12 de junho de 2009

Utopia

Obra de Thomas More propõe sociedade alternativa e perfeita
Utopia é uma palavra freqüentemente usada em português e em outras línguas para designar uma sociedade ideal, embora de existência impossível, ou uma idéia generosa, porém, impraticável. Enfim, uma quimera ou fantasia. Muita gente sabe que esse termo designa também a obra escrita por Thomas More ou Tomas Morus (1478-1535), onde o pensador e estadista inglês imagina uma sociedade perfeita.

No entanto, pouca gente leu ou conhece a obra de More - que é também um santo da Igreja católica - a que faz referência ao usar o seu título como vocábulo. Vale a pena começar analisando o próprio nome da obra, que se origina do grego: "u" é um advébio de negação e "tópos" significa lugar. "Não lugar", portanto, ou lugar inexistente, é o modo irônico com que o pensador batizou sua sociedade perfeita.

Tradição platônica
A idéia de Morus de criar uma sociedade imaginária vem de uma tradição que remonta a Platão (427-347 a.C) na obra "A República". Outras obras se filiam a essa mesma tradição, como é o caso de "A Cidade do Sol", escrita em 1602 pelo italiano Tommaso Canpanella (1568-1639), ou ainda "Walden 2", publicada em 1948, pelo psicólogo B. F. Skinner (1904-1990), o fundador do behaviorismo.

A "Utopia", de More, divide-se em dois livros: o primeiro, de caráter negativo faz a crítica à Inglaterra da época em que o autor vivia; o segundo, em contraponto, apresenta uma sociedade que lhe é alternativa. Em ambos os livros, Rafael Hitlodeu - personagem que é o "alter-ego" de More - narra sua viagem a Utopia e descreve a sociedade que viu.

Como se disse, a primeira parte é de crítica a uma Inglaterra em que os camponeses estão sendo expulsos do campo para as cidades, onde há bandos de ladrões e uma justiça cega, porém cruel, a realeza ávida de riquezas e sempre pronta para a guerra, sem falar nas perseguições religiosas. Essas regras são invertidas na República de Utopia.

Tolerância e paz
No âmbito religioso, por exemplo, não se pode prejudicar ninguém em nome da religião. A intolerância e o fanatismo são punidos com o exílio e a servidão. O povo pode escolher suas crenças e vários cultos coexistem em harmonia ecumênica.

Da mesma maneira, More/Hitlodeu descrevem os benefícios da paz e os horrores da guerra - numa crítica direta às guerras travadas por Henrique 8º por ganânica ou por paixão pela glória militar. Nesse sentido, mostra-se como o interesse da comunidade é sacrificado pela paixão dos príncipes pela guerra, que só enriquecerá os nobres e os novos proprietários (burguesia).

Enquanto isso, o povo, cada vez mais oprimido pelo trabalho incessante, precisa manter o exército, a corte e uma multidão de ociosos. A sede de dinheiro dos reis, dos nobres e dos grandes burgueses cria a miséria da maioria, alarga cada vez mais o abismo entre as classes sociais, transforma os juízes em carrascos e as penas em castigos pavorosos.

Em Utopia, naturalmente, nada disso existe, ou melhor, existe o contrário disso, numa República em que o Parlamento zela pelo bem do povo, o qual descobre que a propriedade individual e o dinheiro são incompatíveis com a felicidade.

Utopias contemporâneas
A idéia de uma sociedade igualitária subjacente à obra de Morus inspirou os socialistas do século 19, como Pierre Proudhom (1809-1865), Charles Fourier (1772-1837), Robert Owen (1771-1858) e Saint-Simon (1760-1825), a quem Karl Marx (1818-1883) chamou de "socialistas utópicos", contrapondo-se a eles com a criação de um suposto "socialismo científico".

Não se pode deixar de dizer, contudo, que o socialismo científico de Marx, ao menos até o momento, se revelou tão utópico quanto o de seus precursores. Ou pior: em todos os lugares onde foi implantado, segundo as táticas de seu discípulo Valdimir Lênin (1870-1924), criaram-se sociedades hiperautoritárias.

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