Uma pergunta frequentemente feita é como que as mulheres lidavam com a menstruação no século XVI? Assim como hoje, era uma parte da vida que tinha de ser tratada. Não há duvidas de que o início da menstruação marcava uma importante etapa na transição da infância para a idade adulta no quesito de casamento. A idade de consentimento, definido normalmente entre 12 e 14 em toda a Europa, parece compatível com a chegada da menarca. Era também uma questão que mudava de classe para classe, uma vez que é necessário um certo percentual de peso e gordura corporal para acontecer o primeiro período. As mulheres das classe mais alta, levando vidas menos ativas e comendo proporções maiores de carne começavam seus ciclos mais cedo e sangravam mais. Margaret Beaufort claramente menstruou antes de sua adolescência, já que ela deu à luz ao futuro Henrique VII com 13 anos em 1457.
As mulheres de classe mais baixa, que tinham uma vida mais ativa fisicamente e sua dieta era composta por mais legumes, começavam seus ciclos mais tarde, um fato que é confirmado nas estatísticas relacionadas com a idade da mulher no casamento, embora estes também sejam determinados por muitos outros fatores econômicos e sociais. As mulheres de todas as classes teriam de recorrer a remédios de ervas. Um texto de 1476 incluía receitas para induzir a menstruação como uma mistura de soda, figos, sementes de alho, mirra, unguentos de lírio e polpa de pepino misturado no leite. Estes poderiam ser bebidos ou inseridos na vagina em pessários de lã macia.
De acordo com Ninya Mikhaila e Jane Malcolm-Davies há um silêncio quase completo de registro sobre as práticas de como lidar com a menstruação. Sabe-se que a palavra que denominava menstruação na Era Tudor era ‘flor’, e que mulheres menstruadas usavam noz-moscada e ramalhetes para esconder os odores decorrentes, já que o poder corrosivo dos fluídos reprodutivos femininos, transmissíveis através do cheio, constituíam um medo real na época. Para conter um fluxo intenso, as mulheres eram aconselhadas a tirar um pouco do pelo de um animal e prendê-la em uma árvore ‘verde’, ou seja, nova. Outro remédio que tinha sua eficácia ‘comprovada’ era ferver um sapo em uma panela e usá-lo em uma bolsa em torno da cintura. Certos tipos de musgos também eram usados para absorver o fluxo de sangue decorrentes de feridas, e podem ter sido usados por mulheres para também estancar o fluxo. Chumaços de algodão eram usados para limpar os órgãos femininos, por dentro e por fora.
Os ensinamentos da Igreja englobavam uma variedade de crenças na natureza desagradável e potencialmente prejudicial do sangue menstrual. Era um castigo de Deus que todas as mulheres tinham de suportar, como resultado da tentação de Eva, portanto não era permitido aliviar as dores da cólica e do sofrimento, pois eram parte do plano divino. Mulheres santas normalmente jejuavam e constatando que seus períodos pararam, interpretavam isso como um sinal divido ao invés de uma resposta de seu corpo à sua dieta restrita. Em alguns locais, os casais deveriam se abster das relações sexuais durante o período, e qualquer criança concebida nesse período nasceria ruiva e frágil.
O sangue menstrual também era temido pelos homens como uma representante das forças corrosivas do poder feminino. Uma crença afirmava que o sangue poderia prejudicar o pênis caso esse entrasse em contato, ou que ele poderia ser usado como uma poção de amor. Ele tinha o poder de transformar vinho novo em azedo, fazer cair frutas das árvores, matar colmeias, dar raiva aos cães e deixar as colheitas estéreis. A crença mais estranha provavelmente é a de que uma criança em um berço poderia ser envenenada pelo olhar de uma velha em menopausa, pois o acúmulo de sangue a levaria a soltar vapores venenosos pelos olhos.
As funções do corpo da mulher eram misteriosas até para o mais educado dos homens. Os antropólogos modernos observaram que a preocupação excessiva com a menstruação era uma características de muitos nascimentos. Não só a menstruação regular indicava fertilidade, mas havia uma teoria de que os humores excessivos das mulheres e que o acúmulo de resíduos corporais eram liberados pela menstruação. Se isso não acontecesse, os resíduos acumulavam e causavam doenças. Uma mulher velha que já não menstruava era uma problema grave de segurança, uma vez que os humores em excesso e os resíduos poderiam ser capazes de envenenar as crianças e homens que entravam em contato com ela.
Os cirurgiões medievais e Tudor não compreendiam plenamente o papel que a menstruação tinha no ciclo reprodutivo da mulher, pois elas possuíam versões imperfeitas ou invertidas dos órgãos reprodutivos masculinos, pois sua ‘semente’ fria e úmida se misturaria com a ‘semente’ quente e seca do masculino, resultando na concepção. A menstruação era vista como um método do corpo de derramar sangue desnecessário, que era acumulado no corpo, sem o qual o útero transbordaria de líquidos e poderia asfixiar ou sufocar uma mulher. Desse modo, a abertura de uma veia ou de qualquer outra parte do corpo era considerado o mesmo que um sangramento menstrual, um meio de remoção dos líquidos perigosos. Desse modo, o sangramento também era um modo de evitar o desenvolvimento de características masculinas.
Na outra extremidade, o início da menopausa parece ter sido muito mais cedo do que é hoje. Os padrões dos partos das mulheres de classe alta sugerem que isso aconteceu em meados dos quarenta anos. A menopausa de Catarina de Aragão veio em 1525/1526, quando ela tinha quarenta anos, depois de seis concepções. Para muitos, a morte normalmente seguia os partos, e quem concebia mais de 10 crianças normalmente não engravidava mais após os trinta e tantos ou quarenta anos. Maria, a irmã mais nova de Henrique VII, teve quatro filhos com a idade entre 20 e 27 anos, e morreu uma década depois. Sua irmã mais velha, Margaret, se saiu melhor, tendo seu sétimo filho aos 26 anos e sobrevivendo por mais 26 anos. Elizabeth de York, Duquesa de Suffolk, teve pelo menos 11 filhos entre seus 18 e 36 anos. A cessão definitiva do período menstrual e a chegada da menopausa deixavam as mulheres mais vulneráveis a certas doenças, assim como hoje. A Trotula de Salerno escreveu que uma mulher que deixava de menstruar deveria começar a fazer jejuns e comer boa comida e bebida, para deixar seu sangue bom. Outras crença diziam que a falta da menstruação de uma mulher a tornava mais masculina e propensa a muitas formas de loucura e convulsões.
Voltando ao aspecto puramente prático da menstruação, as mulheres de todas as classes precisavam de alguma coisa para absorver o fluxo de sangue. Traduções do século XVI da Bíblia (Isaías, capítulo 3, versículo 22) menciona o uso de panos para a menstruação e pistas adicionais podem ser obtidas através de contas da rainha Elizabeth onde há dezenas de menções a ‘muitos vallopes, todos de finos tecidos holandeses’, junto com outros itens de linho simples.
Por boa parte do século XX, pedaços de panos eram rasgados e colocados entre as pernas, sendo suspensos por algum tipo de cintos para mantê-los no lugar. É muito provável que as mulheres usassem um tipo não muito diferente dos ‘sanitary belts’ usados na Europa e nos EUA até a década de 1970: um tipo de cinto que tinha uma aba ligando a parte de frente à de trás, na qual um pedaço de pano era colocado na zona apropriada. Eles eram sempre lavados e reutilizados – não havia nenhum material descartável em tempos Tudor.
Outras sugestões recentes sugerem tampões de pano, untados com mel e óleo, presos por um laço ao redor da coxa. As pessoas que se envolviam em algum trabalho manual ou atividade física deveria ter alguma forma de segurar seus panos e ter certeza que eles permanecessem no lugar.
De qualquer modo, a menstruação era um importante rito de passagem em uma era que colocava um alto valor na fertilidade, e também eram uma fonte de vergonha e inconveniência. Normalmente, porém, este paradoxo se encaixa muito bem na história do sexo feminino, com as mulheres sendo incentivadas a definir seus corpos através dos olhos masculinos e perderem a posse sobre suas próprias funções naturais. As mulheres medievais e Tudor não registraram suas experiências, no entanto, para as mulheres de todas as classes e idades, a menstruação era uma parte necessária da vida e que a sociedade era dependente.
Bibliografia:
GRUENINGER, Natalie. ‘Women’s Hygiene in Tudor England‘. Acesso em 30 de Março de 2013.
‘Women’s underwear and menstruation‘. Acesso em 30 de Março de 2013.
LICENCE, Amy. ‘To Bring on the Flowers: Medieval Women Menstruating‘. Acesso em 30 de Março de 2013.
‘Women and Medicine in the Middle Ages and Renaissance‘. Acesso em 30 de Março de 2013.
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