O autor do texto que segue nos dá uma visão geral sobre as muitas religiões do brasileiro, ou melhor, de sua religiosidade.
A maioria do povo brasileiro é oficialmente católica. Mas, na hora do aperto, cada um apela para qualquer tábua de salvação: curas prometidas por templos petencostais, revelações em centro espíritas, despachos em terreiros de macumba ou consulta à mãe-de-santo na umbanda. Por isso, diz-se que o brasileiro não tem propriamente religião e sem religiosidade.
De fato, muitos brasileiros possuem uma religiosidade sincretista: uma mistura de diferentes influências religiosas, predominando a mescla entre o cristianismo de estilo europeu e as tradições trazidas pelos escravos e preservadas pela população negra do país.
Soma-se a isso a superstição ou crendice tão comum em nossa gente: não passar debaixo de escada, evitar o mau-olhado, jogar um gole da bebida para o santo, proteger-se de acidentes com as fitas coloridas do Senhor do Bonfim etc. é falsa a idéia de que tais superstições estariam ligado as ao baixo nível cultural de nossa população. Nos Estados Unidos, os elevadores não marcam 13° andar.... Porém, é verdade que a miséria serve de caldo de cultura para a rápida expansão de igrejas, seitas ou templos que prometem curas a quem não pode pagar médico e remédios; alívio espiritual a quem vive sob angústia em situações conflitivas geradas pela falta de recursos (como excesso de moradores num pequeno cômodo de favela); glórias celestiais a quem trabalha oprimido, por um salário de fome.
Nos últimos anos, cresce no Brasil a influência de correntes religiosas orientais, bem como o interesse pela astrologia. No fundo, as pessoas buscam um pouco de paz em situações difíceis e, frente à insegurança social, aspiram prever caminhos do futuro.
A Igreja reconhece que outras religiões são também caminhos para o encontro com Deus e o amor ao próximo. Há evidentes sinais evangélicos em expressões religiosas não-católicas. Porém, dentro do respeito à liberdade de consciência de cada ser humano, a Igreja alerta para o risco das “curas milagrosas”, aconselhando que se lute por melhores condições de assistência à saúde na sociedade brasileira (...)
É preciso também distinguir religião e magia. Na religião, os fiéis se submetem à vontade de Deus, convictos de que o Pai sempre deseja o bem e a felicidade de seus filhos. Na magia, os fiéis participam de rituais ou encomendam despachos, acreditando que assim podem obter a submissão da divindade à vontade deles. Ora, Deus não se submete aos nossos caprichos e nem devemos tomar seu santo nome em vão. (...)
Frei Betto. Catecismo Popular. São Paulo, Ática, 1992, p.239-40
Texto retirado da internet.
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