficar a margem.

A Cristandade Medieval
Em meio à desorganização administrativa, econômica e social produzida pelas invasões ou migrações germânicas e ao esfacelamento do Império Romano, praticamente apenas a Igreja Católica, com sede em Roma, conseguiu manter-se como instituição. Vemos os Vândalos na África, os Visigodos na Hispania, os Francos na Gália, os Anglos e Saxões nas Ilhas Britânicas, os bárbaros na Itália. Consolidando sua estrutura religiosa, a Igreja foi difundindo o cristianismo entre os povos bárbaros, enquanto preservava muitos elementos da cultura greco-romana. Valendo-se de sua crescente influência religiosa, a Igreja passou a exercer importante papel em diversos setores da vida medieval, servindo como instrumento de unificação, diante da fragmentação política da sociedade feudal. O termo católico (adjetivo grego que significa “Universal”) é usado a partir do Concílio de Trento (1545 - 1563) para designar a Igreja Romana em oposição às Igrejas da Reforma. Antes, o termo utilizado era Cristandade.

• Periodização

A Idade Média (Medium Aevum ou Middle Age)  Termo usado para o período situado entre a Antiguidade e a Idade Moderna. Conceito estipulado no período do Renascimento (XVI) volta do somente para a região da Europa Ocidental, ou seja, não há Idade Média na África, Japão, China... Tem como marco inicial o ano de 476 d.C (fim do Império Romano no Ocidente – tomada de Roma, pelo imperador germânico Odoacro) e tem seu término no ano de 1453 d.C (Fim do Império Romano no Oriente - Tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos). Suas características, entretanto, nunca foram às mesmas no tempo ou no espaço, pois não havia unidade nesse período. É preciso dizer o contexto específico. O período está dividido em: Alta Idade Média (séc. VI - X), Idade Média Central (séc. XI - XIII) e Baixa Idade Média (séc. XIV e XV). Há até hoje um forte preconceito sobre este período, tomado como “Idade das Trevas”, “Escuridão”, de “Pestes e Guerras”, não havia “cidades, nem comércio”, dentre outros adjetivos. Contudo, deve ser levado em consideração que num período de mil anos, não houve apenas pestes, guerras..., Temos que ter um olhar consciente: Nesse período houve a criação das Universidades, da letra minúscula, Parlamento, Hospitais, Tribunal com Júri, aperfeiçoamento da Matemática, geografia, escrita... Devemos estudá-la sem preconceitos, com um olhar crítico e consciente.

• A Cristandade

Entende-se Cristandade por um sistema de relações da Igreja e do Estado (ou qualquer outra forma de poder político) numa determinada sociedade e cultura. Ela perdura até praticamente a Revolução Francesa (1789), com várias modalidades dentro desse processo através dos séculos. Na história do cristianismo, o sistema iniciou-se por ocasião da Pax Ecclesiae em 313 (paz concedida pelo imperador Constantino à Grande Igreja), com o Edito de Milão (põe fim às perseguições) e deu origem à primeira modalidade de Cristandade dita “constantiniana” a qual se apresenta como um sistema único de poder e legitimação da Igreja e do Império tardo-romano. As características gerais desta modalidade “constantiniana” são, entre outras, o cristianismo apresentar-se como uma religião de Estado, obrigatória, portanto para todos os súditos; a relação particular da Igreja e do Estado dar-se num regime de união; a religião cristã tender a manifestar-se como uma religião de unanimidade, multifuncional e polivalente; o código religioso cristão, considerado como o único oficial, ser, todavia diferentemente apropriado pelos vários grupos sociais, pelos letrados e iletrados, pelo clero e leigos. A figura ao lado é o “Monograma de Cristo”, da época de Constantino. Ele é formado por duas letras entrelaçadas, as letras gregas "chi" (X) e "rô" (P). Essas letras são as iniciais de "Christós", em grego: CRISTOS”

• Os Padres da Igreja

Os tempos de ouro da Patrística foram os séculos IV e V, embora possa se entender que se estenda até o século VII a chamada "idade dos Padres". Os principais Pais do Oriente foram: Eusébio de Cesaréia, Santo Atanásio, Basílio de Cesaréia, Gregório de Nisa, Gregório Nazianzo, São João Crisóstomo e São Cirilo de Alexandria. Os principais Padres do Ocidente são: Santo Agostinho, autor das "Confissões", obra prima da literatura universal e Santo Ambrósio, Eusébio Jerônimo, dálmata, conhecido como São Jerônimo que traduziu a Bíblia diretamente do hebraico, aramaico e grego para o latim. Esta versão é a célebre Vulgata, cuja autenticidade foi declara pelo Concílio de Trento. Outros pais que se destacaram foram São Leão Magno e Gregório Magno, este um romano com vistas para a Idade Média, as suas obras "os Morais e os Diálogos" serão lidas pelos intelectuais da Idade Média, e o canto "gregoriano" permanece vivo até os dias de hoje. Santo Isidoro de Sevilha, falecido em 636, é considerado o último dos grandes padres ocidentais.

• A Cristandade Medieval

A Cristandade medieval ocidental é, em certa medida, a continuadora da Cristandade antiga, a do “Império Cristão” dos séculos IV e V. No contexto medieval, acentuou-se muito mais a situação de unanimidade e conformismo, obtida por um consenso social homogeneizador e normatizador, consenso este favorecido pela constituição progressiva de uma vasta rede paroquial e clerical. As instituições todas tendiam, pois, a apresentar um caráter sacral e oficialmente cristão. Sabemos que nela predominou, em geral, a tutela do clero. Não, todavia durante os séculos IX e X, quando a tutela dos leigos sobre as instituições eclesiais a levou à sua feudalização, o que provocou a partir do século XI, o grito dos reformadores, sobretudo eclesiásticos: libertas Ecclesiae. Ocorreu então a reforma “gregoriana”, no século XI, que operou a síntese de uma reforma na e da Igreja, de uma reforma “na cabeça e nos membros”.

• Alguns Fatos Históricos Relevantes

- A Distinção Gelasiana (494)  O Bispo de Roma, “Papa” Gelásio I (492-496) efetuou a distinção entre o poder temporal dos imperadores e o espiritual dos papas, considerando superior o poder destes últimos. Envia um documento ao imperador do Oriente (Anastácio).Definiu a teoria dos dois poderes: o poder temporal (poder do imperador) e o poder espiritual (poder dos bispos). Os bispos, de acordo com essa teoria, seriam superiores ao poder temporal. Estabelecido ainda que a figura do papa não poderia ser julgada por ninguém. Dizia que o papel do Pontífice era antes ouvir do que julgar.

- As Heresias – Define-se como negação ou dúvida pertinaz de uma verdade que se deve crer com fé divina e católica, por quem recebeu o batismo. Ao longo da história da Igreja vemos: O Gnosticismo (séc. II); Maniqueísmo (séc. III); Arianismo (séc. IV); Pelagianismo (séc. V); Iconoclastas (séc. VIII); Cátara e valdense (séc. XII-XIII); Protestantismo e Anglicanismo (séc. XVI); Jansenismo (séc. XVII); Modernismo (séc. XIX). O relativismo doutrinal e moral é tido como a grande heresia atual. O rigor da Igreja no combate às heresias e cismas variaram ao longo dos tempos, com períodos de grande repressão, sobretudo quando tais desvios eram cominados com penas graves pelo poder político.

- Os Mosteiros – Vemos com São Bento de Nursia (529), uma retomada e revigoramento dos mosteiros. Os ermitões (Ermo - desertos), atuavam sozinhos e passam a se organizar em pequenos grupos. São Bento traça uma regra, dando uma forma a vida monástica, a qual passa a ser copiada em outros mosteiros. O dia do monge é dividido em 7 momentos de oração, mais o trabalho manual (penitência), produz seu alimento. “Ora et Labora”. Não é necessário buscar mosteiros distantes, mas se santificar com aqueles que convive. Deu forma ao monasticismo medieval. Ao longo da Idade Média vemos que os mosteiros preservam as escrituras sagradas, tornam-se refúgio, guardam as obras de arte e cultura...

- Fragmentação do Império Romano no Ocidente  Com as migrações germânicas e a queda do Império Romano no ocidente (476) os bispos começam a buscar a unificação. Apelam para a elite romana “Romanitas”, que passam a defender os valores cristãos. Os reis bárbaros vão se convertendo ao longo dos anos. Vemos a ação do papa Gregório I, o Magno (590-604) assinala que “todo o poder foi dado ao alto aos meus senhores para ajudar os homens a fazer o bem”. Assim os bispos e o Imperador e os reis têm a função de ajudar o bem e punir o mal. Primeiro papa monge, intitulava-se Servidor dos Servidores de Deus. Aproveitou-se da falência imperial na Itália para assumir o poder temporal. Desligou-se da influência bizantina e aproximou-se dos germânicos. Visigodos, suábios e lombardos se converteram. Agostinho foi à Inglaterra e converteu os anglo-saxões. Os escritos de Gregório Magno instruíram o clero e fortaleceram a religiosidade dos fiéis. Sua Regra Pastoral serviu de manual para os padres em toda a Idade Média.

- As Cruzadas - Atendendo ao apelo do papa Urbano II, em 1095, foram organizadas na Europa expedições militares conhecidas como cruzadas (esses missionários assim se chamavam pela cruz de pano que levavam na veste), cujo objetivo oficial era conquistar os lugares sagrados do cristianismo (Jerusalém, por exemplo) que estavam em poder dos muçulmanos e turcos. Entretanto, além da questão religiosa, outras causas motivaram as cruzadas: a mentalidade guerreira da nobreza feudal, canalizada pela Igreja contra inimigos externos do cristianismo (os muçulmanos); e o interesse econômico de dominar importantes cidades comerciais do Oriente. Os cristãos eram estimulados pelas indulgências que lhes prometiam o perdão dos pecados e a posse do céu. De 1095 a 1270, a cristandade européia organizou oito cruzadas, tendo como bandeira promover guerra santa contra os infiéis. Era a guerra santa, justa, pois eles estavam difamando o santo sepulcro, a terra santa. Foram, ao todo, oito grandes incursões. Vemos a Cruzada Popular ou dos Mendigos (1096), Primeira Cruzada (1096-1099), Segunda Cruzada (1147-1149), Terceira Cruzada (1189-1192), Quarta Cruzada (1202-1204), Cruzada Albigense, Quinta Cruzada (1217-1221), Sexta Cruzada (1228-1229), Sétima Cruzada (1248-1250), em março de 1270, o rei Luís IX, São Luís, decide organizar uma nova cruzada - Oitava Cruzada (1270), a qual fracassa e ele morre em combate.

- Querela das Investiduras - A Questão das Investiduras refere-se ao problema de a quem caberia o direito de nomear sacerdotes para os cargos eclesiásticos, ao papa ou ao imperador. No século X, o imperador Oto I, do Sacro Império Romano Germânico, iniciou um processo de intervenção política nos assuntos da Igreja a fim de fortalecer seus poderes. Fundou bispados e abadias; nomeou seus titulares (abades leigos) e, em troca da proteção que concedia ao Estado da Igreja, passou a exercer total controle sobre as ações do papa. Durante esse período, a Igreja foi contaminada por um clima crescente de corrupção, afastando-se de sua missão religiosa e, com isso, perdendo sua autoridade espiritual. As investiduras (nomeações) feitas pelo imperador só visavam os interesses locais. Os bispos e os padres nomeados colocavam o compromisso assumindo com o soberano acima da fidelidade ao papa. No século XI surgiu um movimento reformista, visando recuperar a autoridade moral da Igreja, liderado pela Ordem Religiosa de do mosteiro de Cluny (França). Esses ideais foram ganhando força dentro da Igreja, culminando com a eleição, em 1073, do papa Gregório VII, antigo monge daquela ordem reformista.

- A Reforma Gregoriana (Século XI) – Os papas escolhidos passam a ser de origem germânica (monges), logo os papas romanos saem de cena, pois os primeiros não teriam parte com a política local. Com isso as reformas têm inicio com esses papas de origem monástica, com amplas mudanças de cima para baixo, hierarquizada, uma reforma das instituições. Hildebrando, reformador ligado ao movimento de Cluny, tinha acesso ao papa e, sob sua influência, Nicolau II criou em 1059 o Colégio dos Cardeais, com finalidade de eleger o papa, limitado o cesaropapismo. Primeiro, há uma reforma do clero, contra os abusos existentes, das instituições (reforma da Igreja). Também havia a necessidade da mudança dos corações, dos pensamentos (reforma na Igreja). A reforma viria do papado, passaria pelos bispos, presbíteros e monges até chegar aos leigos. Esse espírito de reforma foi lento e progressivo, aos poucos, vemos os abusos sendo retirados. Em 1073, Hildebrando foi eleito papa, com o nome de Gregório VII. Instituiu totalmente o celibato dos sacerdotes, em 1074, e proibiu que o imperador investisse sacerdotes em cargos eclesiásticos, em 1075. O Imperador alemão Henrique IV reagiu dando o papa como deposto. Desenvolveu-se, então, um conflito aberto entre o poder temporal do imperador e o poder espiritual do papa. O papa considerou o imperador igualmente deposto, excomungando-o, e proibindo os vassalos de lhe prestar serviço, sob pena de excomunhão. Há uma interdição (sem batismos, sem eucaristia, sem extrema unção). Henrique foi ao Castelo de Canossa em 1077 e pediu perdão ao papa, que o concedeu. Esse conflito foi resolvido somente em 1122, pela Concordata de Worms, assinada pelo papa Calixto III e pelo imperador Henrique V. Adotou-se uma solução de meio termo: caberia ao papa a investidura espiritual dos bispos (representada pelo báculo), isto é, antes de assumir a posse da terra de um bispado, o bispo deveria jurar fidelidade ao imperador.

- Hospitalários (Ordem dos) - O ideal cavalheiresco da Idade Média levou à criação de várias instituições de apoio aos doentes internados, ordem leiga de caráter assistencialista (1113), hospital para os peregrinos que vinham feridos e cansados.

- Os Templários - Ordem fundada em França (1119) para lutar contra os infiéis. O nome veio-lhes da casa que tiveram em Jerusalém sobre as ruínas de uma mesquita (cavaleiros da Ordem doTemplo). Fazem votos dados pelo patriarca de Jerusalém. Em 1129, vê-se a implantação militar. Prestaram notáveis serviços na Terra Santa e no Sul da Europa, chegando a ter 5 províncias e 4000 membros. É oficializada em 1199. As benesses recebidas de reis e papas deram-lhes grande poder financeiro, o que levou Filipe o Belo, rei de França, a acusá-los, com a conivência da Inquisição, de crimes graves, obrigando o Papa (Clemente V) a suprimi-los. Muitos foram mortos. Os seus bens, em França, foram confiscados pelo rei; em Portugal, passaram para a Ordem de Cristo, fundada por D. Dinis.

- Cisma do Ocidente (1378-1417) - resultante da coexistência de papas e antipapas, fruto de rivalidades dentro e fora da Igreja. Não há um “cisma” de fato, pois o que se dividiu é a obediência a dois papas e não à obediência eclesial. Após a morte do papa Gregório XI, há um conclave com 16 cardeais e depois de muitas dificuldades elegem um italiano, Urbano VI. Ele era intransigente, rude, indelicado e os cardeais assinalam que querem rever a decisão e pedem a sua renúncia. Ele rejeita. Grande parte dos cardeais vão para Nápoles e realizam novo Conclave, elegendo Clemente VII. A Igreja passa a ter “dois papas”. Eles ficam em Avinhão (França). A obediência fica dividida, ambos governando. Estados que apoiavam Urbano VI (Escandinávia, Flandres, Inglaterra, o Imperador e a maioria dos príncipes) usam a força para destituir Clemente VII (apoiado pelos parentes do rei da França Carlos V, Escócia, Castela), como uma cruzada. Essa seria a “Via Facti”. Os reis, os prelados, os párocos, as ordens religiosas tomam partido e ajudam nessa adesão de obediências. Em 1394, morre Clemente VII e é eleito Bento XIII. Também morre Urbano VI e é eleito Gregório XII. Continuam dois papas a governar. Em 1409, os dois grupos buscam uma via conciliar para resolver a situação, com o Concílio de Pisa, destituem os dois papas e elegem Alexandre V (com a maior parte das Ordens Religiosas decididas a fazer uma inteira reforma na Igreja). Os dois papas não aceitam e a igreja passa a ser governada por 3 papas. Alexandre V morre e é eleito João XXIII (nome depois cancelado e renascido somente no século XX - e já no ano seguinte tomou posse da catedra romana). Apenas em 1417, vemos uma solução: João XXIII se demite, Gregório XII abdica e Bento XIII é deposto e se isola na Catalunha, sem apoio. Martinho V (1417-1431) é eleito e traz a unicidade novamente. Retorna para Roma. Em 1439, ainda teríamos o antipapa Félix V, contudo, não avança tal fato.

- A Inquisição - Tribunal eclesiástico para averiguar e julgar os acusados de heresia. A sua instituição jurídica data de 1232 (Inquisição Medieval), pelo papa Gregório IX, para disciplinar as freqüentes práticas persecutórias da parte do povo e dos príncipes, muitas vezes sob a forma de linchamentos. No séc. XI apareceu uma heresia fanática e revolucionária, como não houvera até então: o Catarismo (do grego katharós, puro) ou o movimento dos Albigenses (de Albi, cidade da França meridional, onde os hereges tinham seu foco principal). Em geral, a Inquisição quando condenava um herege entregava-o ao braço secular, para lhe aplicar o castigo previsto nas respectivas leis e costumes, incluindo a morte na fogueira. A Igreja aplicava a condenação espiritual, “no outro mundo”. O seu funcionamento dependia muito dos inquisidores, que eram normalmente dominicanos, alguns deles elevados às honras dos altares (como S. Pedro de Verona, morto às mãos dos Cátaros). Devem reconhecer-se, além da crueza própria dos costumes de então, verdadeiros abusos e injustiças (como a condenação dos Templários e de Sta. Joana de Arc). Ficou também célebre a condenação (sem execução) de Galileu. Nos sécs. XV-XVI, a Inquisição foi reorganizada para enfrentar a heresia protestante, em geral, a pedido dos príncipes católicos. Em Espanha foi autorizada em 1478, em moldes que a fazia depender muito do poder civil. Em Portugal teve acuação moderada desde o séc. XIV, mas só se tornou particularmente rigorosa com D. Manuel I e D. João III, pelas medidas discriminatórias contra judeus e cristãos-novos. A Inquisição é inconcebível para a atual mentalidade, mas a sua correta apreciação deve ter em conta os tempos em que vigorou, em que a heresia era sentida como perigo grave para a unidade da Igreja e do Estado, e em que as penas aplicadas eram comuns no direito corrente dos povos. A Igreja aplicava as penas espirituais (na outra vida), tais como a excomunhão. Os condenados pela inquisição eram entregues às autoridades administrativas do Estado, que se encarregavam da execução das sentenças. As penas aplicadas a cada caso iam desde a confiscação de bens até a morte em fogueiras.

A intervenção do poder secular exerceu profunda influência no desenvolvimento da inquisição. As autoridades civis anteciparam-se na aplicação da forma física e da pena de morte aos hereges; instigaram a autoridade eclesiástica para que agisse energicamente; provocaram certos abusos motivados pela cobiça de vantagens políticas ou materiais.

De resto, o poder espiritual e o temporal na Idade Média estavam, ao menos em tese, tão unidos entre si, que lhes parecia normal recorrer um ao outro em tudo que dissesse respeito ao bem comum. Quanto a Inquisição Papal instituída no séc. XVI era herdeira das leis e da mentalidade da lnquisição medieval. Os países ibéricos (Portugal e Espanha) foram os grandes difusores do Santo Ofício, principalmente no Novo Mundo.

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**Juberto de O. Santos é professor de História, bacharel e licenciado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, lecionando atualmente em cursos pré-vestibulares e preparatórios.
Quaisquer dúvidas: historiador_ufrj@yahoo.com.br

A Formação do Feudalismo

INTRODUÇÃO

A formação do feudalismo, na Europa Ocidental, envolveu uma série de elementos estruturais, de origem romana e germânica, associados aos fatores conjunturais, num longo período, que engloba a crise do Império Romano a partir do século III, a formação dos Reinos Bárbaros e a desagregação do Império Carolíngeo no século IX.

A CRISE ROMANA

A partir do século III a crise do Império romano tornou-se intensa e manifestou-se principalmente nas cidades, através das lutas sociais, da retração do comércio e das invasões bárbaras. Esses elementos estimularam um processo de ruralização, envolvendo tanto as elites como a massa plebéia, determinando o desenvolvimento de uma nova estrutura sócio econômica, baseada nas Vilae e no colonato.
As transformações da estrutura produtiva desenvolveram-se principalmente nos séculos IV e V e ocorreram também mesmo nas regiões onde se fixaram os povos bárbaros, que, de uma forma geral, tenderam a se organizar seguindo a nova tendência do Império, com uma economia rural, aprofundando o processo de fragmentação.
Em meio a crise, as Vilae tenderam a se transformar no núcleo básico da economia. A grande propriedade rural passou a diversificar a produção de gêneros agrícolas, além da criação de animais e da produção artesanal, deixando de produzir para o mercado, atendendo suas próprias necessidades.
Foi dentro deste contexto que desenvolveu-se o colonato, novo sistema de trabalho, que atendia aos interesses dos grandes proprietários rurais ao substituir o trabalho escravo, aos interesses do Estado, que preservava uma fonte de arrecadação tributária e mesmo aos interesses da plebe, que migrando para as áreas rurais, encontrava trabalho.

O COLONO

O colono é o trabalhador rural, colocado agora em uma nova situação. Nas regiões próximas à Roma a origem do colono é o antigo plebeu ou ainda o ex-escravo, enquanto nas áreas mais afastadas é normalmente o homem de origem bárbara, que, ao abandonar o nomadismo e a guerra é fixado à terra
O colono é um homem livre por não ser escravo, porém está preso à terra.
A grande propriedade passou a dividir-se em duas grandes partes, ambas trabalhadas pelo colono; uma utilizada exclusivamente pelo proprietário, a outra dividida entre os colonos. Cada colono tinha a posse de seu lote de terra, não podendo abandona-lo e nem ser expulso dele, devendo trabalhar na terra do senhor e entregar parte da produção de seu lote.
Dessa maneira percebe-se que a estrutura fundiária desenvolve-se de uma maneira que pode ser considerada como embrionária da economia feudal
É importante notar que durante todo o período de gestação do feudalismo ainda serão encontrados escravos na Europa, porém em pequena quantidade e com importância cada vez mais reduzida.

AS INVASÕES BÁRBARAS

Os povos "bárbaros", ao ocuparem parte das terras do Império Romano, contribuíram com o processo de ruralização e com a fragmentação do poder, no entanto assimilaram aspectos da organização sócio econômica romana, fazendo com que os membros da tribo se tornassem pequenos proprietários ou rendeiros e, com o passar do tempo, cada vez mais dependentes dos grandes proprietários rurais, antigos líderes tribais.
O colapso do "Mundo Romano" possibilitou o desenvolvimento de diversos reinos de origem bárbara na Europa, destacando-se o Reino dos Francos, formado no final do século V, a partir da união de diversas tribos francas sob a autoridade de Clóvis, iniciador da Dinastia Merovíngea.
A aliança das tribos, assim como a aliança de Clóvis com a Igreja Católica impulsionou o processo de conquistas territoriais, que estendeu-se até o século IX e foi responsável pela consolidação do "beneficium", que transformaria a elite militar em elite agrária.
O "Beneficium" era uma instituição bárbara, a partir da qual o chefe tribal concedia certos benefícios a seus subordinados, em troca de serviços e principalmente de fidelidade. Em um período de crise generalizada, marcada pela retração do comércio, da economia monetária e pela ruralização, a terra tornou-se o bem mais valioso e passou a ser doada pelos reis a seus principais comandantes.

O IMPÉRIO CAROLÍNGEO

Durante o reinado de Carlos Magno (768 - 814), a autoridade real havia se fortalecido, freando momentaneamente as tendências descentralizadoras. Como explicar então a formação do feudalismo, se o poder real é fortalecido? Primeiro a centralização deve ser vista dentro do quadro de conquistas da época, comandadas pelo rei, reforçando sua autoridade, mas ao mesmo tempo, preservando o beneficium. Com o Estado centralizado, a cobrança das obrigações baseadas na fidelidade ainda são eficientes e esse função é destinada aos "Missi Dominici" ( enviados do rei). Segundo, a Igreja Católica já era uma importante instituição, que, ao apoiar as conquistas do rei, referenda sua autoridade e poder, ao mesmo tempo que interfere nas relações sociais, como demostra o "Juramento de Fidelidade" instituição de origem bárbara que passou a ser realizada sob "os olhos de Deus" legitimando-a como representativa de sua vontade.
No entanto é importante perceber as contradições existentes nesse processo: a Igreja construiu sua própria autoridade e como grande proprietária rural tendeu, em vários momentos, a desvincular-se do poder central.

AS RELAÇÕES VASSÁLICAS

As relações de subordinação desenvolveram-se desde o século V, no entanto foi durante o reinado de Carlos Magno que tomaram sua forma mais desenvolvida. O incentivo aos laços de vassalagem num primeiro momento fortalecia o poder real, pois direta ou indiretamente estendia-se a toda a sociedade, no entanto, com o passar do tempo o resultado tornou-se oposto na medida em que as relações pessoais foram reforçadas, diminuindo portanto a importância do Estado.

30 de março de 2010

MÚSICA MEDIEVAL

OS TEMPLARIOS

ARMADURA





Uma das coisas que produz o efeito mais profundo são as armaduras medievais.

A armadura manifesta algo da robustez moral daqueles cavaleiros, daquela vontade indomável e daquela deliberação.

A armadura não é propriamente um traje. Poderia se disser que era um traje de luta, mas não um traje para a vida de todos os dias.

O homem punha na hora do combate ou na hora que se exercitava para o combate.

A armadura é feita para a guerra, com elmos e roupas de ferro. Aquela vestimenta de metal é para guerreiro.
.

Os medievais tinham armaduras muito bonitas e muito finas. Não eram bordadas nem tinham sedas pela simples razão de que tinham outro e prata. ás vezes com aplicações imitando os desenhos da seda!

CASTELOS MEDIEVAIS

22 de março de 2010

A magia na Grécia Antiga

No apogeu da civilização grega os rituais de feitiçaria desafiavam o poder da lógica e da razão dominates




Quem podia imaginar que os gregos, defensores da idéia de democracia, do debate e do direito ao voto eram praticantes da magia para fazer mal ao inimigo. No livro Os Trabalhos e os Dias, o poeta do séc. VIII a.C., Hesíodo, recomenda que "se alguém começar tanto dizendo quanto fazendo algo indelicado, esteja certo de pagar-lhe a ofensa duas vezes mais", ou seja, para os gregos devemos ajudar os amigos e prejudicar duas vezes mais o inimigo. A vingança entre os helenos tinha um valor positivo e deveria ser buscada por aqueles que se considerassem lesados por alguém. Logo, era lícito retribuir uma ingratidão ou desrespeito, pois, nessa sociedade, temia-se a vergonha da ofensa que atingia a honra e acarretava a desqualificação moral do indivíduo diante dos demais integrantes da comunidade à qual pertencia.

Entretanto, na impossibilidade de revidar uma ofensa o grego usava das práticas da magia. O pesquisador Louis Gernet, especialista em direito grego, afirmava que a magia deve ser considerada como uma das formas mais antigas de fazer valer o direito individual. Toda sociedade, qualquer que seja a sua complexidade, necessita de dispositivos legais para fixar normas, regras e fazê-las obedecidas pelos seus integrantes. A comunidade grega visando a paz, harmonia e solidariedade aciona os dispositivos estratégicos de manutenção da ordem, forçando o cidadão lesado a não fazer uso da vingança individual, incentivando-o a trazer a sua indignação ou ofensa para o espaço público do debate no tribunal.

Mesmo com todo esforço civilizatório, a Pólis não poderia interferir em todos os campos da vida do cidadão. Em conflitos amorosos, por exemplo, o Estado se vê de mãos atadas, pois não pode punir ninguém sem uma acusação formal. A situação das mulheres é emblemática já que a feitiçaria muitas vezes era um dos únicos meios de se fazer temida e até respeitada. Ou seja: a magia era a tentativa dos desvalidos (mas não só) de fazerem valer sua vontade por meios subreptícios.

A documentação textual produzida desde Homero até Tucídides nos aponta para a existência de práticas mágicas que integravam as cerimônias religiosas e públicas. Os rituais de magia praticados pelos gregos nas cerimônias beneficiavam toda a comunidade visando atender aos que estavam doentes, aqueles em perigo ou diante de qualquer necessidade. Havia rituais mágicos públicos para fazer chover a fim de se ter uma boa colheita, ritos para a fertilidade dos animais, para o nascimento de crianças saudáveis do sexo masculino e ritual de cura de doenças realizados no Templo do deus Asklepio. O fenômeno aponta para o estabelecimento da relação culto/benefícios concretizados, por meio das oferendas votivas aos deuses e seres sobrenaturais tais como lume, incenso, flores, doces, grãos de trigo e cevada, água e mel. Podemos afirmar que algumas destas práticas de doação às divindades em troca de algum benefício na verdade sobrevivem até os dias atuais como o ato de acender velas nos templos e na forma de contribuição monetária e doações.

"Anteriormente, quando A RELIGIÃO ERA FORTE e a CIÊNCIA FRACA, os homens confundiam MÁGICA COM MEDICINA; agora, quando a CIÊNCIA É FORTE E A RELIGIÃO FRACA, os homens confundem a MEDICINA COM MÁGICA."
Thomas Szasz, psiquiatra húngaro e divulgador científico

A MAGIA VEM DO ORIENTE

Em relação à palavra magia, Heródoto, considerado o pai a história, menciona que o termo estaria relacionado à palavra magos ou magus, definido como indivíduo pertencente à tribo dos medos, antiga tribo dominada pelos persas. O historiador se refere aos magos como feiticeiros que integravam seitas secretas e prestavam serviços aos reis. A função dos magos foi relembrada pelo poeta Ésquilo ao trazer a memória dos atenienses, na tragédia Os Persas de 472 a.C., o domínio dos medos nas práticas mágicas de contatos com seres sobrenaturais através do ritual de psychagogos/evocação dos mortos. No drama, o poeta constrói a trama na qual Atossa, a rainha persa, necessitava dos conselhos do marido que havia sido morto em batalha. A rainha busca auxílio junto aos sacerdotes, solicitando que eles evocassem a alma do rei Dario através de rituais mágicos. Tal fato deixa transparecer que cabia aos magos estabelecer contato com os seres sobrenaturais, executar sacrifícios aos deuses, realizar rituais fúnebres, além de interpretar sonhos e presságios.

ESCRITOS DO MAL

Os Katadesmos ou defixiones eram tabletes de chumbo ou argila amaldiçoados, que visavam evocar o poder dos deuses subterrâneos contra uma pessoa particular ou um grupo ligado de alguma forma. Porém as motivações podiam variar de destruir as atividades profissionais, obstruir um julgamento na justiça, romper um relacionamento indesejado a até evocar a morte ou paralisia. Muitas vezes, os nomes das entidades evocadas não aparecem nas figuras o que indica que eram evocados em um pequeno ritual oral. Um tablete encontrado no séc. I d.C., já no período romano, perto da cidade grega de Micenas, agradece os deuses pela vingança obtida com o seguinte texto:

A vingança de Hefesto foi derramada. Primeiro Hecate prejudica os pertences de Megara em todas as coisas, e depois Perséfone relata aos deuses. Todas essas coisas já o são.

Abaixo alguns defixiones e seus textos amaldiçoados.*

Maldição contra os processos
Maldição contra um grupo de homens que atuam no pequeno comércio de varejo, vendas localizadas na Ágora envolvendo alguns indivíduos de atividades comercial e juízes.




Lítias, enterro/prendo a Hermes Retentor e a Perséfones a língua de Litias, as mãos de Litias, a alma de Lítias Lítias, os pés de Litias,o corpo de Lítias, a cabeça de Litias. Nícias, enterro/prendo as mãos do areopagita a Hermes Retentor, os pés, a língua, o corpo de Nicias.

Contra o ofício
Tablete encontrado perto da Ágora, no antigo distrito industrial de Atenas. A praga envolve um ferreiro, seus socios e negócios.




Enterro/prendo Arista.... o ferreiro Para baixo e Pirrían o ferreiro E as atividades deles e as almas Deles e Sósias de Lámias E a atividade e a alma dele E Hegésia sempre e sempre E Hegésia a Beócia.

O mais interessante nesta história é que cinqüenta anos depois, Eurípides nos apresenta a protagonista Medéia, cujo nome acreditamos derivar da palavra medos. Na tragédia Medéia, o poeta coloca a protagonista como mulher de feroz caráter e hedionda natureza por usar de seus conhecimentos mágicos no uso das ervas, acrescido do uso de encantamentos, para fazer valer a sua vontade de efetivar a vingança contra os seus inimigos. Medéia pertence a uma linhagem de deuses e magos, a saber: neta do deus Hélios, sobrinha da feiticeira Circe e sacerdotisa de deusa Hécate - senhora dos mortos.

Magos e sacerdotes por vezes se confundem nas suas funções, pois ambos realizam rituais de contato dos homens com os deuses e seres sobrenaturais; a diferença está no tipo de ritual a ser praticado, ou seja, o rito podia ser público visando benefícios coletivos ou praticados de maneira oculta e secreta visando atender o interesse individual.

MULHERES E O SABER OCULTO

O nosso conhecimento sobre as práticas da magia de fazer mal ao inimigo, realizada entre os atenienses no período clássico, provém do poeta Eurípides com a tragédia Medéia, de texto de oradores áticos como Andocides, Demóstenes, Hipérides e do filósofo Platão na obra Leis. No período do processo de helenização promovida por Alexandre da Macedônia indicamos o escritor Th eocrito com a sua poesia Mágica na qual a protagonista Samanta executa rituais mágicos para trazer de volta o seu amado.





AMARRAÇÃO PARA O AMOR Os gregos e praticantes da magia envolvidos num triângulo amoroso acreditavam que o philtroi katadesmoi - katadesmo amoroso - eram encantamentos eficazes para fazer alguém ficar apaixonado ou trazer de volta uma paixão.

O interessante dessa documentação está no fato de apontarem as mulheres como as especialistas nas atividades mágicas. Alguns pesquisadores, como Madeleine Jost, consideram o domínio das ervas e raízes como atributo que pertence ao universo feminino devido à proximidade das mulheres na elaboração de alimentos. A historiadora tem por suporte de informação a documentação proveniente da poesia épica, clássica e helenística que coloca as mulheres míticas como Circe, Calipso, Medéia e Samantha como especialistas e detentoras de domínio no saber usar as ervas como veneno ou remédio.

O discurso dos oradores áticos apresenta fatos interessantes ao narrar os processos judiciais impetrados nos tribunais de Atenas, cujas vitimas geralmente eram as belas e jovens cortesãs, as hetairai, cobiçadas mulheres estrangeiras que atuavam como sacerdotisas de cultos a divindades estrangeiras e prestavam serviços sexuais de alto preço aos cidadãos de recursos em Atenas. Mulheres como Frinea da região de Th espis, Nino, Th eoris de Lemnos configuram-se como profundas conhecedoras da arte da magia para fazer mal ao inimigo e do preparo de poções amorosas. Conhecidas como hetairas, cuja tradução é companheiras, foram acusadas de impiedade pelo fato de receitarem infusões, banhos de ervas e ungüentos contraceptivos, além de poções para atrair o amado. Os acusadores, em geral, eram homens, seus clientes que foram vítimas de algum erro na dosagem, o que acarretou em danos à saúde de alguns como a impotência sexual e deve ter causado a morte de outros.

INJUSTIÇADOS E CHARLATÕES

Entretanto não podemos afirmar serem as mulheres estrangeiras as únicas detentoras dos conhecimentos mágicos de fazer mal ao inimigo, pois Platão deixa transparecer na obra A República a existência de homens que circulavam em Atenas, identificados como goetes, charlatões, que colocavam à disposição, por um alto preço, seus serviços mágicos a quem pudesse pagar. Estes consistiam em evocar e persuadir os deuses e seres sobrenaturais a atenderem as solicitações dos interessados em prejudicar seus inimigos, adversários e concorrentes.

Todo aquele cidadão de Atenas envolvido numa situação de desordem pessoal e movido por um acentuado sentimento de raiva, ódio e rancor tinha diante de si duas situações para recorrer às práticas mágicas ilegais: de um lado podia sentir-se lesado, prejudicado pelo seu oponente que parecia usar da lei do mais forte para tornar inoperante a sua atividade e seus negócios; nesse caso, de forma preventiva, o solicitante fazia uso da magia para trazer o prejuízo ao inimigo e assegurar a sua vitória sobre o adversário. Uma outra situação que envolvia o solicitante e usuário da magia estava no fato de ele ser acometido pelo sentimento de inveja chamada de phtonos e despeito diante da sua incapacidade de sucesso e decide de forma ofensiva impor a ruína aos adversários através de práticas mágicas.

Os mundos da feitiçaria

A Grécia ficou conhecida como berço da razão e da cultura ocidental. Mas os vestígios deixados pela magia nos mostram os bastidores desse mundo injusto permeado pelo desejo de vingança. Os deuses evocados pelos rituais mágicos eram em geral Ctônicos, entidades muito antigas ligadas à terra e habitantes do submundo associado à idéia de vingança e justiça, em contraste com a ordem imposta dos céus pelos deuses olímpicos. O Oriente, por tradição, abrigava as forças desconhecidas e era lar dos conhecimentos ocultos.

DEUSES OLÍMPICOS: Eram menos requisitados nas práticas mágicas por representarem as forças da ordem.
HERMES: Podia entrar e sair do submundo sem impedimentos. Por essa característica limiar era o mais evocado nos defixiones. Além de ser mensageiro, tinha a função de carregar as almas para o mundo dos mortos.
TEMPLO: (adoração) A forma oficial de religião da Grécia antiga. Por meio da adoração, buscava-se a graça dos deuses através de pedidos e sacrifícios.
CARONTE: O barqueiro tinha a função de levar as almas para o mundo dos mortos. Mas se o falecido não tivesse uma moeda para pagá-lo esperava a carona por um século.
HADES: O chefão do submundo aparecia em muitas inscrições de maldição, auxiliado por cérbero, o cão tricéfalo.
DEFIXIONES: (magia) Essas práticas buscavam uma intervenção na realidade. Eram voltadas para fazer mal aos indivíduos, principalmente aprisionando-os e imobilizando-os na Terra.
DAIMEONS (demônios): Os espíritos menores levavam os pedidos dos mortais aos deuses do subterrâneo e às vezes cumpriam, eles mesmos, a tarefa.
MAGOS: Foram uma importante casta sacerdotal no império persa. Seus conhecimentos ritualísticos e astrológicos transformaram o nome em sinônimo de feiticeiro.
PERSÉFONE: A rainha dos mortos era tão poderosa que mesmo pronunciar seu nome podia trazer desgraça.
HÉCATE: Deusa três em um, era muito procurada por seu poder tendo se tornado a entidade preferida da magia negra. Possuía um caráter múltiplo e agia no mar, na terra e no céu.
MEDÉIA: A personagem mitológica simbolizava o poder irracional intrínseco ao Oriente e às mulheres, que contrastava com o racionalismo do homem grego.

A partir do momento em que decide agir, mesmo sabendo dos riscos, cabia ao solicitante buscar o conhecimento de um especialista, o magus-feiticeiro, que tinha por objetivo demonstrar toda a sua capacidade de realização, pois o sucesso na empreitada significava prestigio, respeito, sucesso e algum retorno financeiro. Entretanto, ao atender o desejo de levar à morte um inimigo do solicitante, o magus acreditava adquirir mais poder diante da possibilidade de ter a sua disposição e ordem as almas de indivíduos que seriam mortos antes do tempo determinado pelas Moiras/Parcas/Destino.

LÂMINAS DO SUBTERRÂNEO

A magia para fazer mal ao inimigo foi identificada por Platão, nas Leis, como katadesmos ou defixiones. O nome deriva do verbo katadeo que significa amarrar, prender, imobilizar alguém embaixo da terra. O termo tece aproximações no sentido de afundar, enterrar, ocultar e tem como equivalente no latim a palavra defixio, ou seja, fixar embaixo junto ao mundo dos mortos. As duas palavras nomeiam as finas lâminas de chumbo que circularam no universo do Mediterrâneo grego e romano do séc. V a.C. até o VI d.C. O uso das lâminas de chumbo para prejudicar o inimigo resistiram às mudanças de contexto sociocultural de Atenas como a consolidação do regime democrático, ultrapassou o período de crise da forma de governo democrático com as investidas da realeza de Alexandre da Macedônia e a subordinação ao Império Romano.




CARTA PARA O ALÉM Os deuses evocados nas lâminas são Hecate, Hermes, Perséfones, Hades, Cérberos. Todos pertencem ao mundo subterrâneo e têm o epíteto de ctônios cuja função é deter e manter no mundo dos mortos os inimigos. A única divindade ausente nas lâminas é Caronte que nunca é mencionado.

Várias lâminas de chumbo foram encontradas em cemitérios, nos santuários, em poços d`água e nos leitos de rios em Atenas. A incidência maior e mais documentada é o Cemitério do Kerameikos, em Atenas, atravessado pelo rio Eridanos, cujas escavações estão sob a responsabilidade do Instituto Alemão de Arqueologia, o German Archaeological Institute in Athenas.

"Não procure GANHOS INJUSTOS; eles são EQUIVALENTES AO DESASTRE."
Hesíodo, Os Trabalhos & os Dias

As lâminas de chumbo identificadas também como tabletes de imprecação apontam para uma diversidade de modelos de fórmulas mágicas inscritas nas superfícies dos defixione, tais como maldições contra testemunhos de processos judiciais, imprecações contra atividades comerciais, contra adversários de disputas atléticas e solicitação para eliminar um rival envolvido em triângulo amoroso. Os arqueólogos alemães e ingleses identificam o total de 2500 lâminas de chumbo com maldições espalhadas por diferentes museus públicos e coleções privadas da Europa. Deste total, apenas 600 foram identificadas e catalogadas. No Brasil, o Núcleo de Estudos da Antiguidade/UERJ detém as cópias de 250 lâminas em processo de tradução para uma futura publicação.

A magia de fazer mal ao inimigo manteve o ato de enterrar objetos nos túmulos, como unhas e cabelos da vítima amaldiçoada

As inscrições presentes na superfície das lâminas são conhecidas desde o século XIX; começaram com o filólogo Albrecht Dieterich que lançou a idéia de reunir todos os papiros com as maldições, porém o trabalho só foi concluído pelo seu aluno Richard Wünsch. As publicações com as últimas descobertas estão no livro de D.R.Jordan em 1985 e Maria A. Jimeno em 1999, ambos ainda não traduzidos para o português.

Os arqueólogos destacam as dificuldades de manuseio das lâminas de chumbo pelo fato de a grande maioria ter sido encontrada enrolada e depositada em locais úmidos como sepulturas, leito de rios e poços de água. Estes locais de assentamento foram escolhidos devido ao contato direto com o mundo dos seres e das potências subterrâneas.

Para ter acesso à inscrição na superfície da lâmina é necessária a aplicação de um tratamento químico visando à remoção dos resíduos e muito cuidado ao desenrolar o frágil artefato que, por vezes, está transpassado por um prego denominado de passalos. As inscrições nas lâminas não permitem a identificação do autor da maldição, mas deixam transparecer qual o prejuízo que se desejava ao inimigo. Às vezes o nome do inimigo estava escrito com letras inversas visando atrasar sua vida. Em relação aos seres sobrenaturais, o nome do oponente estava endereçado a divindades como Persefones, Hermes, Hécate e Cérbero como forma de manter a vítima presa no mundo dos mortos.

A magia de fazer mal ao inimigo através das finas lâminas de chumbo, manteve- se através dos tempos, permanecendo como características o ato de enterrar objetos nos túmulos, como figuras humanas feitas de chumbo junto a pedaços de vestuário, unhas, cabelos da vítima a ser amaldiçoada. A prática nos remete à possibilidade de comparação da magia dos gregos com o Candomblé da Bahia, Cuba, Caribe com as suas práticas de rituais vodu, e as divindades teriam atributos semelhantes tais como Hermes/ Exú, Hécate/Pomba-Gira e Hades/Zé Pilintra, assim como os vestígios arqueológicos de rituais de sacrifícios, entendidos como despachos realizados nas encruzilhadas e nos cemitérios; se superarmos os preconceitos, podemos estabelecer mais similitudes do que diferenças.

O APRENDIZ DE FEITICEIRO

A lâmina de chumbo identificada como praga contra processo judicial do IV séc. a.C, de inventário n° 14470 do Museu Nacional de Atenas, cuja inscrição diz " enterro Kalistratos e os sinégoros dele..... a todos enterro" nos indica que o cidadão Kalistratos estava movendo um processo no tribunal contra alguém. A vítima reage fazendo uso de meio extralegal da magia como um recurso que o auxilie e garanta a sua vitória. O usuário da magia e o magus/feiticeiro colocam o nome do acusador e mencionam os sinégoros que seriam as pessoas que receberam algum recurso financeiro para auxiliarem Kalistratos na disputa. O solicitante e inimigo de Kalistratos tem por objetivo garantir sua própria vitória e impedir o sucesso do pleito levado ao tribunal.




EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO O antropólogo inglês Sir James Frazer no livro Ramo de Ouro afirmava
ser a magia uma superstição, vestígio de religião muito antiga. Outros defendiam ser uma forma
degenerada da religião cívica dos atenienses. Pesquisadores do século XVIII , como Emile Durkheim, consideram que a magia integravam um processo evolutivo do qual seria o primeiro estágio; a religião comportava a etapa seguinte, desacreditando o pensamento mágico e preparando o espaço para a razão e o pensamento científico da modernidade.

Outros artefatos de chumbo que caracterizam ter um envolvimento jurídico evidenciam que junto ao nome da vítima, o solicitante coloca grafado na lâmina as partes do corpo do inimigo: a língua visava impedir o acusador de usar da palavra de acusação ou defesa diante dos jurados; a exigência de paralisar os pés e as mãos tinha por objetivo impedir a vítima de chegar até o tribunal e impedir a sua capacidade de escrever ou pegar o discurso a ser proferido diante do júri a seu favor.

Fica evidente que ser feiticeiro no V século a.C. em Atenas era uma profissão de risco e um dos prérequisitos era saber ler e escrever. As inscrições nas lâminas de chumbo apresentam diferentes maneiras de usar a escrita que podia ser do tipo boustrofondo, procedimento muito próximo ao ato de arar o campo em sulcos alternados indo da esquerda para a direita, retornando em direção oposta quando a letra ficava voltada para o lado contrário; havia o retrógrado que se refere ao ato de escrever de cima para baixo e a opistográfica na qual se escrevia no lado da frente e no anverso da lâmina de chumbo.

Foram encontradas inscrições nas lâminas contra as atividades e ofícios no qual o solicitante ora exige que a maldição atinja a residência e destrua a família do adversário ora pede aos seres sobrenaturais que deixem a vítima inerte, agindo como um ser sem vida, um morto vivo. Tal imobilidade fatalmente traria a ruína aos seus negócios. Não podemos esquecer que o praticante da magia dos defixiones é alguém se sentindo ameaçado, que teme perder algo de valor. Como solução busca forças alternativas no poder da magia para fazer valer o que considera seu por direito, independente de preceitos éticos e da lei que rege a comunidade à qual pertence.

Leituras da História

A normalidade da violência em Roma

Para o gladiador dor e morte deixavam de ser coisas terríveis para se tornar parte corriqueira da vida. Honra e vergonha são palavras-chave para entendermos a paixão romana pela arena







Os jogos de gladiadores fornecem um bom exemplo dos intrincados percursos sociais do espetáculo no mundo romano. As disputas de gladiadores eram um fato normal da vida cotidiana havia muito tempo. Durante o Império, os combates de gladiadores aumentaram de freqüência e se difundiram por todo o mundo romano. Surgiu um tipo especial de edifício, o anfiteatro, que funcionava como palco das lutas entre gladiadores e de outras formas de espetáculo. Em Roma, assim como nas províncias, as lutas de gladiadores estavam sempre ligadas à pessoa do imperador. Era ele que as oferecia em Roma e, nas províncias, eram os sacerdotes do culto imperial os responsáveis por sua realização. Os anfiteatros eram uma espécie de microcosmo da sociedade romana, como parte e reflexo do cotidiano. Os assentos eram repartidos segundo as classes da população, e o próprio anfiteatro era um local onde a população não apenas via, mas se fazia ver e ouvir, no qual imperador e plebe, dirigentes e dirigidos se confrontavam face a face, onde o anonimato da massa conferia força e consistência para o apoio ou para as reivindicações da plebe. Nesse espaço, sagrado e mundano, as lutas entre gladiadores ocupavam um lugar especial.

O anfiteatro era, para os romanos, parte de sua normalidade cotidiana, um lugar no qual reafirmavam seus valores e sua concepção do “normal”. Nos anfiteatros eram expostos, para serem supliciados, bárbaros vencidos, inimigos que se haviam insurgido contra a ordem romana. Nos anfiteatros se supliciavam, também, bandidos e marginais, como por vezes os cristãos, que eram jogados às feras e dados como espetáculo, para o prazer de seus algozes ou daqueles que defendiam os valores normais da sociedade.

Mas os combates de gladiadores ocupavam um lugar à parte, um lugar de honra. Embora, de início, os gladiadores tenham sido, em sua maioria, prisioneiros de guerra ou escravos, na época do Império boa parte era de origem livre, os auctorati, que se ofereciam como gladiadores, colocando-se sob o poder de seu mestre (o lanista), ao qual prestavam juramento sagrado.

Esse juramento transformava o gladiador num ser para o qual a dor e a morte deixavam de ser ameaças terríveis para transformar-se em parte corriqueira da vida: um simples momento, o momento da verdade, que deixava de ser objeto de angústia para se tornar objeto de honra. Honra e vergonha são palavras-chave para entendermos a paixão que os gladiadores suscitavam no mundo romano. O gladiador vencido, em vez de lutar inutilmente pela vida, oferecia graciosamente o pescoço a seu adversário e à platéia. Transmutava, assim, a vida num combate glorioso, cujo fim, necessário para todos, podia ser uma morte digna. A figura do gladiador era um belo espelho de realização humana, um modelo para filósofos e religiosos. Não era o massacre, a vista do sangue, a dor alheia que seduziam os espectadores, mas um uso, todo próprio, todo especial, todo romano, do que nós mesmos consideramos uma violência absurda.

História Viva

A história da Bandeira Nacional.

No momento do ato da queda da Monarquia, os republicanos não possuíam uma bandeira própria, havia sim alguns modelos que eram usadas em alguns clubes republicanos e algumas confeccionadas para o momento.
Com a Proclamação da República, surge logo a primeira Bandeira Republicana, conhecida como a bandeira do Centro Republicano Lopes Trovão, baseada na bandeira estadunidense, com sete listras horizontais verdes e seis amarelas. Esta bandeira ficou hasteada por quatro dias na câmara municipal do Rio de Janeiro, porém por se tratar de uma cópia da Americana foi alvo de controvérsias.
Logo alguns positivistas não eram de acordo com a nova bandeira, pois a República Brasileira era de inspiração francesa e apesar do entusiasmo com a República Americana, a França era o modelo a ser seguido. Tão logo, conceberam outra bandeira idealizada por Décio Villares, este modelo era de concepção positivista.
Foram retirados os símbolos imperiais como a cruz, a coroa e os ramos de café e tabaco, as estrelas que circulavam o globo foram pra dentro, e a principal inovação e que foi alvo de grande polêmica foi à introdução da divisa “Ordem e Progresso” isso porque segundo a filosofia positivista uma sociedade exemplar teria o amor como principio, a ordem como base e o progresso como fim.
A nova bandeira e a Imperial e relacionam, pois as duas mantiveram as mesmas cores conservando. Aspectos da bandeira imperial como o losango amarelo e o verde que representavam as famílias dos Bragança e Habsburgo se preservaram. Mudando-se, porém, a explicação das mesmas. Portanto o verde não simboliza as matas e o amarelo não simboliza a riqueza. Apenas as cores da família imperial.


Projetos da Nossa Bandeira:

5 de março de 2010

Pré-História

O homem surgiu na África e não descendeu dos macacos, mas ambos descenderam de um tronco primata comum, um antepassado mamífero com capacidade de manusear coisas com as mãos.


Os homens passaram por várias mudanças. Com os hominídeos a locomoção ficou diferente, sobre dois membros, em posição vertical, o que chamamos de bipedalismo.
Mas muito antes do gênero Homo, vivia no leste e sul da África o hominídeo Australopitecus. Uma mudança climática também possibilitou a aparição de espécies animais como os antílopes e bugios. O Australopitecus alimentava-se de frutos, raízes e folhas.

O bipedalismo foi um dos acontecimentos mais marcantes da evolução humana, pois a libertação das mãos facilitou a caça, a fabricação de objetos e a vizualização das grandes feras. O homem ganhou maior mobilidade e conquistou o planeta.

O primeiro representante do gênero Homo é o Homo habilis, que evoluiu na África sem a extinção do Australopitecus. Um pouco mais alto e com membros superiores mais curtos, o Habilis não se locomovia com o auxílio das mãos. Ele não era ainda um grande caçador, mas rapinante (cortava cadáveres de grandes animais, como hipopótamos).
A aquisição da linguagem desenvolveu o pensamento e a construção de cultura. Com a evolução do tamanho do cérebro, o homem ganhou maior consciência e raciocínio. O desenvolvimento da linguagem oral é uma conseqüência da adaptação e evolução do cérebro.



Na seqüência evolutiva, Homo erectus – postura ereta – dominou o fogo. O primeiro conjunto fóssil do erectus foi encontrado em Java, depois na China, na África e na Europa. O mais conhecido fóssil de erectus é o Homem de Pequim. O certo é que o erectus, nascido na África, se dispersou e se diversificou segundo as regiões em que habitou.

O domínio do fogo aconteceu a aproximadamente 800 mil anos, segundo evidências em uma caverna próximo a cidade de Pequim na China. O fogo foi de extrema importância, pois possibilitou afastar as feras, partir pedras, fabricar cerâmicas, iluminar-se, aquecer-se e cozer os alimentos. As chamas davam luz à noite, permitia a realização de atividades não somente determinada pela luz solar, além de explorar o interior de cavernas. O homem pôde controlar o processo de queima e o mistério do calor. O fogo ainda conferiu um sentimento novo, uma nova liberdade, fonte de alegria e segurança. O homem se afirmou em relação ao animal. A vida passou a organizar-se de maneira mais estável, complexa e organizada, contribuindo com a organização social.

Com o “surgimento” da caça, o homem pôde imaginar novas armas. Foi uma importante atividade que devia ser planejava e pensada no coletivo. Com ela o homem aprendeu a trazer a caça ao “acampamento” e a partilhar, trocar, etc.

A passagem do Homo erectus ao Homo sapiens foi acompanhada por transformações. Do Homo sapiens há duas subespécies: o Homo sapiens neandertalensis e o Homo sapiens sapiens.




O homem de Neandertal viveu na Europa e na Ásia. Seu nome é o de um vale alemão onde foi encontrado a primeira espécie, em 1856. O neandertal é caracterizado como de altura baixa (menos de 1,6 m), musculatura vigorosa, poderosa dentadura e crânio desenvolvido. Ele era do frio, já que na Europa havia glaciações. Para se proteger do frio, ele se instalava em grutas voltadas para o sul ou construía tendas de pele. Caçava animais pequenos e grandes, pescava e comia moluscos, cozinhava seu alimento e fabricava instrumentos de pedra. Além disso, o Neandertal enterrava os seus mortos. Este fato é importante, uma vez que o cuidado com os mortos antes não existia. Traços de ritual funerário foram encontrados, sendo que o cerimonial incluía o enterro dos corpos deitados de lado e cercados de oferendas. Seu desaparecimento permaneceu inexplicado.

O sapiens sapiens se espalhou por toda a terra, a cerca de 20 a 40 mil anos atrás: a América, a Nova Guiné, a Austrália e o Japão possuem registros. A sua cultura evoluiu de maneira a nos revelar as primeiras manifestações artísticas indiscutíveis. Era coletor e caçador. Os vegetais, frutos, moluscos (possivelmente comiam caracóis, pelo grande número de conchas encontradas por arqueólogos), mel e ovos de aves faziam parte de seu regime alimentar – e não eram apenas complementos, uma vez que a caça nem sempre se concretizava. Como não podia conservar seus alimentos, consumia-os rapidamente.
O sapiens sapiens aperfeiçoou a linguagem, e os instrumentos criados anteriormente foram melhor utilizados graças a uma aceleração técnica e cultural. O crânio desenvolveu-se, as maxilas passaram a ser menos poderosas. Possuía espírito criativo, desenvolvendo a arte com pinturas gravadas nas paredes das cavernas.



O homem passou a usar instrumentos cada vez mais sofisticados e especializados pelo trabalho, ‘pedra polida’, arco e flecha, harpão, agulha de costura.. O homem passou a dominar a natureza, procurando vencê-la. Aos poucos, arte, religião e magia relacionaram-se na expressão de sentimentos e emoções da vida cotidiana que passaram a ser ordenados para satisfazer as suas necessidades psicológicas.


Referências bibliográficas:
BOURGUIGNON, André. História Natural do homem. Vol.1: O homem imprevisto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
CHILDE, Gordon. A Evolução cultural do homem. 5ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.
CLARKE, Robert. O Nascimento do homem. Lisboa: Gradiva, 1980.
GUGLIELMO, Antônio Roberto. A Pré-história. Uma abordagem ecológica. São Paulo: Brasiliense, 1991.
LEAKEY, Richard & LEWIN, Roger. O Povo do Lago. São Paulo: Melhoram0entos, 1988.

Escravidão ontem, escravidão hoje

Por que os colonizadores utilizaram o trabalho escravo na colônia americana?
Por que eles escravizaram povos africanos?

- Porque o cultivo da cana-de-açúcar em grandes propriedades e com a produção voltada para a exportação, necessitava de um grande número de trabalhadores;
- Porque os africanos, muitas vezes eram associados aos muçulmanos, deveriam ser trazidos à América para purgarem seus pecados;
- Principalmente porque o comércio de homens e mulheres africanos realizado pelos europeus era extremamente lucrativo, o que justificava a opção mais consistente pela escravidão africana em detrimento à escravidão indígena (que também existiu);


O tráfico de africanos

Uma boa fonte de lucro para navegadores e comerciantes.
Na África conseguiam negros para escravizar através de:
- Caçadas: entravam nas aldeias, perseguiam e prendiam seus habitantes.
- Negociação com os chefes das aldeias que vendiam membros de seu grupo em troca de tecidos, armas, jóias, tabaco, algodão, aguardente, etc.
- Provocação de guerras entre os diferentes povos para depois comprar os prisioneiros;


Rotas do tráfico




Cerca de 1/3 dos negros morria durante uma travessia de dois meses e meio a 3 meses





Interior de um Navio Negreiro. No centro, um negro pede água ou comida.




Castigos físicos

Açoite público no tronco. Os delitos considerados graves eram punidos com o chicote; para as faltas menores usava-se a palmatória.







Uma das formas de resistência eram as fugas. Os senhores - no século XIX - publicavam nos jornais anúncios de fugas e prometiam recompensas para quem encontrasse os 'fujões'.




Existe escravidão no Brasil de hoje?

Hoje a diferença é que essa escravidão independe de cor. O que eles têm em comum é a pobreza, que os submete a regimes de “trabalho escravo contemporâneo”, regimes estes que roubam não somente a liberdade, como a saúde destas pessoas, pois mal se alimentam e são expostas a trabalhos noturnos, perigosos, insalubres e o que é ainda pior, sem descanso.




Mesmo 120 anos depois da abolição da escravidão no Brasil, ainda há muitos casos de trabalho escravo.Os casos mais conhecidos são na Amazônia e as atividades que mais escravizam hoje são a carvoaria, a fruticultura e as plantações de cana de açúcar.

A herança de Judeus e muçulmanos

A herança também é genética

Judeus e muçulmanos, expulsos da Península Ibérica
no século XV, deixaram um rico legado arquitetônico
e cultural. A influência também está marcada no DNA: um
em cada três portugueses e espanhóis descende de judeus



(Alhambra, arquitetura mourisca, em Granada, e, à direita, a expulsão dos judeus)


A curiosidade em relação aos antepassados é um componente da natureza humana. Para reconstruir a história, conta-se tradicionalmente com documentos, testemunhos e artefatos arqueológicos. Agora, uma nova ferramenta está à disposição dos estudiosos: a pesquisa genética. Ela permitiu comprovar que os ameríndios são originários da região central da Sibéria (...) Um estudo genético divulgado neste mês traz outra revelação inesperada: um terço da população de Espanha e Portugal – países com uma história de fervor católico e intolerância religiosa – tem entre seus ancestrais judeus ou mouros.

Mais de 99% do genoma humano é idêntico em todas as pessoas. Mas cada grupo populacional possui um conjunto de pequenas mutações identificáveis, chamadas marcadores. Estes marcadores podem ser rastreados por meio da análise do cromossomo Y, que passa quase intacto de pai para filho. Fizeram parte do estudo 1 140 portugueses e espanhóis cujos avôs também eram nascidos na Península Ibérica – o que indicava que suas famílias estavam ali desde pelo menos 1900. Esse material foi comparado com os marcadores de muçulmanos do norte da África e de judeus sefarditas de várias nações para medir a sua presença na população ibérica atual. Sefarditas são os descendentes dos judeus expulsos da Espanha e de Portugal no século XV. A conclusão: 20% dos habitantes desses dois países possuem ascendência judaica e 11% têm genes árabes e berberes.

Os muçulmanos invadiram a Península Ibérica em 711 e dominaram boa parte dela por sete séculos. A presença judaica remonta à primeira grande diáspora depois da tomada de Jerusalém pelas legiões romanas, no ano 70. Os judeus consideram como uma era de ouro justamente o início do domínio mouro. Foi um período de florescimento cultural, com destaque para a medicina e a filosofia, e de relativa tolerância religiosa. Apesar das disputas dinásticas e das rixas entre tribos berberes, em raras ocasiões os judeus e os cristãos foram massacrados ou forçados à conversão. Em parte por razões pragmáticas, dizem os historiadores, visto que os "infiéis" pagavam altos impostos.




A convivência foi sepultada em 1492, quando os reis Isabel de Castela e Fernando de Aragão tomaram Granada, o último reduto mouro na península. No mesmo ano, os judeus foram forçados a se converter ou deixar a Espanha. Na época, havia cerca de 400 000 deles no país. Desses, 120 000 fugiram para Portugal. Quatro anos depois, a intolerância religiosa cruzou a fronteira. Para cederem a mão de sua filha Isabel ao monarca português dom Manuel I, os reis da Espanha exigiram a expulsão dos judeus que recusassem a conversão. Até o marquês de Pombal destruir os registros, no século XVIII, os convertidos, chamados de cristãos-novos, permaneceram cidadãos de segunda classe em Portugal e também no Brasil. Percebe-se agora que as conversões ao cristianismo durante a Inquisição parecem ter ocorrido em maior quantidade do que se pensava.

"O que mais nos surpreendeu foi o fato de a influência judaica ser tão maior que a muçulmana, mesmo com séculos de domínio mouro", disse a VEJA o historiador português Jorge Martins, autor do livro Portugal e os Judeus. "Até hoje não há compreensão do real tamanho da contribuição judaica para nossa identidade nacional." Atualmente, essas confissões religiosas compõem menos de 2% da população da península e nem sempre são vistas com bons olhos. No último censo realizado em Portugal, apenas 1 773 pessoas se declararam de religião judaica. Segundo uma pesquisa recente, metade dos espanhóis tem uma visão negativa dos judeus, um dos índices mais altos de toda a Europa. À luz do estudo genético, pode-se dizer que se trata de uma visão distorcida da própria imagem no espelho.

(Fonte: Revista Veja, 24 de dezembro de 2008)

Grécia Antiga

Período Homérico
A Grécia é uma península banhada por três mares: mar Jônico, mar Egeu e mar Mediterrâneo. Tem a leste a Ásia Menor (atual Turquia). O litoral grego é muito recortado, formando portos naturais. Os mares que circundam a Grécia são pontilhados de ilhas e ilhotas famosas pela sua beleza natural.




Era uma região diferente daquelas habitadas pelos povos orientais que viviam em férteis planícies às margens dos grandes rios, ao passo que os gregos que ocupavam uma área muito montanhosa, tinham que trabalhar duramente um solo pobre e pedregoso para conseguir sua agricultura de subsistência.
Devido à pobreza da terra, nas pequenas áreas cultivadas formavam-se agrupamentos humanos (pequenas comunidades) separadas uma das outras por vários acidentes geográficos


Os dórios transformam a Grécia Antiga

A chegada dos dórios no século XII a.C. provocou a desestruturação dos povoados e espaços urbanos da Grécia Antiga, com o enfraquecimento do comércio, o fim do uso da escrita e a fuga da população para regiões distantes. A sociedade da Grécia Antiga passou a apresentar, então, fortes características rurais, caracterizando-se o início do período Homérico, que se estendeu até o século VIII a.C.
A base da organização da sociedade eram as unidades familiares, denominadas genos, cada qual liderada por um patriarca, que desempenhava funções de sacerdote, juiz e chefe militar e cujo poder era transmitido hereditariamente do pai para o filho mais velho.
Os membros de cada genos cultuavam um ancestral comum, em geral considerado descendente dos deuses ou heróis. A terra, os equipamentos e todos os bens produzidos pertenciam à comunidade. A subsistência era garantida por uma produção que envolvia a maior parte dos integrantes dos genos, sob a liderança do patriarca.





O período Homérico recebe este nome devido à grande importância cultural que teve o poeta Homero, ao descrever os acontecimentos da época em suas duas grandes obras: a Ilíada e a Odisséia. O nome "Ilíada" veio da palavra Ilion, que em grego significa Tróia. Temos, assim, a história da Guerra de Tróia. Já o nome "Odisséia" vem da palavra Odisseu que em grego significa Ulisses. Essa obra conta as aventuras de Ulisses, ao voltar à sua terra natal após a eclosão da Guerra de Tróia. É justamente nesse período que começa a divisão dos grupos familiares na Grécia Antiga. As famílias que tinham um descendente comum formavam um clã denominado geno Estes se aglomeravam, formando as fratrias que, unidas geravam as tribos. Quando algumas tribos se aliavam, geralmente pela ameaça de um inimigo comum, era criada uma cidade-estado.



Com a fragmentação dos genos, surgiram as classes e desigualdades sociais e ainda dois problemas vieram à tona: primeiro a dispersão da população por outras áreas da Ásia menor e a formação de uma oligarquia da aristocracia rural. Essas mudanças dão fim ao período homérico da história grega

Cidades-estados gregas

Esparta e Atenas
As Pólis eram conhecidas como cidades-Estados, porque eram como cidades mas cada uma tinha tanto poder, que até parecia um país.
Duas Pólis se destacaram: Atenas e Esparta…





Esparta
Esparta era cercada de montanhas, numa área de difícil acesso. A sociedade era muito guerreira. Todos os homens eram treinados e se tornaram os melhores e mais disciplinados soldados da Grécia. Os espartanos tinham leis muito rígidas, dois reis para governar e eram os grandes rivais de Atenas.

Esparta foi fundada pelos dórios, que conseguiram dominar os aqueus e se apossaram de suas terras. Cercada por montanhas, não tinha saída para o mar. Assim, não desenvolveu o comércio e a navegação.
A sociedade estava dividida em três grupos sociais:
Esparciatas - guerreiros, descendentes dos dórios. Eram a camada dominante, detentora das terras e possuía direitos políticos.
Periecos - os aqueus que nao resistiram aos invasores. Eram homens livres, mas sem direitos políticos. Atuavam como camponeses, artesãos e comerciantes. Em época de guerra, eram convocados para o serviço militar.
Hilotas - a maioria da população. Eram servos do Estado e trabalhavam nas terras dos esparciatas.
Os hilotas tinham vida miserável, estavam expostos à violência, exerciam várias atividades e revoltavam-se com frequência.



A organização do poder político era feita de maneira a manter os privilégios da camada dominante. Os principais órgãos políticos eram:
Diarquia - formada por dois reis.
Gerúsia - era o conselho dos anciãos, composta por pessoas com mais de 60 anos que fiscalizavam e administravam os assuntos do governo.
Ápela - uma assembléia popular formada por cidadãos com mais de 30 anos.



Atenas
Atenas estava localizada perto do mar. Por isso, era um dos principais centros exportadores da Grécia. Esta pólis era poderosa, ficou muito rica… mas a quantidade de escravos crescia e lutava por mais direitos.


Localizada na Ática, nas proximidades do mar Egeu, formou-se com o ajuntamento de tribos jônicas. Desenvolvia o artesanato e o comércio.
A sociedade era formada pelas seguintes camadas:
Eupátridas - os 'bem nascidos', tinham privilégios, eram os grandes proprietários de terras.
Geomores - pequenos proprietários de terras.
Demiurgos - comerciantes e artesãos.
Metecos - eran os estrangeiros que moravam em Atenas e se dedicavam ao comércio e ao artesanato.
Escravos - prisioneiros de guerra e pessoas condenadas por dívidas.
A vida do escravo eram muito difícil. Alguns trabalhavam nas minas de prata, outros nas atividades domésticas e até mesmo na prostituição. As fugas eram frequentes.

A organização do poder se dava com um rei intitulado basileus. A monarquia foi a primeira forma de governo. Aos poucos, os eupátridas passaram a limitar o poder do rei.

Aos poucos, artesãos e comerciantes enriqueceram e passaram a reivindicar participação política. Daí, houve confronto entre os grupos sociais e para resolvê-las foi necessário algumas reformas