7 de maio de 2010

A CONQUISTA EUROPÉIA

         Nadir Costa


        Os europeus chegaram às terras descobertas como se fossem seus legítimos donos, delas tomando posse em nome dos reis. Em nenhum momento lhes ocorreu que os povos encontrados pudessem ter qualquer direito à terra onde nasceram e viveram.
        Foram ocupando e dominando as terras. Em todo continente americano as cenas de violência foram muito mais frequentes do que o relacionamento cordial. De uma hora para outra, as populações da América se viram invadidas, obrigadas a aceitar as ordens daqueles homens que entravam como senhores das terras, das pessoas, das casas e das riquezas. Diante de tantos metais preciosos, entre outras riquezas minerais, a ganância subiu à cabeça dos europeus. O resultado foi a conquista a base da destruição e violência:

[Os astecas...] estavam em tão má situação que […] para combater tinham que caminhar sobre o corpo de seus mortos. Foi tanto mortandade que entre os mortos e presos somou-se mais de quarenta almas [ somente nesse ataque]. Quando entramos naquela parte da cidade [Tecnochtitlan, atual cidade do México], não havia outra coisa para colocar os pés que não fosse o corpo de um morto. […]
                                                     (Hernán Cortéz, Terceira carta ao rei de Espanha, 15/5/1522)

        Os europeus possuíam enorme superioridade sobre a maioria dos povos descobertos, conheciam o uso da pólvora, já utilizavam canhões e armas portáteis.
       Embora tivessem armas e fossem acostumados às guerras, os povos descobertos não conseguiram resistir aos europeus.

[Cortés...] mostrou-lhes as espadas. Eles não as conheciam, seguravam-nas pelo fio, cortavam-se.[...]
                                                    (Bernal Diaz del Castilho, História verdadeira da conquista da Nova Espanha, 1519)
[Os espanhóis …] rápido dispararam um canhão. Tudo ficou confuso. [Os índios] corriam sem rumo, as pessoas dispersavam-se sem quê nem porque, debandavam, como se fossem perseguidos. Tudo era como se todos tivessem comido cogumelos estupefacientes, como se tivessem visto algo assombroso. O terror dominava a todos, como se todo mundo tivesse perdido o coração. E quando anoitecia, era grande o espanto, o pavor se estendia a todos por temor perdiam o sono.[...]
                                                                                            (Frei Bernadino de Sahagún, op.cit, 1555)

        Por vezes os índios, se apoderavam das armas dos conquistadores. Mas os valores indígenas,muito diferentes dos europeus, acabavam por destinar para eles um uso diferente:

[…] Todas as vezes que os tarascos [índios do México] se apoderavam de armas de fogo tomadas dos espanhóis, as armas eram oferecidas aos deuses nos templos.[...]
                                                                                  (Martins de Jesus de la Corunã, relação de Michoacán, 1540)

        O cavalo desconhecido entre os índios foi fator importante para a vitória militar dos conquistadores. Os indígenas, em pânico, fugiam desordenadamente ou se jogavam ao chão.
        Ao impor seus valores, os conquistadores europeus desorganizaram as culturas dos povos descobertos, alteraram o ritmo de vida desses povos, eles se viram proibidos de expressarem suas próprias religiões e a praticar o cristianismo. O resultado foi o enfraquecimento e desorganização, pois era nos mitos, nas crenças e nos símbolos que esses povos encontravam as explicações para a vida, a natureza, a morte...
        A importância dos mitos em algumas sociedades era tão grande que Montezuma, imperador asteca, chegou a interpretar a chegada dos espanhóis como sendo a realização de uma antiga profecia. Baseando-se em uma série de presságios, ele reconheceu nos conquistadores os antigos deuses que, segundo a profecia, havia criado o povo asteca e que um dia voltariam para dominá-los. Foram essa palavras que Montezuma a Cortés:

[…] Não, não é que eu sonhe, não me levanto adormecido do sonho: não vejo isso em sonhos, não estou sonhando […] Acontece que já te vi, aconteceu que já coloquei meus olhos em seu rosto! […] Há cinco, dez dias eu estava angustiado: tinha o olhar fixo na Região do Mistério. E tu vinhas entre as nuvens, entre neblinas. Era bem como deixaram-nos os reis, os que regeram, os que governaram a tua cidade, que haverias de instalar-te em teu assento, em teu domínio, que haverias de vir para cá […] Pois agora realizou-se: tu já chegaste, com grande esforço, com grande afã. Chega a terra: vem e descansa, toma posse de tuas casas reais, dá refrigério ao teu corpo. Chegai à vossa terra, senhores nossos! […]
                                                                                                                           (Frei Bernadino de Sahagún, op.cit, 1555)

        A chegada dos espanhóis confundiu tanto a cultura asteca, que os índios chegaram a duvidar de seus próprios deuses.

[Os índios...] pediram aos deuses que lhes concedessem favores e a vitória sobre os espanhóis e outros inimigos. Mas deveria ser tarde demais, porque não obtiveram mais nenhuma resposta em seus oráculos; então consideraram os deuses mudos ou mortos.[...]
                                                                                                           (Duran, missionário espanhol, relato do século XVI)

Os descobertos tentaram justificar seus deuses e crenças aos cristãos, como mostra esse diálogo entre o cacique inca e um padre espanhol.

[…] Atahualpa […] disse quanto à religião, que a sua era muito boa e que se dava muito bem com ela […] Ele dizia além disso que Jesus Cristo tinha morrido, mas que o Sol e a Lua nunca morriam, e perguntou ao frade como é que ele sabia que o Deus dos cristãos tinha criado o mundo. Frei Vicente respondeu-lhe que aquele livro o dizia, e ao dizê-lo deu-lhe o seu breviário […] Atahualpa tomou-o, abriu-o, olhou-o de todos os lados, folheou-o e […] atirou-o no chão […] Frei Vicente apanhou o seu breviário e foi ter dom Pizzarro, gritando: “Ele atirou ao chão os evangelhos! Vingança, Cristãos! Carreguem sobre eles!” […]
                                                                                                                 (F. López de Gomora, História das índias, 1568)

        Em todos os povos dominados, os conquistadores estavam decididos a impor a religião pela força.

[No templo asteca...] há três salas onde estão os ídolos principais, todas de maravilhosa grandeza e belos trabalhos em cantaria, madeiramento e figuras esculpidas. Dentro destas salas estão pequenos compartimentos, sem claridade nenhuma, onde ficam alguns religiosos. Ali dentro é que ficam seus ídolos. Os principais destes ídolos e nos quais eles tinham mais fé eu derrubei de seus assentos e os fiz descer escada abaixo. Fiz também com que limpassem aquelas capelas, pois estavam cheias de sangue dos sacrifícios que faziam. Em lugar dos ídolos mandei colocar imagens de Nossa Senhora e de outros santos […]
                                                                                        (Hernán Cortés, Segunda carta ao rei da Espanha, 30/10/1520)

        Quando os conquistados tentavam reagir, eram castigados, como demonstram o documento que segue:

[…] Depois de terem deixado a capela, esses homens [indígena] jogaram as imagens [cristãs] ao solo, cobriram-nas com um punhado de terra e urinaram sobre elas; vendo isto, Bartolomeu, irmão de Colombo, decidiu puni-los de modo bem cristão […] levou alguns homens maus à justiça e, em vez definido o crime, fez com fosse queimados em público. […]
                                                                                                                   (F. Colombo, historiador espanhol, século XVI)

        A violência dos conquistadores e a imposição religiosa muitas vezes resultaram num verdadeiro horror aos povos descobertos.
        A conquista foi a primeira etapa da dominação europeia sobre os povos descoberto. A partir daí começou de fato a colonização, etapa seguinte desse longo processo de contato desigual entre os homens do mundo.

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