26 de abril de 2009

Cisplatina

Uruguai já foi província brasileira
Newton Nazaro*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação



Em 31 de julho de 1821, o Uruguai foi anexado ao "Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarve", sob comando do rei Dom João 6º. A região foi batizada de "Prvíncia Cisplatina", que significa "aquém do Rio da Prata".

Para entender como isso aconteceu, é necessário retomar a história ao século 18.


De São Pedro do Rio Grande, atual Rio Grande do Sul, as incursões de colonos portugueses continuaram a ameaçar a posse da Espanha sobre a região. Cavalos, mulas e bois selvagens se tornaram objeto de sua cobiça para que, arrebanhados, fossem vendidos como animais de transporte para as zonas produtoras de açúcar e ouro.

No caso do gado bovino, seu couro já valia mais que a prata decadente do Peru e sua carne, salgada, servia de alimento para os escravos.

A expansão da mineração para oeste da linha de Tordesilhas, a partir de 1730, representou a expansão da atividade comercial para o que hoje são Mato Grosso e Goiás.

Nesse aspecto, a navegação pelos rios da Prata, Paraná e Paraguai era a ligação possível entre as cidades litorâneas do Brasil, principalmente o Rio de Janeiro, e as populações do Centro-Oeste. Quando, em 1808, a corte portuguesa se transferiu para o Brasil, dom João não tardou a se inteirar da questão.

O revolucionário José Artigas
O movimento liberal de José Artigas pela independência da Banda Oriental (do rio Uruguai) em relação às Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina) preocupava dom João.

O discurso abolicionista e republicano de Artigas poderia se alastrar pelo Rio Grande e, daí, para todas as demais regiões do Brasil. Para além da questão pura e simples da escravidão, a pregação liberal fatalmente afetaria a autoridade do príncipe regente instalado no Rio de Janeiro.

Como medida preventiva, dom João ordenou, em 1811, uma primeira invasão à região. Além da preservação de sua autoridade, a anexação da margem norte do rio da Prata também representava a manutenção do caminho fluvial com Mato Grosso e Goiás e do acesso ao gado e ao comércio de toda a bacia platina.

Como pretexto para a invasão, dom João apoiou-se no fato de sua esposa, Carlota Joaquina, ser espanhola e reivindicar para si o governo da região, quando a Espanha estava ocupada pelas bonapartistas. Os ingleses, por outro lado, se opunham à idéia e fizeram de tudo para que as tropas portuguesas se retirassem do território invadido.

Província Cisplatina
Naquele momento, a Inglaterra buscava se unir à Espanha contra o poderio de Napoleão Bonaparte e seu governo não poderia apoiar a passagem das terras entre o Prata e o rio Grande para o controle da coroa portuguesa. Sem o respaldo britânico, dom João acabou voltando atrás e ordenando a retirada de suas tropas, em 1812.

A supremacia de um governo antiabsolutista e antiescravista na região, porém, continuava a ser uma ameaça para a estrutura sociopolítica brasileira, que subsistia ao fim do pacto colonial, após a abertura dos portos, em 1808.

Por isso, em 1816, dom João (agora, já coroado como dom João 6º) decidiu por uma nova incursão militar. Cinco anos depois, a região foi incorporada ao Brasil.
*Newton Nazaro é graduado em História pela PUC-SP, professor do Curso Intergraus, em São Paulo, e co-autor da coleção "Panoramas da História", a ser lançada pela Editora Positivo.

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