26 de abril de 2009

Brasil na Segunda Guerra - primeiros anos

Da neutralidade ao rompimento com o Eixo
Túlio Vilela*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução


O Brasil participou ativamente da Segunda Guerra Mundial. Tal participação pode ter sido relativamente modesta se comparada à de outros países que entraram antes no conflito, mas nem por isso deixou de ser significativa.

Guerras custam dinheiro e uma série de sacrifícios. Não era fácil para um país como o Brasil da década de 1940 (com a maioria da população pobre, enfrentando uma série de problemas internos, como analfabetismo crônico e falta de saneamento básico) entrar num conflito de proporções épicas.

O país ajudou os Aliados (EUA, Grã-Bretanha, França e ex-União Soviética) fornecendo matérias-primas (especialmente borracha), patrulhando o Atlântico com navios da Marinha, que escoltavam os navios mercantes para protegê-los dos ataques de submarinos alemães, e enviando pilotos da Força Aérea e uma força expedicionária para lutar na Itália ocupada pelos nazistas.

A população civil brasileira também sentiu os efeitos da guerra, sofrendo racionamento de alimentos e de combustível, o que obrigava as famílias a enfrentarem longas filas para comprar pão e, por causa da escassez de gasolina, a equipar automóveis para serem movidos a gasogênio (a partir de carvão vegetal).

Se compararmos a outros países da América Latina, o Brasil foi o que mais se envolveu no conflito. Embora outros países tenham rompido relações diplomáticas com as potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), ou mesmo declarado guerra a essas potências (na prática, muitas dessas declarações de guerra não passaram de mera formalidade), apenas dois países latino-americanos enviaram contingentes para lutar nos campos de batalha: Brasil e México (que enviou uma força expedicionária para enfrentar os japoneses nas Filipinas).

Rompimento com o Eixo
Em 1939, quando a Alemanha nazista atacou a Polônia, dando início à Segunda Guerra, o Brasil declarou-se oficialmente neutro. A sucessão de vitórias das tropas alemãs, de 1939 a 1940, quando uma série de países europeus foi vítima da ocupação nazista (incluindo a França), desenhava um futuro preocupante: o rumo da guerra pendia de maneira favorável para o totalitarismo nazista.

Reagindo ao avanço nazista, chanceleres dos países americanos (incluindo o Brasil) reuniram-se em Havana, Cuba, em julho de 1940. Nessa reunião, foi estabelecido que uma agressão a "qualquer nação americana" implicaria no envolvimento de todas as demais na guerra.

Isso finalmente aconteceu quando, em dezembro de 1941, os Estados Unidos entraram oficialmente no conflito por causa do ataque japonês a Pearl Harbor, uma base militar norte-americana no Havaí. Em decorrência do ataque a Pearl Harbor, os Estados Unidos declararam guerra ao Japão. A Alemanha nazista e a Itália fascista reagiram declarando guerra aos Estados Unidos.

A entrada oficial dos Estados Unidos na guerra levou representantes dos países americanos a se reunirem novamente, dessa vez no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Nessa reunião, realizada em 28 de janeiro de 1942, a maioria dos países decidiu ficar ao lado dos Estados Unidos, rompendo relações diplomáticas com o Eixo. As únicas exceções foram a Argentina e o Chile.

Vale lembrar que, a rigor, os Estados Unidos não foram a primeira nação do continente americano a entrar na guerra: por ser membro da Comunidade Britânica, o Canadá entrou na guerra logo no começo, em 1939, para ajudar a Inglaterra.

Em reação ao rompimento das relações diplomáticas do Brasil com o Eixo - e também para evitar que matérias-primas brasileiras fossem aproveitadas no esforço de guerra dos Aliados -, submarinos da Alemanha nazista (e também da Itália fascista) começaram a torpedear navios brasileiros.

Envolvidos na guerra
A entrada do Brasil na Segunda Guerra foi semelhante, embora numa escala menor, à entrada dos Estados Unidos no mesmo conflito. Ambos, devido aos seus respectivos interesses comerciais, já estavam envolvidos no conflito antes mesmo de declararem guerra aos países do Eixo.

Antes do ataque japonês a Pearl Harbor, os Estados Unidos já estavam envolvidos na guerra, pois forneciam matérias-primas e apoio político à Inglaterra, que já se encontrava em guerra contra a Alemanha nazista. O ataque japonês a Pearl Harbor acabou com os argumentos daqueles que, nos Estados Unidos, ainda defendiam que o país mantivesse uma posição isolacionista em relação ao conflito.

De maneira semelhante, o Brasil já estava envolvido na guerra antes mesmo de romper relações diplomáticas com o Eixo. Afinal, os Estados Unidos eram o principal comprador das exportações brasileiras (café, borracha, etc.) e isso ia contra os interesses da Alemanha nazista.

Além disso, cumprindo uma resolução aprovada na reunião de representantes das repúblicas americanas realizada no Rio em 1942, o governo brasileiro autorizou o uso de bases aéreas e portos das regiões Norte e Nordeste pelas forças armadas dos Estados Unidos. Essa autorização do governo brasileiro era uma antiga reivindicação do então presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt.

O interesse norte-americano nos portos e bases do Brasil surgiu devido à localização geográfica, o que permitia que esses locais servissem de escala para o envio de mantimentos, material bélico e homens para a África, onde os Aliados também enfrentavam os alemães. Em troca dessa autorização, os Estados Unidos forneceram ao Brasil armamentos modernos.

Por tudo isso, a Alemanha nazista resolveu torpedear qualquer navio que transportasse mercadorias que poderiam, de algum modo, ajudar no esforço de guerra dos Aliados. A Alemanha passou, então, a torpedear tanto navios Aliados quanto de países neutros. Com essa decisão, ela também pretendia prejudicar a União Soviética, impedindo que os soviéticos recebessem, por meio das rotas marítimas, qualquer ajuda de britânicos e norte-americanos.

Outra semelhança entre a entrada oficial do Brasil na guerra, em agosto de 1942, com a entrada oficial dos Estados Unidos, em dezembro de 1941, foi a reação popular aos ataques sofridos por países do Eixo: o ataque japonês a Pearl Harbor gerou comoção e indignação entre a opinião pública norte-americana. Reação semelhante muitos brasileiros tiveram ao receber a notícia dos afundamentos de navios brasileiros por submarinos alemães.

Para saber mais
# Livros:
Irmãos de armas: um pelotão da FEB na II Guerra Mundial, de José Gonçalves e César Campiani Maximiano. São Paulo: Códex, 2005. (O livro é um relato de caráter semi-autobiográfico. A co-autoria é de César Campiani Maximiano, doutor em História pela Universidade de São Paulo. Sem ser piegas, o livro é comovente em vários momentos.)

O Brasil na mira de Hitler: a história do afundamento de navios brasileiros pelos nazistas, de Roberto Sander. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. (Sem perder o rigor da pesquisa, a narrativa de Sander é tão envolvente quanto um bom romance de espionagem.)

National Geographic Brasil: Edição Especial, nº 63-A, São Paulo: Abril, 2005. (Edição especial lançada por ocasião dos sessenta anos do término da Segunda Guerra. Traz uma coletânea dos melhores artigos sobre o assunto já publicados pela revista. Há três reportagens sobre o Brasil.)

# Filme:
Senta a pua! - Direção: Erik de Castro. Brasil, 1999. (Documentário que conta a história dos pilotos da FAB durante a Segunda Guerra Mundial.)

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