31 de maio de 2010

A Conquista da América A questão do outro.

Nadir Costa

O autor, em seu livro, nos dá exemplos do problema do outro, o conquistado, e reconhece claramente os avanços tecnológicos do “eu” do conquistador. Segundo o autor, um dos grandes problemas dos indígenas é a incapacidade de seu sistema comunicativo; é dizer que eles não dominam a linguagem dos conquistadores nem entendem seus costumes. Em seu livro a conquista da América, se desenrola os diferentes problemas que tiveram os conquistadores e os indígenas. Sem dúvida, neste livro, aparecem algumas perspectivas dadas desde o ponto do “eu” colonizador. Um dos temas principais é que Todorov sugere que é necessário conhecer o outro para conhecer-se melhor. Seu desejo de compreender, unir e comparar os dois lados, desde uma perspectiva europeia, sugere que ainda hoje existem as separações de continentes, países e culturas. Além disso, Todorov nos apresenta o problema do outro: o conhecimento europeu ante o conhecimento indígena, tratando de comparar o uso das referências textuais e como estas contribuíram para a história da conquista das Américas. Por exemplo, Cristóvão Colombo, Hernam Cortez, Montezuma, La Malinche, os Astecas e os incas são representantes históricos que utiliza o autor para estabelecer o problema da conquista.
Todorov comenta a história da interação entre Cortez e Montezuma e a conquista dos astecas no México. Segundo o autor, o imperador dos astecas é um líder indeciso, incapaz de proteger a seu povo durante a conquista. O descreve como um herói débil, reservado e tímido (nunca queria que lhe vissem o rosto). Todorov explica precisamente a debilidade dos vencidos e seus problemas e reproduzindo outra versão do “outro”. Se examinarmos a história mexicana poderíamos ver que Montezuma era um dos líderes mais poderosos dos astecas e suas táticas de guerra eram diferentes por outro motivo. Os índios começavam a perder sua fé em seus próprios deuses porque não viam nenhuma ajuda, não lhes respondiam seus deuses para dar-lhes consolo. Todorov não comenta muito sobre o “outro”. Suas debilidades são por falta de comunicação física e espiritual. Ao contrário, se comenta muito o heroísmo de Hernam Cortez e suas capacidades extraordinária de manipular os signos e utilizar a linguagem como arma.
O calendário dos astecas consistia de13 meses e vinte dias em cada mês. Quando se sabia a data de nascimento se sabia também o destino dessa pessoa. Diz-se que um mundo sobredeterminado é um mundo sobre o interpretado. Os índios viam muitos signos que talvez lhes davam muitas ideias falsas do futuro, porém não menciona que às vezes lhes davam ideias corretas para o futuro. Isso não constrói seu futuro, não tem livre arbitro, sua vida considerava-se determinada desde o princípio. Uma vez de identificar-se com a forma de vida que levavam os astecas, seus avanços intelectuais e suas interpretações do futuro, Todorov só menciona as maneiras em que se separa o um do outro em vez de comparar como se assemelhavam as barreiras culturais que interferiram com o conhecimento do outro. Os astecas tinham uma ontologia distinta a da europeia e a demonstravam em forma de atuação, de modos mais simbólicos( sacrifícios, comunicação com a natureza, etc). Não eram algumas ideologias semelhantes a alguns pensamentos do velho continente? Sua filosofia de vida predestinada também forma parte do pensamento ocidental. Segundo o autor, a comunicação indígena entre homem e natureza era mais estreita e se via suas vidas refletidas nos sonhos, ideias.
Os incas, os Astecas e muitas tribos grandes tinham a mesma profecia que iria vir “Deuses” do oeste para conquistá-los. É misteriosa a uniformidade do tempo. Os indígenas tinham escolas em que aprendiam escrever, porém seu modo comunicativo, segundo o autor, não era tão avançado como o alfabeto. Esta forma de comunicação que parecia inadequada para um espanhol, era outro motivo que tinham os espanhóis para civilizar os indígenas. Talvez uma técnica desvantajosa para o guerreiro nativo. As maneiras em que se comunicavam para realizar os gritos de combate não ajudaram a dissimular as táticas de guerras dos indígenas. Suas interpretações da religião Católica eram sinônimas da mentira.
Este exemplo para demonstrar como o indígena é forçado a aceitar a religião católica porque os espanhóis ganharam a conquista por causa da comunicação simbólica entre o homem e não só entre homem e natureza.
Todorov nos mostra que Cortez se preocupava com a comunicação, ia atrás de interpretes, queria entender e se fazer entender “o que Cortez quer, imediatamente, não é tomar, mas compreender, são os signos que interessam a ele em primeiro lugar, não os referentes”. Sua expedição começa com uma busca por informação e não por ouro. A primeira ação que executa é procurar um interprete. Ouve falar de índios que empregam palavras espanholas, deduz que talvez haja espanhóis entre eles, suas suposições são confirmadas, um deles, Jerônimo de Aquilar se une á tropa de Cortez. Aquilar é transformado em interprete oficial, entretanto ele só fala o Maia, e na busca por interprete Cortez encontra Lá Malinche que lhe serviu de interprete durante todo o processo de conquista.
La Malinche como interpretadora é uma figura importante para a vitória dos espanhóis, sem ela a comunicação extraordinária que tinha com os indígenas não haveriam ganhado a guerra, ela representa uma mistura das culturas. Em parte foi um dos primeiros exemplos da importância de ter um interprete, e segundo em como utiliza o idioma como arma para manipular as conversações.
Cortez sabe explorar as divisões internas através do conhecimento dos índios e consegue fazer com que eles fiquem seus aliados
Os astecas veem uma intervenção divina e Cortez não o vê, só interpreta tudo o que está a seu favor. Por exemplo, Todorov diz que Cortez não gostava de derrubar os templos indígenas e a arquitetura dos indígenas porque queria preservar a cultura. Nota-se que quer preservar a cultura artificial da representação da cultura, porém não quer preservar as vidas dos astecas.
Menciona-se que a linguagem é o companheiro do império. No caso de Cortez sua linguagem era usada para manipular e fingir para poder conquistar. As ações do conquistador também serviam para conquistar, demonstra que estava débil quando na realidade estava forte. Alem disso os espanhóis tinham muitos aliados nos indígenas que haviam vivido sob o domínio dos astecas. Os signos de Cortez se projetavam num ponto de vista muito subjetivo e individual e os astecas eram mais regra e coletivos em sua maneira de comunicar.



TODOROV, Tzvetan – A Conquista da América A questão do outro.

O fazer-se da historiografia brasileira





Este ensaio pretende apresentar um pouco da historiografia brasileira no século XIX, ou seja, o início da construção do pensamento e escrita da história nacional, de forma fluida e metodologicamente mais consciente do que tudo que anteriormente fora feito. Porém, um assunto de tamanha envergadura necessita de um recorte mais preciso para que possa caber nas modestas dimensões deste trabalho. Para tanto, o século em questão terá uma versão mais enxuta, com quase quarenta anos a menos, iniciando-se em 1838, o ano da criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Quanto a outra margem do século o recorte não é tão preciso, irá até o ano de 1900 sem muito rigor. Mais correto seria estudar-se até 1930, ponto de virada praticamente indiscutível do pensamento histórico brasileiro, no entanto, o presente trabalho tem como preocupação maior mostrar as origens, os primeiros anos deste pensar nacional, centrando olhares sobre a trajetória de Varnhagen e Capistrano de Abreu. Alguns nomes importantes não serão contemplados, como Joaquim Nabuco ou Barão de Rio Branco, o que não os diminui em absolutamente nada, apenas deixa-os para uma melhor ocasião.
No dia dois de outubro de 1838 é criado, no Rio de Janeiro, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) como proposta do Cônego Januário da Cunha Barbosa e do Brigadeiro Raimundo de Cunha Matos. Uma data de certa significação se analisada junto aos objetivos propostos pelos fundadores do Instituto. Estava-se a dois anos do fim da Regência, um período de extrema importância para a compreensão da formação do Império e do Brasil como Estado Nacional, fato que vai ao encontro dos objetivos da recém-criada entidade que apesar da forte carga de ideias nativistas e um tanto ufanistas “os traços mais notáveis do órgão, no entanto, são o pragmatismo da história e o gosto pela pesquisa”, o que não desconsidera o estudo da história como ferramenta pedagógica “orientadora dos novos para o patriotismo, com base no modelo dos antepassados.” (IGLÉSIAS, 2000, p. 61)
Apesar destas ideias pedagógicas, é a pesquisa que caracteriza o Instituto e o torna divisor de águas, pois passa-se a fazer o que nunca havia sido feito. O trabalho anteriormente realizado, desde o século XVII, era individual, episódico e sem continuidade. O IHGB foi responsável por reunir os que pensavam a história e estavam interessados em discuti-la, mas não em formá-los pois a entidade não possuía – e não possui, pois ainda existe – as características de uma universidade, sua função era de conduzir discussões e, por meio da sua Revista, publicar documentos pertinentes aos estudos históricos. Ou seja, o caráter autodidata dos pensadores brasileiros continuava: religiosos, militares, juristas e até médicos discutiam a História Pátria, como se usava dizer.
Por um bom tempo, a preocupação do Instituto foi em periodizar a História do Brasil, algo simples e óbvio hoje em dia mas que na época era motivo de inúmeras discussões. Entre elas se encontra o desentendimento entre o General José Inácio de Abreu e Lima, que como periodização propôs a divisão da História do Brasil em oito épocas ou capítulos, e Francisco Adolfo de Varnhagen, encarregado em dar um parecer em nome do IHGB no ano de 1843. A periodização do General era de fácil crítica devido a sua excessiva e quase exclusiva história administrativa do país e ao fato de ter pensado primeiramente as categorias para depois inserir os acontecimentos. No entanto Abreu e Lima se mostrou muito mais hábil na arte do “bate-boca” que com o pensamento científico, terminando este embate em um texto de Varnhagen intitulado “Réplica apologética de um escritor caluniado e Juízo final de um plagiário difamador que se intitula General”.
Curiosamente Varnhagen nunca se interessou em periodizar, atendo-se mais à documentação, sua paixão pessoal. O historiador sorocabano foi um dos maiores compiladores de documentos do Brasil, dando subsídios práticos aos demais historiadores graças às facilidades decorrentes do cargo de diplomata. Até então a pouca documentação existente se encontrava dispersa e não catalogada: poucos meios se tinha para estudar o Brasil Colônia ou o Nordeste Holandês, quase nada se sabia do tipo, quantidade e estado dos documentos existentes na Bahia, Pernambuco, Portugal ou Holanda. No entanto, Varnhagen não se limitou ao título de compilador, deixando como obra mais importante “História Geral do Brasil”, sendo o primeiro volume de 1854 e o segundo de 1857. Publicou inúmeros trabalhos, entre obras documentais e textos críticos, vindo a falecer em Viena no ano de 1878.
Cumpre voltarmos um pouco na questão pertinente à periodização, pois consiste assunto vastíssimo. Quando surgiu a “polêmica” de Abreu e Lima uma periodização já era tida como oficial pelo Instituto desde 1839 e proposta por um de seus idealizadores, Brigadeiro Cunha Matos. A proposta do Brigadeiro, adotada post-mortem (ou in memorian?), dividia a História do Brasil em três épocas: “a primeira, relativa aos aborígenes ou autóctones, a segunda, compreendendo as eras do descobrimento pelos portugueses e a administração colonial, e a terceira, abrangendo todos os conhecimentos desde a Independência” (RODRIGUES, 1957, p.153). Cunha Matos também propunha que diante da ignorância das Histórias das Províncias, primeiro se fizessem estudos regionais e posteriormente se debruçasse sobre o todo brasileiro.
No entanto, a razoável coerência da periodização apresentada não impediu o lançamento de um concurso que contemplaria com 200 mil réis aquele que apresentasse “um plano para se escrever a história antiga e moderna do Brasil, organizado de tal modo que nele se compreendessem as partes política, civil, eclesiástica e literária” (RODRIGUES, 1957, p.160). Apresentaram trabalhos apenas dois estudiosos - o naturalista alemão Karl Friedrich Philipp von Martius e Júlio de Wallenstein.
Wallenstein, o “derrotado”, apresentou um trabalho pouco inovador, no qual propunha o estudo da História do Brasil por décadas, nos moldes do romano Tito Lívio ou do cronista português João de Barros, e privilegiava a história política. A história civil, eclesiástica e literatura deveriam constar como observação no fim de cada capítulo. Logicamente o Instituto pedia algo mais ousado, mesmo que dentro do conservadorismo esperado de uma entidade que recebia o apoio intelectual e financeiro do Imperador.
Já von Martius apresentou seu “Como se deve escrever a História do Brasil”, escrito em 1843, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1845 e, finalmente, dado como vencedor em 20 de maio de 1847. Trabalho que se situa entre a inovação e o característico de uma época, “Como se deve escrever...” é fruto de atenta observação do naturalista enquanto esteve expedicionando pelo interior do Brasil sob patrocínio do rei da Baviera. Na verdade, o estudioso alemão não apresentou uma periodização, mas sim um tratado contendo todos os pontos e problemas que deveriam ser elucidados para a compreensão geral e ampla do Brasil. Foi o primeiro a salientar a importância do índio e do negro, a necessidade de se conhecer mais a fundo os costumes, a língua e a mitologia indígena, a falta de elementos cotidianos do colono português e do escravo africano para a compreensão dos mecanismos coloniais. No entanto, é necessário destacar que a inclusão de outras raças como responsáveis pela construção do país não excluía, segundo von Martius, a responsabilidade do branco em mostrar os rumos da civilidade, posição eurocêntrica típica e esperada.
Não se deve pensar que, por ter ganho um concurso, a tese de von Martius passou a ser seguida como lei, pois cada historiador poderia escrever como bem quisesse. O que ficou realmente como legado foram as influências e o início de debates, sempre presentes quando algo novo surge. Um historiador que com certeza ao menos leu “Como se deve escrever...” foi João Capistrano de Abreu, nascido no Ceará e radicado no Rio de Janeiro desde 1875.
Capistrano de Abreu foi talvez o primeiro historiador a dar importância a elementos populares ou menos elitistas, escrevendo uma história socioeconômica do Brasil, sendo capaz de desprezar a Inconfidência Mineira pois para ele não passou de um movimento de uma minoria intelectual, não chegando ao status de ação. Entretanto, antes de alcançar o espírito crítico que lhe fez conhecido, o historiador cearense passou por diferentes “momentos”. Logo que chegou ao Rio de Janeiro com 21 anos de idade carregava em sua bagagem a escola positivista e o plano de escrever uma História que mostrasse as influências permanentes da natureza sobre a civilização, tudo fundamentado sobre as leituras de Taine, Buckle e Agassiz. Sua formação teórica tomou corpo a partir de 1881 através da amizade com Teixeira Mendes e Miguel Lemos, os pais do positivismo no Brasil e da Igreja Positivista.
Porém as mudanças em seu discurso historiográfico já são perceptíveis a partir de 1882 – se é que podemos estabelecer uma data com tanta precisão. Desde 1879 Capistrano de Abreu já fazia parte da Biblioteca Nacional onde vinha tendo contato com documentação inédita e com obras de novos historiadores, não ligados às teorias de Comte, como Niebuhr, Ranke e Humbolt, filhos do realismo histórico alemão. Seu período na Biblioteca rendeu frutos de importância incontestável e o contato com a documentação resultou em uma série de edições documentais limpas de toda pesquisa crítica prévia, apenas como instrumentos do saber histórico, assim como fez Varnhagen. Do mesmo modo, o contato com os autores alemães proporcionou um alargamento dos horizontes intelectuais de Capistrano de Abreu que não se contentando com as traduções logo aprendeu o idioma para que pudesse acompanhar mais de perto a evolução da nova escola.
O historiador cearense caminhava rapidamente para o posto de intelectual. Como complemento aos seus estudos lia obras de geografia, economia, sociologia (então, em estado nascente) e psicologia, dominava o francês, o inglês, o latim e agora o alemão. Tal crescimento se tornava incompatível com o positivismo. Sua visão crítica exigia mais, pois ele não tinha como permanecer ao lado de uma escola filosófica que não pesa o valor do testemunho, ou pesquisa as fontes, sua autenticidade e credibilidade. “O historiador sabe que não pode reduzir as ações humanas a regras naturais, porque assim não veremos a vida real, o drama da História. Os fatos reconstruídos, percebem-no todos que exercitam a história, não se enquadram nas causas amplas e gerais com que o positivismo quis explicar o curso da humanidade.” (RODRIGUES, 1965, p.39-40)
Uma de suas obras mais famosas sai em 1907, após 7 anos de preparo, uma edição comentada de “História Geral do Brasil” de Varnhagen, na qual realizou anotações, esclarecimentos e críticas. Os pontos e questões que considerou merecedores de maiores estudos Capistrano reservou lugar em seu “Capítulos de História Colonial”, onde tratou de assuntos tais como o indígena, os franceses e ingleses no Brasil, a guerra flamenga, a expansão para o sertão e a formação dos limites territoriais, entre outros. Porém, sua produção intelectual não se limita a isso, produziu incansavelmente de 1878 a 1927, tendo editado “Caminhos Antigos e o Povoamento do Brasil” no ano de 1899 e realizado inúmeras traduções, inclusive de livros de direito e medicina, durante sua vida.
O importante é notarmos o que realmente ocorreu ao longo do século XIX, considerado por alguns como o “século da História”. A História surge então como reveladora de gêneses, não que isso nunca houvesse sido feito, porém passa-se a pensar como analisá-la, que ferramentas seriam usadas, que teorias e práticas seriam pertinentes. Na verdade, é no oitocentos que se cria um caráter científico para o que antes era considerado apenas literatura, adquirindo assim, métodos e critérios. Segundo Francisco Iglesias o que se tenta fazer, a partir daí, é “reunir o maior número possível de documentos, seja de produção atual seja de mais antiga, com a recuperação de papéis perdidos ou desgastados pelo tempo” (IGLÉSIAS, 2000,p. 41). Estes documentos proporcionaram bases sólidas para que estudiosos pudessem discutir suas diferentes visões.
Rapidamente a História virou “febre intelectual” resultando no surgimento de inúmeros institutos e sociedades especializadas, tendência que o Brasil acompanhou de perto seguindo o modelo dado pelo Instituto Histórico de Paris para a criação de seu Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. No entanto, não apenas de influências se fez a produção intelectual brasileira. As ideias francesas e alemãs, logicamente, fizeram parte das rodas de discussões dos estudiosos deste lado do Atlântico. Mas seria ingenuidade pensar que nada de original surgiu na América e que tudo foi importado – pensamento existente até hoje. Se grande parte da história intelectual brasileira é importada, é importante lembrar que as ideias e doutrinas aqui se “deformaram ou conformaram às condições de um novo meio” (COSTA, 1987, p.324).
Sendo assim, o IHGB foi o responsável por agremiar os historiadores ou apaixonados por história, para que mais tarde estes autodidatas ou “filosofantes brasileiros”, segundo as palavras de João Cruz Costa, pudessem influenciar as gerações seguintes, disputando a atenção dos mais novos com as idéias estrangeiras. É interessante pensar também que a “importação” de ideias e doutrinas se faz mais forte quando não se possui meios com os quais rebatê-las ou rechaçá-las, e que grandes revoluções – e aqui se incluem as intelectuais – só ocorrem quando há ideias trabalhadas e adequadas aos revolucionários.
Este ensaio não pretende, de forma alguma, discutir ainda se a historiografia “pós-anos 30” sofreu uma revolução ou evolução, mas espera-se que tenha ficado demonstrado que apesar de possíveis erros, incongruências ou inconsequências uma futura renovação só pode se realizar sobre algo pré-existente, ou seja, Francisco Adolfo de Varnhagen, João Capistrano de Abreu, Joaquim Nabuco, Barão de Rio Branco, João Pandiá Calógeras, entre outros, foram o início para que depois viessem Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, e sucessivamente até os tempos atuais.

Bibliografia:

ABRÃO, Bernadette Siqueira – História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

COSTA, João Cruz – O pensamento brasileiro sob o Império. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de – História Geral da Civilização Brasileira. T. II, vol.3. 6.ed. Rio de Janeiro: Bertrand-DIFEL, 1987.

IGLÉSIAS, Francisco – Os historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. 1.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte: UFMG- IPEA, 2000.

RODRIGUES, José Honório – Teoria da História do Brasil: Introdução Metodológica. Vol.1. 2.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957.

RODRIGUES, José Honório – História e Historiadores do Brasil. 1.ed. São Paulo: Fulgor, 1965.

O QUE É HISTÓRIA


Resenha crítica

Nadir Costa

BORGES, Vavy Pacheco. O que é História. São Paulo: Brasiliense, 1981.
A autora desta obra é professora de história da Unicamp. Publicou em 1979 pela brasiliense o livro “Getúlio Vargas e a Oligarquia Paulista”.E como tese de Doutorado “Sentidos do Tenentismo: memória, História e Historiografia”.
A obra é dirigida para a formação do profissional em História. O livro organiza-se em três partes. É apresentado pela autora como um estudo para a Introdução aos Estudos da História. Vavy propõe-se com esta obra, oferecer informações aos estudantes de História, ou seja, a proposta da autora é o de iniciar o aluno nesta descoberta fascinante do fazer histórico. Sua abordagem é, ao mesmo tempo descritiva e normativa.
Segundo a autora a história é inacabada, está sempre em construção. No primeiro capítulo, a autora ressalta que o mito foi uma das primeiras formas de explicação da origem humana. A História surgiu com os antigos filósofos gregos, que viram a importância da explicação histórica. Durante a Idade Média, na Europa desenvolveu-se a História Teológica, que passou a subordinar o mundo às leis de Deus.. A partir do século XVI, a História como ciência, passou a exigir procedimentos mais rigorosos do que aqueles empregados pelos historiadores até a Idade média, surgindo os primeiros passos na constituição de seu método. No final do século XVII, a História escrita pelos positivistas é uma sucessão de acontecimentos isolados, surgindo uma nova forma de elaborar a História. Na nova sociedade que se impõe, no século XIX aparece uma corrente filosófica, o Idealismo Alemão, que traz enormes consequências para a História, com Hengel, a dialética aceita desde a Antiguidade Grega por alguns filósofos, é retomada em outro sentido. Com os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial surge entre os historiadores a necessidade de rever suas posições eurocentristas. A História é apresentada como processo de desenvolvimento contínuo, desde a pré-história até o período contemporâneo.
No segundo capítulo a autora mostra a visão da historia atual. São os homens que fazem a História. A História é produzida, analisando todos os fatos, abrangendo os fatos políticos e ideológicos. O historiador deve situar-se no tempo e no espaço de quem quer estudar.
No apêndice final para a autora, a História no Brasil, está presa nas escolas e universidades. Encontra-se, afastada de sua principal finalidade; proporcionar ao ser humano, a reflexão sobre as formas de vida e de organização social desenvolvidas em todos os tempos e espaços geográficos, procurando compreender e explicar as suas causas e implicações.
O reconhecimento do significado dessa dimensão teórica na formação dos estudantes de História, entretanto, não tem sido acompanhada de uma produção editorial compatível. Abram-se alguns livros dos poucos disponíveis de Introdução á História e se poderá observar a limitação dos títulos específicos, particularmente dos editados no Brasil. O pequeno manual de Vavy (O que é História), que tem tido sucessivas edições, as indicações para leitura são, em muitos casos, obras estrangeiras ainda sem tradução no Brasil. Em vista disso o livro da autora não preenche as lacunas para dar conta da História da História, pois temos que buscar os artigos dispersos nas revistas especializadas ou monografias para preencher as lacunas na formação do profissional de História.

Cabeça gigante do faraó Amenofis III é descoberta em Luxor, no Egito.

O ministério da Cultura egípcio anunciou no dia 28 de fevereiro de 2010 que foi encontrada em Luxor, no templo funerário de Amenofis, uma cabeça gigante de granito vermelho reproduzindo a imagem do faraó Amenofis III, de 3.000 anos de idade.
"A cabeça está intacta e mede 2,5 metros de altura", indicou em um comunicado Zahi Hawass, diretor do departamento de Antiguidades Egípcias. "É uma obra prima de grande qualidade artística, um retrato do rei com traços esculpidos muito finos e cheios de juventude", descreveu.
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19 de maio de 2010

Cientistas encontram mais antigo ancestral humano na Etiópia

A humanidade está 1 milhão de anos mais velha. Cientistas descobriram um ancestral dos homens atuais de 4,4 milhões de anos. O Ardipithecus ramidus (ou apenas “Ardi”, como é carinhosamente chamado) foi descrito minuciosamente por uma equipe internacional de cientistas, que divulgaram a descoberta em uma edição especial da revista “Science” desta semana.

O espécime analisado, uma fêmea, vivia onde hoje é a Etiópia 1 milhão de anos antes do nascimento de Lucy (estudado por muito tempo como o mais antigo esqueleto de ancestral humano).

DICIONÁRIO

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Lendas e mitos

Lenda é uma narrativa fantasiosa transmitida pela tradição oral através dos tempos.

De caráter fantástico e/ou fictício, as lendas combinam fatos reais e históricos com fatos irreais que são meramente produto da imaginação humana.

Com exemplos bem definidos em todos os países do mundo, as lendas geralmente fornecem explicações plausíveis, e até certo ponto aceitáveis, para coisas que não têm explicações científicas comprovadas, como acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Podemos entender que Lenda é uma degeneração do Mito. Como diz o dito popular "Quem conta um conto aumenta um ponto", as lendas, pelo fato de serem repassadas oralmente de geração a geração, sofrem alterações à medida em que vão sendo recontadas. 

Ressurgem dúvidas sobre morte de Hitler

Algumas dúvidas ressurgem sobre morte de Hitler. Informação sobre o crânio encontrado fortalece a ideia de o ditador ter escapado do cerco a Berlim
Um fragmento de crânio que, segundo se acreditava, pertencia a Adolf Hitler, é, na verdade, o crânio de uma mulher não identificada, com idade entre 20 e 40 anos. A informação, revelada por um estudo promovido pela Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, reavivou as dúvidas sobre a morte do líder nazista.

Parte do crânio, que apresenta uma marca de tiro, foi usada para sustentar a teoria de que Hitler tomou cianureto e disparou contra a própria cabeça em seu bunker de Berlim quando as tropas soviéticas se aproximavam, em abril de 1945.

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12 de maio de 2010

Assim nasceu a bruxaria

Para pregar o bem, cristãos convenciam seu rebanho da existência do mal: o demônio estava solto e a mulher era perigosa
Carlos Roberto Figueiredo Nogueira

O cristianismo surgiu com a proposta de ser uma religião universal, mas o mundo tinha particularidades, sobretudo religiosas. Para levar a Boa-Nova a todos os homens, os cristãos precisavam se impor sobre seus oponentes. Assim foi construída a Igreja, primeiro apartando-se do judaísmo, o mais incômodo adversário pela inquietante proximidade. Eliminados os judeus – “assassinos de Cristo” –, os heterodoxos foram os seguintes a ser calados ou perseguidos.

Ao longo do período medieval, a Igreja era atormentada pelas seitas de “adoradores do diabo”, e por isso as perseguiu. Com rigor cada vez maior, chegou à caça às bruxas da Europa moderna: a combinação trágica e eficaz entre a alteridade e a erudição.

A construção de uma mitologia satânica implicou um monumental esforço de reconhecimento do demônio, de suas formas e possibilidades de atuação. Também era preciso identificar seus agentes, ou seja, aqueles que, embora inseridos no rebanho dos fiéis, tramavam secretamente para a sua perdição. Entre estes estava a mulher.  Teólogos e eruditos medievais a converteram em bruxa, o suprassumo da traição e da maldade, o veículo preferencial de toda a malignidade de Satã – enfim, o feminino em toda a sua tragicidade.

A doutrina cristã apresentava como razão para a submissão feminina a própria Criação: se o homem não foi criado pela mulher, ela estava numa posição automaticamente submissa. E ela também era a introdutora do pecado responsável pela condenação dos homens aos tormentos deste e do outro mundo, tornando-se a vítima e, ao mesmo tempo, a parceira consciente do diabo. De presa preferencial do demônio, Eva – a primeira mulher – foi convertida em seu lugar-tenente. (...) 
E  mais sobre o tema

11 de maio de 2010

Arqueólogos encontram restos de igreja do século 5º a.C. no Egito

Um grupo de arqueólogos egípcios encontrou em Luxor (Egito) os restos de uma igreja do século 5º a.C. e de um nilômetro (construção subterrânea para medir o aumento do rio Nilo) do 2º milênio a.C.. O anúncio foi feito pelo ministro de Cultura egípcio, Farouk Hosny.

A descoberta ocorreu durante uma escavação de rotina no conhecido Passeio das Esfinges, que liga os templos de Luxor e Karnak e que as autoridades egípcias tentam recuperar.

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9 de maio de 2010

A origem do Dia das Mães



A mais antiga comemoração dos dias das mães é mitológica. Na Grécia antiga, a entrada da primavera era festejada em honra de Rhea, a Mãe dos Deuses.
O próximo registro está no início do século XVII, quando a Inglaterra começou a dedicar o quarto domingo da Quaresma às mães das operárias inglesas. Nesse dia, as trabalhadoras tinham folga para ficar em casa com as mães. Era chamado de "Mothering Day", fato que deu origem ao "mothering cake", um bolo para as mães que tornaria o dia ainda mais festivo.
Nos Estados Unidos, as primeiras sugestões em prol da criação de uma data para a celebração das mães foi dada em 1872 pela escritora Júlia Ward Howe, autora de "O Hino de Batalha da República".
Mas foi outra americana, Ana Jarvis, no Estado da Virgínia Ocidental, que iniciou a campanha para instituir o Dia das Mães. Em 1905 Ana, filha de pastores, perdeu sua mãe e entrou em grande depressão. Preocupadas com aquele sofrimento, algumas amigas tiveram a idéia de perpetuar a memória de sua mãe com uma festa. Ana quis que a festa fosse estendida a todas as mães, vivas ou mortas, com um dia em que todas as crianças se lembrassem e homenageassem suas mães. A idéia era fortalecer os laços familiares e o respeito pelos pais.
Durante três anos seguidos, Anna lutou para que fosse criado o Dia das Mães. A primeira celebração oficial aconteceu somente em 26 de abril de 1910, quando o governador de Virgínia Ocidental, William E. Glasscock, incorporou o Dia das Mães ao calendário de datas comemorativas daquele estado. Rapidamente, outros estados norte-americanos aderiram à comemoração.
Finalmente, em 1914, o então presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson (1913-1921), unificou a celebração em todos os estados, estabelecendo que o Dia Nacional das Mães deveria ser comemorado sempre no segundo domingo de maio. A sugestão foi da própria Anna Jarvis. Em breve tempo, mais de 40 países adotaram a data.
"Não criei o dia das mães para ter lucro"
O sonho foi realizado, mas, ironicamente, o Dia das Mães se tornou uma data triste para Anna Jarvis. A popularidade do feriado fez com que a data se tornasse uma dia lucrativo para os comerciantes, principalmente para os que vendiam cravos brancos, flor que simboliza a maternidade. "Não criei o dia as mães para ter lucro", disse furiosa a um repórter, em 1923. Nesta mesmo ano, ela entrou com um processo para cancelar o Dia das Mães, sem sucesso.
Anna passou praticamente toda a vida lutando para que as pessoas reconhecessem a importância das mães. Na maioria das ocasiões, utilizava o próprio dinheiro para levar a causa a diante. Dizia que as pessoas não agradecem freqüentemente o amor que recebem de suas mães. "O amor de uma mãe é diariamente novo", afirmou certa vez. Anna morreu em 1948, aos 84 anos. Recebeu cartões comemorativos vindos do mundo todos, por anos seguidos, mas nunca chegou a ser mãe.
Cravos: símbolo da maternidade
Durante a primeira missa das mães, Anna enviou 500 cravos brancos, escolhidos por ela, para a igreja de Grafton. Em um telegrama para a congregação, ela declarou que todos deveriam receber a flor. As mães, em memória do dia, deveriam ganhar dois cravos. Para Anna, a brancura do cravo simbolizava pureza, fidelidade, amor, caridade e beleza. Durante os anos, Anna enviou mais de 10 mil cravos para a igreja, com o mesmo propósito. Os cravos passaram, posteriormente, a ser comercializados.
No Brasil
O primeiro Dia das Mães brasileiro foi promovido pela Associação Cristã de Moços de Porto Alegre, no dia 12 de maio de 1918. Em 1932, o então presidente Getúlio Vargas oficializou a data no segundo domingo de maio. Em 1947, Dom Jaime de Barros Câmara, Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro, determinou que essa data fizesse parte também no calendário oficial da Igreja Católica.


Texto compilado das seguintes fontes
- Pesquisa de Daniela Bertocchi Seawright para o site Terra,
http://www.terra.com.br/diadasmaes/odia.htm
Fontes / Imagens:
· Norman F. Kendall, Mothers Day, A History of its Founding and its Founder, 1937.
· Main Street Mom
· West Virginia Oficial Site

7 de maio de 2010

A CONQUISTA EUROPÉIA

         Nadir Costa


        Os europeus chegaram às terras descobertas como se fossem seus legítimos donos, delas tomando posse em nome dos reis. Em nenhum momento lhes ocorreu que os povos encontrados pudessem ter qualquer direito à terra onde nasceram e viveram.
        Foram ocupando e dominando as terras. Em todo continente americano as cenas de violência foram muito mais frequentes do que o relacionamento cordial. De uma hora para outra, as populações da América se viram invadidas, obrigadas a aceitar as ordens daqueles homens que entravam como senhores das terras, das pessoas, das casas e das riquezas. Diante de tantos metais preciosos, entre outras riquezas minerais, a ganância subiu à cabeça dos europeus. O resultado foi a conquista a base da destruição e violência:

[Os astecas...] estavam em tão má situação que […] para combater tinham que caminhar sobre o corpo de seus mortos. Foi tanto mortandade que entre os mortos e presos somou-se mais de quarenta almas [ somente nesse ataque]. Quando entramos naquela parte da cidade [Tecnochtitlan, atual cidade do México], não havia outra coisa para colocar os pés que não fosse o corpo de um morto. […]
                                                     (Hernán Cortéz, Terceira carta ao rei de Espanha, 15/5/1522)

        Os europeus possuíam enorme superioridade sobre a maioria dos povos descobertos, conheciam o uso da pólvora, já utilizavam canhões e armas portáteis.
       Embora tivessem armas e fossem acostumados às guerras, os povos descobertos não conseguiram resistir aos europeus.

[Cortés...] mostrou-lhes as espadas. Eles não as conheciam, seguravam-nas pelo fio, cortavam-se.[...]
                                                    (Bernal Diaz del Castilho, História verdadeira da conquista da Nova Espanha, 1519)
[Os espanhóis …] rápido dispararam um canhão. Tudo ficou confuso. [Os índios] corriam sem rumo, as pessoas dispersavam-se sem quê nem porque, debandavam, como se fossem perseguidos. Tudo era como se todos tivessem comido cogumelos estupefacientes, como se tivessem visto algo assombroso. O terror dominava a todos, como se todo mundo tivesse perdido o coração. E quando anoitecia, era grande o espanto, o pavor se estendia a todos por temor perdiam o sono.[...]
                                                                                            (Frei Bernadino de Sahagún, op.cit, 1555)

        Por vezes os índios, se apoderavam das armas dos conquistadores. Mas os valores indígenas,muito diferentes dos europeus, acabavam por destinar para eles um uso diferente:

[…] Todas as vezes que os tarascos [índios do México] se apoderavam de armas de fogo tomadas dos espanhóis, as armas eram oferecidas aos deuses nos templos.[...]
                                                                                  (Martins de Jesus de la Corunã, relação de Michoacán, 1540)

        O cavalo desconhecido entre os índios foi fator importante para a vitória militar dos conquistadores. Os indígenas, em pânico, fugiam desordenadamente ou se jogavam ao chão.
        Ao impor seus valores, os conquistadores europeus desorganizaram as culturas dos povos descobertos, alteraram o ritmo de vida desses povos, eles se viram proibidos de expressarem suas próprias religiões e a praticar o cristianismo. O resultado foi o enfraquecimento e desorganização, pois era nos mitos, nas crenças e nos símbolos que esses povos encontravam as explicações para a vida, a natureza, a morte...
        A importância dos mitos em algumas sociedades era tão grande que Montezuma, imperador asteca, chegou a interpretar a chegada dos espanhóis como sendo a realização de uma antiga profecia. Baseando-se em uma série de presságios, ele reconheceu nos conquistadores os antigos deuses que, segundo a profecia, havia criado o povo asteca e que um dia voltariam para dominá-los. Foram essa palavras que Montezuma a Cortés:

[…] Não, não é que eu sonhe, não me levanto adormecido do sonho: não vejo isso em sonhos, não estou sonhando […] Acontece que já te vi, aconteceu que já coloquei meus olhos em seu rosto! […] Há cinco, dez dias eu estava angustiado: tinha o olhar fixo na Região do Mistério. E tu vinhas entre as nuvens, entre neblinas. Era bem como deixaram-nos os reis, os que regeram, os que governaram a tua cidade, que haverias de instalar-te em teu assento, em teu domínio, que haverias de vir para cá […] Pois agora realizou-se: tu já chegaste, com grande esforço, com grande afã. Chega a terra: vem e descansa, toma posse de tuas casas reais, dá refrigério ao teu corpo. Chegai à vossa terra, senhores nossos! […]
                                                                                                                           (Frei Bernadino de Sahagún, op.cit, 1555)

        A chegada dos espanhóis confundiu tanto a cultura asteca, que os índios chegaram a duvidar de seus próprios deuses.

[Os índios...] pediram aos deuses que lhes concedessem favores e a vitória sobre os espanhóis e outros inimigos. Mas deveria ser tarde demais, porque não obtiveram mais nenhuma resposta em seus oráculos; então consideraram os deuses mudos ou mortos.[...]
                                                                                                           (Duran, missionário espanhol, relato do século XVI)

Os descobertos tentaram justificar seus deuses e crenças aos cristãos, como mostra esse diálogo entre o cacique inca e um padre espanhol.

[…] Atahualpa […] disse quanto à religião, que a sua era muito boa e que se dava muito bem com ela […] Ele dizia além disso que Jesus Cristo tinha morrido, mas que o Sol e a Lua nunca morriam, e perguntou ao frade como é que ele sabia que o Deus dos cristãos tinha criado o mundo. Frei Vicente respondeu-lhe que aquele livro o dizia, e ao dizê-lo deu-lhe o seu breviário […] Atahualpa tomou-o, abriu-o, olhou-o de todos os lados, folheou-o e […] atirou-o no chão […] Frei Vicente apanhou o seu breviário e foi ter dom Pizzarro, gritando: “Ele atirou ao chão os evangelhos! Vingança, Cristãos! Carreguem sobre eles!” […]
                                                                                                                 (F. López de Gomora, História das índias, 1568)

        Em todos os povos dominados, os conquistadores estavam decididos a impor a religião pela força.

[No templo asteca...] há três salas onde estão os ídolos principais, todas de maravilhosa grandeza e belos trabalhos em cantaria, madeiramento e figuras esculpidas. Dentro destas salas estão pequenos compartimentos, sem claridade nenhuma, onde ficam alguns religiosos. Ali dentro é que ficam seus ídolos. Os principais destes ídolos e nos quais eles tinham mais fé eu derrubei de seus assentos e os fiz descer escada abaixo. Fiz também com que limpassem aquelas capelas, pois estavam cheias de sangue dos sacrifícios que faziam. Em lugar dos ídolos mandei colocar imagens de Nossa Senhora e de outros santos […]
                                                                                        (Hernán Cortés, Segunda carta ao rei da Espanha, 30/10/1520)

        Quando os conquistados tentavam reagir, eram castigados, como demonstram o documento que segue:

[…] Depois de terem deixado a capela, esses homens [indígena] jogaram as imagens [cristãs] ao solo, cobriram-nas com um punhado de terra e urinaram sobre elas; vendo isto, Bartolomeu, irmão de Colombo, decidiu puni-los de modo bem cristão […] levou alguns homens maus à justiça e, em vez definido o crime, fez com fosse queimados em público. […]
                                                                                                                   (F. Colombo, historiador espanhol, século XVI)

        A violência dos conquistadores e a imposição religiosa muitas vezes resultaram num verdadeiro horror aos povos descobertos.
        A conquista foi a primeira etapa da dominação europeia sobre os povos descoberto. A partir daí começou de fato a colonização, etapa seguinte desse longo processo de contato desigual entre os homens do mundo.

5 de maio de 2010

Minorias

minorias são grupos marginalizados ou vulneráveis que vivem à sombra de populações majoritárias. Possuem costumes e práticas culturais baseados em valores diferentes dos da cultura majoritária ou dominante. As minorias estão presentes desde a Antiguidade em muitas sociedades e países. Atualmente, discute-se muito o estabelecimento de seus direitos. São exemplos de segmentos minoritários os povos autóctones ou indígenas, os migrantes, os imigrantes, os refugiados, os deslocados e os exilados.


COLONIALISMO

O Colonialismo é um fenômeno antigo. Desde a época dos gregos, a história mundial registra a constituição de muitas colônias e impérios. Trata-se de uma prática de conquista e ocupação de terras estrangeiras, que consiste em nelas instalar colonos a fim de explorar as riquezas agrícolas e minerais do local, assim como o trabalho dos colonizados. Entre as razões que levam ao impulso de colonização, destacamos as guerras de conquista, as discordâncias dinásticas, a ambição territorial para o domínio de recursos estratégicos, a expansão comercial, a evangelização, a escravização de povos e a reconquista. Nos dias de hoje, alguns recursos estratégicos, como o petróleo, a água e as florestas tropicais, podem levar determinados países à guerra contra outros povos e à ocupação de seus territórios. Por exemplo, o petróleo e a água estão entre os motivos de constante instabilidade no Oriente Médio.

3 de maio de 2010

Índios que habitavam o Brasil antes da colonização portuguesa

Por: Caop Indígena
Os povos indígenas que habitavam o Brasil antes da colonização portuguesa não possuíam escrita; assim, não existem documentos escritos que expliquem como eram essas comunidades antes do “descobrimento”, conforme explicam Flávio de Campos e Renan Garcia Miranda:

A forma de tentar reconstituir a vida dos nativos antes da chegada dos europeus é, por mais paradoxal que possa parecer, pelos relatos e crônicas escritos por esses mesmos europeus no período colonial. Como os povos indígenas da América portuguesa não desenvolveram a escrita, os principais documentos a respeito de sua história foram elaborados pelos conquistadores.

A partir de relatos dos descobridores e de estudiosos do período pode-se concluir a forma com que os indígenas viviam como sociedade.
Sabe-se que os indígenas não tinham a mesma visão capitalista dos europeus, haja vista que viviam em uma sociedade na qual não havia desigualdades, tampouco disputa de poder. Andreza Pierin ressalta que:

Essas sociedades desenvolveram formas particulares de manejo dos recursos naturais, que não visam diretamente o lucro, mas à reprodução cultural e social, além de percepções e representações em relação ao mundo natural, marcadas pela idéia de associação com a natureza e a dependência de seus ciclos. Os índios pertencem a uma sociedade cujo fim é a reprodução da solidariedade e não a acumulação de bens e lucro.

Portanto, estuda-se a forma de viver dos indígenas que habitavam o País naquela época a partir de relatos de descobridores, como os trechos da carta endereçada ao Rei D. Manuel escrita por Pero Vaz de Caminha:

Foram-se lá todos; e andaram entre eles. E segundo depois diziam, foram bem uma légua e meia a uma povoação, em que haveria nove ou dez casas, as quais diziam que eram tão compridas, cada uma, como esta nau capitaina. E eram de madeira, e das ilhargas de tábuas, e cobertas de palha, de razoável altura; e todas de um só espaço, sem repartição alguma, tinham de dentro muitos esteios; e de esteio a esteio uma rede atada com cabos em cada esteio, altas, em que dormiam. E de baixo, para se aquentarem, faziam seus fogos. E tinha cada casa duas portas pequenas, uma numa extremidade, e outra na oposta. E diziam que em cada casa se recolhiam trinta ou quarenta pessoas, e que assim os encontraram; e que lhes deram de comer dos alimentos que tinham, a saber muito inhame, e outras sementes que na terra dá, que eles comem. E como se fazia tarde fizeram-nos logo todos tornar; e não quiseram que lá ficasse nenhum. E ainda, segundo diziam, queriam vir com eles. Resgataram lá por cascavéis e outras coisinhas de pouco valor, que levavam, papagaios vermelhos, muito grandes e formosos, e dois verdes pequeninos, e carapuças de penas verdes, e um pano de penas de muitas cores, espécie de tecido assaz belo, segundo Vossa Alteza todas estas coisas verá, porque o Capitão vô-las há de mandar, segundo ele disse. E com isto vieram; e nós tornamo-nos às naus.

O texto acima exposto de Pero Vaz de Caminha demonstra a simplicidade e inocência dos povos indígenas.
Em consonância com
a simplicidade e inocência colocadas por Pero Vaz de Caminha, Luiz Donizete Benzi Grupioni destaca alguns dos valores mais característicos das sociedades indígenas:

Sociedades indígenas são sociedades igualitárias, não estratificadas em classes sociais e sem distinções entre possuidores dos meios de produção e possuidores de força de trabalho. São sociedades que se reproduzem a partir da posse coletiva da terra e dos recursos nela existentes e da socialização do conhecimento básico indispensável à sobrevivência física e ao equilíbrio sócio-cultural dos seus membros.

Deste modo, a partir dos ensinamentos de Luiz Donizete Benzi Grupioni, pode-se concluir que os indígenas valorizavam a terra e não degradavam o meio ambiente, haja vista que este era o meio de sobrevivência das comunidades.
Boris Fausto exemplifica as atividades dos indígenas como sendo a caça, a pesca, a coleta de frutos, a agricultura, bem como o artesanato, sendo que todas estas atividades não eram em busca do lucro como nas sociedades capitalistas, porém o autor não acredita que eles possuíam consciência de proteger o meio ambiente. Todavia, afirma que:

De qualquer forma, não há dúvida de que, pelo alcance limitado de suas atividades e pela tecnologia rudimentar de que dispunham, estavam longe de produzir os efeitos devastadores da poluição de rios com mercúrio, ou da derrubada de florestas com motosserras, características das atividades dos brancos nos dias de hoje.

Verifica-se que os indígenas possuíam uma sociedade extremante diferente da sociedade européia, sendo que esta chegou ao Brasil com o intuito de obter riquezas e poder, enquanto que os indígenas somente utilizavam a terra, a água e caçavam para a sobrevivência da espécie.

As conseqüências da conquista para os indígenas

A partir da chegada dos portugueses no Brasil, a vida dos indígenas foi transformada. Além do cotidiano e dos costumes, começou a ser modificado também o meio ambiente, como esclarece Carlos Frederico Marés de Souza Filho:

Os europeus, especialmente os portugueses e espanhóis, chegaram na América como se estivessem praticando a expansão de suas fronteiras agrícolas. Foram chegando, extraindo as riquezas, devastando o solo e substituindo a natureza por outra, mais conhecida e dominada por eles. As populações locais viviam do que a aqui tinham, comiam milho ou mandioca, produziam biju, ricas carnes de animais nativos, aves ou peixes. Aos poucos foram introduzidas novas comidas, cabras, carneiros, queijos e novas plantas, cana-de-açúcar, café e beterraba. A introdução de novas essências não poupou nem mesmo as árvores e os frutos, a tal ponto de se dizer que a natureza foi substituída.

Diferente do que muitos contam, os indígenas, assim como os negros, foram escravizados. Darcy Ribeiro relata que eles eram caçados e apropriados pelos senhores para os servirem. Enquanto que o negro era utilizado para mão de obra mercantil e de exportação, o índio era utilizado para transportar cargas, para cultivar gêneros, preparar alimentos, para a caça e a pesca.
Desta forma o indígena passou a perder seu espaço e sua liberdade, ficando cada vez mais dependente do “homem branco”, o que ficou ainda mais marcado com a vinda dos Jesuítas, em meados do século XVI.

O Relativismo e a Filosofia

Por: Mauricio Santos


Um dos problemas mais sérios que encontramos ao estudar certas disciplinas filosóficas, como a Ética e a Política, consiste no relativismo.
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