26 de abril de 2009

Governo Prudente de Morais (1894-1898)

Presidente enfrenta Canudos
Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação



O paulista Prudente de Morais foi o primeiro presidente civil da Primeira República. Sua eleição encerra o período dos governos provisórios dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto e marca o início do predomínio da oligarquia cafeicultora no poder.

Prudente de Morais, porém, assumiu o governo federal num momento em que o país atravessava uma grave crise econômica e um conflito político envolvendo divergências de interesse entre as duas principais facções republicanas: os radicais florianistas e a oligarquia cafeeira. Prudente de Morais pacificou o estado do Rio Grande do Sul e venceu a Guerra de Canudos, essas vitórias fortaleceram seu o governo e seu mandato.

Crise econômica
No final do século 19, a economia brasileira continuava sendo predominante agrária. O Brasil era basicamente um país exportador de matérias primas e produtos agrícolas (café, algodão, borracha, etc.). O café era o principal produto de exportação, responsável pela geração de grande fonte de renda e divisas.

Porém, anualmente os preços do café vinham despencando devido à concorrência internacional, enquanto a produção interna aumentava. Mas os cafeicultores não eram prejudicados, porque eram protegidos e amparados economicamente pelo governo federal.

A industrialização ainda era muito incipiente. O governo se esforçava para estimular a expansão industrial através da concessão de financiamentos para a importação de maquinário, e criação de taxas alfandegárias que dificultavam a entrada de produtos manufaturados estrangeiros que pudessem concorrer com os produtos similares produzidos no país.

Ricos e pobres
As oligarquias agrárias de modo geral, mas principalmente os cafeicultores, não concordavam com a política governamental de incentivo à industrialização, pois queriam que os recursos empregados fossem canalizados exclusivamente para o setor rural e para produção agrícola voltada para exportação.

A grave crise econômica prejudicava as camadas populares urbanas e rurais. A inflação crescia e o dinheiro se desvalorizada rapidamente. O reajuste dos salários nunca acompanhava o aumento do custo de vida, e isso fazia com que o poder aquisitivo e, consequentemente, a condição de vida da classe trabalhadora piorasse.

Crise política
Os militares e a oligarquia cafeicultora foram os principais promotores da Proclamação da República. Porém, os dois grupos não compartilhavam dos mesmos ideais políticos, pois os militares desejavam a instalação de um regime republicano centralizado, enquanto os cafeicultores defendiam um regime republicano federativo, onde os Estados fossem econômica e administrativamente autônomos para serem controlados de acordo com seus interesses locais.

O conflito político entre os militares e a oligarquia cafeicultora ameaçou seriamente o governo de Prudente de Morais. O presidente porém, foi hábil e cauteloso na resolução das divergências, ao implementar uma política de pacificação e unificação das diversas correntes republicanas.

E, na tentativa de apaziguar os militares, aceitou a indicação de homens de confiança do marechal Floriano Peixoto para cargos importantes em seu governo. No final do seu mandato, Prudente de Morais conseguiu reverter a situação de crise política, neutralizar a oposição e consolidar os interesses da oligarquia cafeicultora.

Reação da oligarquia cafeicultora
Em meio a crise política e econômica, Prudente de Morais pôs fim à Revolução Federalista que ocorria no estado do Rio Grande do Sul. Apesar de os rebelados terem sido fortemente reprimidos no governo de Floriano Peixoto, eles continuavam a lutar. Com o fim da revolta, Prudente de Morais se fortaleceu politicamente.

Não obstante, veio a adoecer e precisou ser afastado da presidência. Assumiu o vice-presidente, Manuel Vitorino, que era um representante da ala radical florianista. A crise econômica se agravara, e as medidas adotadas pela gestão de Vitorino para solucioná-la aprofundaram o conflito entre a oligarquia cafeicultora e os florianistas.

Guerra de Canudos
Pouco antes de Vitorino assumir a presidência, a Guerra de Canudos havia começado, mas as três primeiras campanhas militares enviadas fracassaram. O governo federal sofreu um desgaste político em razão dos insucessos militares em Canudos. Prudente de Morais se restabeleceu, e reassumiu a presidência justamente neste momento, e organizou a grande campanha militar venceu a guerra com a destruição do contestado de Canudos.

Prudente de Morais sofreu um atentado quando estava passando em revista as tropas vitoriosas em Canudos. Um suboficial do exército disparou um tiro no presidente, mas quem foi atingido mortalmente pela bala foi o ministro da Guerra, marechal Bittencourt. O atentado fracassou, porém, deu condições para que o presidente decretasse o "estado de sítio", permitindo que suspendesse os direitos constitucionais e governasse com amplos poderes.

Com esse dispositivo, Prudente de Morais neutralizou a oposição política e assegurou o predomínio dos interesses da oligarquia cafeicultora no plano da política nacional. Prudente de Morais conseguiu ainda que seu sucessor fosse eleito, o paulista Campos Salles.

Elitismo republicano
A atitude do governo de Prudente de Morais diante das duas revoltas sociais que ocorreram no período, deixariam evidente a face elitista da República oligárquica. Com a elite rebelde gaúcha, o governo negociou o fim da Revolução Federalista e anistiou os envolvidos. Na Guerra de Canudos, ao contrário, cometeu um dos maiores massacres da história, republicana ao reprimir com violência a população pobre.

Neste conflito armado, as tropas militares governamentais não fizeram prisioneiros, pois os soldados eliminaram milhares de sertanejos. Os governantes da Primeira República que sucederam Prudentes de Morais adotariam o mesmo padrão de conduta diante dos movimentos sociais de caráter popular.

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