26 de abril de 2009

Grandes navegações

A expansão marítima espanhola
Newton Nazaro*



A Espanha foi o segundo país a se lançar na aventura das grandes navegações. A primeira viagem marítima se deu em 1492, com Colombo - setenta e sete anos depois de os portugueses invadirem Ceuta, no Reino de Fez (atual Marrocos), em 1415.

Vários motivos levaram a Espanha a esse "atraso" na busca de uma rota para o comércio de especiarias que não passasse pelo Mediterrâneo (controlado pelas cidades-Estado de Gênova e Veneza), nem pela costa africana, conhecida pelos portugueses até o Cabo da Boa Esperança, no extremo-sul do continente.

Um desses motivos foi a prioridade dada à reconquista da península, numa luta que se prolongou por 781 anos, a guerra mais longa de que se tem notícia. A vitória castelhana sobre o Califado de Granada, último reduto muçulmano na península Ibérica, data exatamente de 1492.

Outro motivo foi a unificação tardia dos reinos cristãos de Leão, Castela, Aragão e Navarra. O passo mais importante nessa direção foi dado somente em 1469, quando o casamento de Fernando de Aragão e Isabel de Castela deu origem ao Reino Católico de Fernando e Isabel, núcleo inicial do que viria a ser a Espanha.

Cristóvão Colombo e seu projeto polêmico
Em meados do século 15 acreditava-se que a Terra era redonda e plana, um disco. Por isso, quase ninguém levava a sério o projeto do navegador genovês Cristóvão Colombo, de chegar às Índias perseguindo o pôr-do-sol. Isso só seria possível se a Terra tivesse o formato de um globo, o que contrariava a concepção dominante na época.

Mesmos assim, a idéia de atingir o Oriente pelo Ocidente foi arduamente defendida por Colombo. Um debate travado entre ele e os padres da Universidade de Salamanca, em 1486, custou-lhe a exposição ao ridículo, a pecha de louco e quase uma condenação à fogueira da Inquisição, já em plena atividade na Espanha (muito antes do Concílio de Trento, que viria a ressuscitá-la como reação à Reforma protestante, no século 16).

Ainda que tivesse conseguido a adesão de algumas pessoas influentes, como a própria rainha, o projeto de circunavegação do então suposto globo terrestre só ganhou credibilidade depois que o respeitável Martin Pinzón foi confirmado no comando de uma das três embarcações que comporiam a esquadra.

As caravelas Santa Maria, Pinta e Nina
Finalmente, em 3 de agosto de 1492, a bordo da caravela Santa Maria, Cristóvão Colombo partiu do porto de Palos rumo ao oeste, seguido pela Pinta e pela Nina. Setenta dias depois a esquadra chegou à ilha de Guanahani, nas Antilhas, rebatizada como San Salvador pelo próprio "Almirante das Índias".

Colombo faria, nos doze anos seguintes, mais três viagens à América. Na segunda (1493 a 1496), atingiu as ilhas de Cuba, Jamaica, Espanhola (Haiti e República Dominicana), Borinquén (Porto Rico), Guadalupe, Dominica e Martinica. Na terceira viagem (1498 a 1500), enquanto os portugueses Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral chegavam, respectivamente, à Índia e ao que viria a ser a costa brasileira, Colombo desembarcava na ilha de Trinidad e na costa norte da América do Sul.

Na quarta e última viagem (1502 a 1504), Colombo navegou pela costa da América Central, ainda na esperança de encontrar uma passagem para regiões produtoras de especiarias. Morreu em 1504, acreditando ter atingido um braço da Ásia e contrapondo-se à teoria de que se tratava de um novo continente, defendida por Américo Vespúcio, a quem coube a glória de ver seu nome dado, pelo rei Fernando, às terras recém-descobertas.

Ouro e prata impulsionaram colonização espanhola
Na disputa contra a nobreza - aliada do rei da Espanha - pelo governo das novas terras, o descobridor da América levou a pior. A ganância por cargos e riqueza aumentou a pressão dos nobres sobre o rei, e Colombo caiu no ostracismo.

Ouro e prata, no México, e prata, no Peru, impulsionaram a colonização espanhola desde a primeira metade do século 16. A organização da mão-de-obra indígena pelo sistema de encomienda, imposto pelos colonizadores no caso mexicano, e a adoção da mita, já praticada pelos incas, submeteu grandes contingentes de nativos a jornadas desumanas nas minas.

Não raro essas jornadas terminavam em morte por exaustão. Ao redor dessas regiões, a agricultura e o pastoreio destinavam-se exclusivamente ao abastecimento dos pólos de mineração. No mais, havia um quase vazio demográfico entre ambos.

O impacto do derrame de metais preciosos na Europa deu capacidade de importação de manufaturados à Espanha, em detrimento de seu próprio setor manufatureiro. Em toda a Europa, o significativo aumento da circulação de moedas provocou sua desvalorização e, conseqüentemente, um aumento generalizado nos preços.

Praticamente sem manufaturas, e com o declínio da produção das minas americanas, a Coroa espanhola viu-se em apuros em meados do século 17. A aventura e os lucros da expansão marítima alçaram o país ibérico à condição de maior potência da Europa e do mundo. Mas esse posto foi ameaçado e tomado por duas potências ascendentes, a Inglaterra e a Holanda, antes que a primeira metade do século chegasse ao final.

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