28 de junho de 2010

Teorias sobre a origem do homem americano e brasileiro


Chegando à América

A hipótese tradicional propõem que o ser humano chegou ao continente americano atravessando uma ponte de gelo ou terras emersas na região do Estreito de Bering, entre os atuais Estados Unidos e Rússia.

Segundo essa hipótese, alguns cientistas afirmam que a chegada dos primeiros grupos teria acontecido há cerca de 20 mil anos, durante a última glaciação, época em que a temperatura do planeta esteve extremamente baixa e as geleiras avançaram dos pólos em direção ao equador.
Esses primeiros ocupantes da América, que teriam vindo das atuais Mongólia e Sibéria, na Ásia, seriam caçadores e estariam perseguindo suas presas quando fizeram a travessia para a América do Norte. Tudo indica que, naquele momento, o nível do mar estava aproximadamente 150 metros mais baixo do que atualmente, formando assim uma sólida faixa de gelo. Essa camada de gelo teria se desfeito quando a temperatura do planeta subiu, dando origem ao atual Estreito de Bering.
A migração de seres humanos através do Estreito de Bering não pode ser descartada, mas é provável que tenham existido outros caminhos. É possível também que homens e mulheres tenham chegado ao continente americano muito antes dessa data.
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Evolução humana


Em oposição ao criacionismo, a teoria evolucionista parte do princípio de que o homem é o resultado de um lento processo de alterações (mudanças). Esta é a idéia central da evolução: os seres vivos (vegetais e animais, incluindo os seres humanos) se originaram de seres mais simples, que foram se modificando ao longo do tempo.
Essa teoria, formulada na segunda metade do século XIX pelo cientista inglês Charles Darwin, tem sido aperfeiçoada pelos pesquisadores e hoje é aceita pela maioria dos cientistas.
Após abandonar seus estudos em medicina, Charles Darwin (1809 – 1882) decidiu dedicar-se às pesquisas sobre a natureza. Em 1831 foi convidado a participar, como naturalista, de uma expedição de cinco anos ao redor do mundo organizada pela Marinha britânica.
Em 1836, de volta  à Inglaterra, trazia na bagagem milhares de espécimes animais e vegetais coletados em todos os continentes, além de uma enorme quantidade de anotações. Após vinte anos de pesquisas baseadas nesse material, saiu sua obra prima: A Origem das Espécies através da seleção natural, livro publicado em 1859.
A grande contribuição de Darwin para a teoria da evolução foi a idéia da seleção natural. Ele observou que os seres vivos sofrem modificações que podem ser passadas para as gerações seguintes.
No caso das girafas, ele imaginou que, antigamente, haveria animais de pescoço curto e pescoço longo. Com a oferta mais abundante de alimentos no alto das árvores, as girafas de pescoço longo tinham mais chance de sobreviver, de se reproduzir e assim transmitir essa característica favorável aos descendentes. A seleção natural nada mais é, portanto, do que o resultado da transmissão hereditária dos caracteres que melhor adaptam uma espécie ao meio ambiente. [...]
A idéia seleção natural não encontrou muita resistência, pois explicava a extinção de animais como os dinossauros, dos quais já haviam sido encontrados muitos vestígios. O que causou grande indignação, tanto nos meios religiosos quanto nos científicos, foi a afirmação de que o ser humano e o macaco teriam um parente em comum, que vivera há milhões de anos. Logo, porém surgiria a comprovação dessa teoria, à medida que os pesquisadores  descobriam esqueletos com características intermediárias entre os humanos e os símios.


31 de maio de 2010

A Conquista da América A questão do outro.

Nadir Costa

O autor, em seu livro, nos dá exemplos do problema do outro, o conquistado, e reconhece claramente os avanços tecnológicos do “eu” do conquistador. Segundo o autor, um dos grandes problemas dos indígenas é a incapacidade de seu sistema comunicativo; é dizer que eles não dominam a linguagem dos conquistadores nem entendem seus costumes. Em seu livro a conquista da América, se desenrola os diferentes problemas que tiveram os conquistadores e os indígenas. Sem dúvida, neste livro, aparecem algumas perspectivas dadas desde o ponto do “eu” colonizador. Um dos temas principais é que Todorov sugere que é necessário conhecer o outro para conhecer-se melhor. Seu desejo de compreender, unir e comparar os dois lados, desde uma perspectiva europeia, sugere que ainda hoje existem as separações de continentes, países e culturas. Além disso, Todorov nos apresenta o problema do outro: o conhecimento europeu ante o conhecimento indígena, tratando de comparar o uso das referências textuais e como estas contribuíram para a história da conquista das Américas. Por exemplo, Cristóvão Colombo, Hernam Cortez, Montezuma, La Malinche, os Astecas e os incas são representantes históricos que utiliza o autor para estabelecer o problema da conquista.
Todorov comenta a história da interação entre Cortez e Montezuma e a conquista dos astecas no México. Segundo o autor, o imperador dos astecas é um líder indeciso, incapaz de proteger a seu povo durante a conquista. O descreve como um herói débil, reservado e tímido (nunca queria que lhe vissem o rosto). Todorov explica precisamente a debilidade dos vencidos e seus problemas e reproduzindo outra versão do “outro”. Se examinarmos a história mexicana poderíamos ver que Montezuma era um dos líderes mais poderosos dos astecas e suas táticas de guerra eram diferentes por outro motivo. Os índios começavam a perder sua fé em seus próprios deuses porque não viam nenhuma ajuda, não lhes respondiam seus deuses para dar-lhes consolo. Todorov não comenta muito sobre o “outro”. Suas debilidades são por falta de comunicação física e espiritual. Ao contrário, se comenta muito o heroísmo de Hernam Cortez e suas capacidades extraordinária de manipular os signos e utilizar a linguagem como arma.
O calendário dos astecas consistia de13 meses e vinte dias em cada mês. Quando se sabia a data de nascimento se sabia também o destino dessa pessoa. Diz-se que um mundo sobredeterminado é um mundo sobre o interpretado. Os índios viam muitos signos que talvez lhes davam muitas ideias falsas do futuro, porém não menciona que às vezes lhes davam ideias corretas para o futuro. Isso não constrói seu futuro, não tem livre arbitro, sua vida considerava-se determinada desde o princípio. Uma vez de identificar-se com a forma de vida que levavam os astecas, seus avanços intelectuais e suas interpretações do futuro, Todorov só menciona as maneiras em que se separa o um do outro em vez de comparar como se assemelhavam as barreiras culturais que interferiram com o conhecimento do outro. Os astecas tinham uma ontologia distinta a da europeia e a demonstravam em forma de atuação, de modos mais simbólicos( sacrifícios, comunicação com a natureza, etc). Não eram algumas ideologias semelhantes a alguns pensamentos do velho continente? Sua filosofia de vida predestinada também forma parte do pensamento ocidental. Segundo o autor, a comunicação indígena entre homem e natureza era mais estreita e se via suas vidas refletidas nos sonhos, ideias.
Os incas, os Astecas e muitas tribos grandes tinham a mesma profecia que iria vir “Deuses” do oeste para conquistá-los. É misteriosa a uniformidade do tempo. Os indígenas tinham escolas em que aprendiam escrever, porém seu modo comunicativo, segundo o autor, não era tão avançado como o alfabeto. Esta forma de comunicação que parecia inadequada para um espanhol, era outro motivo que tinham os espanhóis para civilizar os indígenas. Talvez uma técnica desvantajosa para o guerreiro nativo. As maneiras em que se comunicavam para realizar os gritos de combate não ajudaram a dissimular as táticas de guerras dos indígenas. Suas interpretações da religião Católica eram sinônimas da mentira.
Este exemplo para demonstrar como o indígena é forçado a aceitar a religião católica porque os espanhóis ganharam a conquista por causa da comunicação simbólica entre o homem e não só entre homem e natureza.
Todorov nos mostra que Cortez se preocupava com a comunicação, ia atrás de interpretes, queria entender e se fazer entender “o que Cortez quer, imediatamente, não é tomar, mas compreender, são os signos que interessam a ele em primeiro lugar, não os referentes”. Sua expedição começa com uma busca por informação e não por ouro. A primeira ação que executa é procurar um interprete. Ouve falar de índios que empregam palavras espanholas, deduz que talvez haja espanhóis entre eles, suas suposições são confirmadas, um deles, Jerônimo de Aquilar se une á tropa de Cortez. Aquilar é transformado em interprete oficial, entretanto ele só fala o Maia, e na busca por interprete Cortez encontra Lá Malinche que lhe serviu de interprete durante todo o processo de conquista.
La Malinche como interpretadora é uma figura importante para a vitória dos espanhóis, sem ela a comunicação extraordinária que tinha com os indígenas não haveriam ganhado a guerra, ela representa uma mistura das culturas. Em parte foi um dos primeiros exemplos da importância de ter um interprete, e segundo em como utiliza o idioma como arma para manipular as conversações.
Cortez sabe explorar as divisões internas através do conhecimento dos índios e consegue fazer com que eles fiquem seus aliados
Os astecas veem uma intervenção divina e Cortez não o vê, só interpreta tudo o que está a seu favor. Por exemplo, Todorov diz que Cortez não gostava de derrubar os templos indígenas e a arquitetura dos indígenas porque queria preservar a cultura. Nota-se que quer preservar a cultura artificial da representação da cultura, porém não quer preservar as vidas dos astecas.
Menciona-se que a linguagem é o companheiro do império. No caso de Cortez sua linguagem era usada para manipular e fingir para poder conquistar. As ações do conquistador também serviam para conquistar, demonstra que estava débil quando na realidade estava forte. Alem disso os espanhóis tinham muitos aliados nos indígenas que haviam vivido sob o domínio dos astecas. Os signos de Cortez se projetavam num ponto de vista muito subjetivo e individual e os astecas eram mais regra e coletivos em sua maneira de comunicar.



TODOROV, Tzvetan – A Conquista da América A questão do outro.

O fazer-se da historiografia brasileira





Este ensaio pretende apresentar um pouco da historiografia brasileira no século XIX, ou seja, o início da construção do pensamento e escrita da história nacional, de forma fluida e metodologicamente mais consciente do que tudo que anteriormente fora feito. Porém, um assunto de tamanha envergadura necessita de um recorte mais preciso para que possa caber nas modestas dimensões deste trabalho. Para tanto, o século em questão terá uma versão mais enxuta, com quase quarenta anos a menos, iniciando-se em 1838, o ano da criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Quanto a outra margem do século o recorte não é tão preciso, irá até o ano de 1900 sem muito rigor. Mais correto seria estudar-se até 1930, ponto de virada praticamente indiscutível do pensamento histórico brasileiro, no entanto, o presente trabalho tem como preocupação maior mostrar as origens, os primeiros anos deste pensar nacional, centrando olhares sobre a trajetória de Varnhagen e Capistrano de Abreu. Alguns nomes importantes não serão contemplados, como Joaquim Nabuco ou Barão de Rio Branco, o que não os diminui em absolutamente nada, apenas deixa-os para uma melhor ocasião.
No dia dois de outubro de 1838 é criado, no Rio de Janeiro, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) como proposta do Cônego Januário da Cunha Barbosa e do Brigadeiro Raimundo de Cunha Matos. Uma data de certa significação se analisada junto aos objetivos propostos pelos fundadores do Instituto. Estava-se a dois anos do fim da Regência, um período de extrema importância para a compreensão da formação do Império e do Brasil como Estado Nacional, fato que vai ao encontro dos objetivos da recém-criada entidade que apesar da forte carga de ideias nativistas e um tanto ufanistas “os traços mais notáveis do órgão, no entanto, são o pragmatismo da história e o gosto pela pesquisa”, o que não desconsidera o estudo da história como ferramenta pedagógica “orientadora dos novos para o patriotismo, com base no modelo dos antepassados.” (IGLÉSIAS, 2000, p. 61)
Apesar destas ideias pedagógicas, é a pesquisa que caracteriza o Instituto e o torna divisor de águas, pois passa-se a fazer o que nunca havia sido feito. O trabalho anteriormente realizado, desde o século XVII, era individual, episódico e sem continuidade. O IHGB foi responsável por reunir os que pensavam a história e estavam interessados em discuti-la, mas não em formá-los pois a entidade não possuía – e não possui, pois ainda existe – as características de uma universidade, sua função era de conduzir discussões e, por meio da sua Revista, publicar documentos pertinentes aos estudos históricos. Ou seja, o caráter autodidata dos pensadores brasileiros continuava: religiosos, militares, juristas e até médicos discutiam a História Pátria, como se usava dizer.
Por um bom tempo, a preocupação do Instituto foi em periodizar a História do Brasil, algo simples e óbvio hoje em dia mas que na época era motivo de inúmeras discussões. Entre elas se encontra o desentendimento entre o General José Inácio de Abreu e Lima, que como periodização propôs a divisão da História do Brasil em oito épocas ou capítulos, e Francisco Adolfo de Varnhagen, encarregado em dar um parecer em nome do IHGB no ano de 1843. A periodização do General era de fácil crítica devido a sua excessiva e quase exclusiva história administrativa do país e ao fato de ter pensado primeiramente as categorias para depois inserir os acontecimentos. No entanto Abreu e Lima se mostrou muito mais hábil na arte do “bate-boca” que com o pensamento científico, terminando este embate em um texto de Varnhagen intitulado “Réplica apologética de um escritor caluniado e Juízo final de um plagiário difamador que se intitula General”.
Curiosamente Varnhagen nunca se interessou em periodizar, atendo-se mais à documentação, sua paixão pessoal. O historiador sorocabano foi um dos maiores compiladores de documentos do Brasil, dando subsídios práticos aos demais historiadores graças às facilidades decorrentes do cargo de diplomata. Até então a pouca documentação existente se encontrava dispersa e não catalogada: poucos meios se tinha para estudar o Brasil Colônia ou o Nordeste Holandês, quase nada se sabia do tipo, quantidade e estado dos documentos existentes na Bahia, Pernambuco, Portugal ou Holanda. No entanto, Varnhagen não se limitou ao título de compilador, deixando como obra mais importante “História Geral do Brasil”, sendo o primeiro volume de 1854 e o segundo de 1857. Publicou inúmeros trabalhos, entre obras documentais e textos críticos, vindo a falecer em Viena no ano de 1878.
Cumpre voltarmos um pouco na questão pertinente à periodização, pois consiste assunto vastíssimo. Quando surgiu a “polêmica” de Abreu e Lima uma periodização já era tida como oficial pelo Instituto desde 1839 e proposta por um de seus idealizadores, Brigadeiro Cunha Matos. A proposta do Brigadeiro, adotada post-mortem (ou in memorian?), dividia a História do Brasil em três épocas: “a primeira, relativa aos aborígenes ou autóctones, a segunda, compreendendo as eras do descobrimento pelos portugueses e a administração colonial, e a terceira, abrangendo todos os conhecimentos desde a Independência” (RODRIGUES, 1957, p.153). Cunha Matos também propunha que diante da ignorância das Histórias das Províncias, primeiro se fizessem estudos regionais e posteriormente se debruçasse sobre o todo brasileiro.
No entanto, a razoável coerência da periodização apresentada não impediu o lançamento de um concurso que contemplaria com 200 mil réis aquele que apresentasse “um plano para se escrever a história antiga e moderna do Brasil, organizado de tal modo que nele se compreendessem as partes política, civil, eclesiástica e literária” (RODRIGUES, 1957, p.160). Apresentaram trabalhos apenas dois estudiosos - o naturalista alemão Karl Friedrich Philipp von Martius e Júlio de Wallenstein.
Wallenstein, o “derrotado”, apresentou um trabalho pouco inovador, no qual propunha o estudo da História do Brasil por décadas, nos moldes do romano Tito Lívio ou do cronista português João de Barros, e privilegiava a história política. A história civil, eclesiástica e literatura deveriam constar como observação no fim de cada capítulo. Logicamente o Instituto pedia algo mais ousado, mesmo que dentro do conservadorismo esperado de uma entidade que recebia o apoio intelectual e financeiro do Imperador.
Já von Martius apresentou seu “Como se deve escrever a História do Brasil”, escrito em 1843, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1845 e, finalmente, dado como vencedor em 20 de maio de 1847. Trabalho que se situa entre a inovação e o característico de uma época, “Como se deve escrever...” é fruto de atenta observação do naturalista enquanto esteve expedicionando pelo interior do Brasil sob patrocínio do rei da Baviera. Na verdade, o estudioso alemão não apresentou uma periodização, mas sim um tratado contendo todos os pontos e problemas que deveriam ser elucidados para a compreensão geral e ampla do Brasil. Foi o primeiro a salientar a importância do índio e do negro, a necessidade de se conhecer mais a fundo os costumes, a língua e a mitologia indígena, a falta de elementos cotidianos do colono português e do escravo africano para a compreensão dos mecanismos coloniais. No entanto, é necessário destacar que a inclusão de outras raças como responsáveis pela construção do país não excluía, segundo von Martius, a responsabilidade do branco em mostrar os rumos da civilidade, posição eurocêntrica típica e esperada.
Não se deve pensar que, por ter ganho um concurso, a tese de von Martius passou a ser seguida como lei, pois cada historiador poderia escrever como bem quisesse. O que ficou realmente como legado foram as influências e o início de debates, sempre presentes quando algo novo surge. Um historiador que com certeza ao menos leu “Como se deve escrever...” foi João Capistrano de Abreu, nascido no Ceará e radicado no Rio de Janeiro desde 1875.
Capistrano de Abreu foi talvez o primeiro historiador a dar importância a elementos populares ou menos elitistas, escrevendo uma história socioeconômica do Brasil, sendo capaz de desprezar a Inconfidência Mineira pois para ele não passou de um movimento de uma minoria intelectual, não chegando ao status de ação. Entretanto, antes de alcançar o espírito crítico que lhe fez conhecido, o historiador cearense passou por diferentes “momentos”. Logo que chegou ao Rio de Janeiro com 21 anos de idade carregava em sua bagagem a escola positivista e o plano de escrever uma História que mostrasse as influências permanentes da natureza sobre a civilização, tudo fundamentado sobre as leituras de Taine, Buckle e Agassiz. Sua formação teórica tomou corpo a partir de 1881 através da amizade com Teixeira Mendes e Miguel Lemos, os pais do positivismo no Brasil e da Igreja Positivista.
Porém as mudanças em seu discurso historiográfico já são perceptíveis a partir de 1882 – se é que podemos estabelecer uma data com tanta precisão. Desde 1879 Capistrano de Abreu já fazia parte da Biblioteca Nacional onde vinha tendo contato com documentação inédita e com obras de novos historiadores, não ligados às teorias de Comte, como Niebuhr, Ranke e Humbolt, filhos do realismo histórico alemão. Seu período na Biblioteca rendeu frutos de importância incontestável e o contato com a documentação resultou em uma série de edições documentais limpas de toda pesquisa crítica prévia, apenas como instrumentos do saber histórico, assim como fez Varnhagen. Do mesmo modo, o contato com os autores alemães proporcionou um alargamento dos horizontes intelectuais de Capistrano de Abreu que não se contentando com as traduções logo aprendeu o idioma para que pudesse acompanhar mais de perto a evolução da nova escola.
O historiador cearense caminhava rapidamente para o posto de intelectual. Como complemento aos seus estudos lia obras de geografia, economia, sociologia (então, em estado nascente) e psicologia, dominava o francês, o inglês, o latim e agora o alemão. Tal crescimento se tornava incompatível com o positivismo. Sua visão crítica exigia mais, pois ele não tinha como permanecer ao lado de uma escola filosófica que não pesa o valor do testemunho, ou pesquisa as fontes, sua autenticidade e credibilidade. “O historiador sabe que não pode reduzir as ações humanas a regras naturais, porque assim não veremos a vida real, o drama da História. Os fatos reconstruídos, percebem-no todos que exercitam a história, não se enquadram nas causas amplas e gerais com que o positivismo quis explicar o curso da humanidade.” (RODRIGUES, 1965, p.39-40)
Uma de suas obras mais famosas sai em 1907, após 7 anos de preparo, uma edição comentada de “História Geral do Brasil” de Varnhagen, na qual realizou anotações, esclarecimentos e críticas. Os pontos e questões que considerou merecedores de maiores estudos Capistrano reservou lugar em seu “Capítulos de História Colonial”, onde tratou de assuntos tais como o indígena, os franceses e ingleses no Brasil, a guerra flamenga, a expansão para o sertão e a formação dos limites territoriais, entre outros. Porém, sua produção intelectual não se limita a isso, produziu incansavelmente de 1878 a 1927, tendo editado “Caminhos Antigos e o Povoamento do Brasil” no ano de 1899 e realizado inúmeras traduções, inclusive de livros de direito e medicina, durante sua vida.
O importante é notarmos o que realmente ocorreu ao longo do século XIX, considerado por alguns como o “século da História”. A História surge então como reveladora de gêneses, não que isso nunca houvesse sido feito, porém passa-se a pensar como analisá-la, que ferramentas seriam usadas, que teorias e práticas seriam pertinentes. Na verdade, é no oitocentos que se cria um caráter científico para o que antes era considerado apenas literatura, adquirindo assim, métodos e critérios. Segundo Francisco Iglesias o que se tenta fazer, a partir daí, é “reunir o maior número possível de documentos, seja de produção atual seja de mais antiga, com a recuperação de papéis perdidos ou desgastados pelo tempo” (IGLÉSIAS, 2000,p. 41). Estes documentos proporcionaram bases sólidas para que estudiosos pudessem discutir suas diferentes visões.
Rapidamente a História virou “febre intelectual” resultando no surgimento de inúmeros institutos e sociedades especializadas, tendência que o Brasil acompanhou de perto seguindo o modelo dado pelo Instituto Histórico de Paris para a criação de seu Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. No entanto, não apenas de influências se fez a produção intelectual brasileira. As ideias francesas e alemãs, logicamente, fizeram parte das rodas de discussões dos estudiosos deste lado do Atlântico. Mas seria ingenuidade pensar que nada de original surgiu na América e que tudo foi importado – pensamento existente até hoje. Se grande parte da história intelectual brasileira é importada, é importante lembrar que as ideias e doutrinas aqui se “deformaram ou conformaram às condições de um novo meio” (COSTA, 1987, p.324).
Sendo assim, o IHGB foi o responsável por agremiar os historiadores ou apaixonados por história, para que mais tarde estes autodidatas ou “filosofantes brasileiros”, segundo as palavras de João Cruz Costa, pudessem influenciar as gerações seguintes, disputando a atenção dos mais novos com as idéias estrangeiras. É interessante pensar também que a “importação” de ideias e doutrinas se faz mais forte quando não se possui meios com os quais rebatê-las ou rechaçá-las, e que grandes revoluções – e aqui se incluem as intelectuais – só ocorrem quando há ideias trabalhadas e adequadas aos revolucionários.
Este ensaio não pretende, de forma alguma, discutir ainda se a historiografia “pós-anos 30” sofreu uma revolução ou evolução, mas espera-se que tenha ficado demonstrado que apesar de possíveis erros, incongruências ou inconsequências uma futura renovação só pode se realizar sobre algo pré-existente, ou seja, Francisco Adolfo de Varnhagen, João Capistrano de Abreu, Joaquim Nabuco, Barão de Rio Branco, João Pandiá Calógeras, entre outros, foram o início para que depois viessem Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, e sucessivamente até os tempos atuais.

Bibliografia:

ABRÃO, Bernadette Siqueira – História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

COSTA, João Cruz – O pensamento brasileiro sob o Império. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de – História Geral da Civilização Brasileira. T. II, vol.3. 6.ed. Rio de Janeiro: Bertrand-DIFEL, 1987.

IGLÉSIAS, Francisco – Os historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. 1.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte: UFMG- IPEA, 2000.

RODRIGUES, José Honório – Teoria da História do Brasil: Introdução Metodológica. Vol.1. 2.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957.

RODRIGUES, José Honório – História e Historiadores do Brasil. 1.ed. São Paulo: Fulgor, 1965.

O QUE É HISTÓRIA


Resenha crítica

Nadir Costa

BORGES, Vavy Pacheco. O que é História. São Paulo: Brasiliense, 1981.
A autora desta obra é professora de história da Unicamp. Publicou em 1979 pela brasiliense o livro “Getúlio Vargas e a Oligarquia Paulista”.E como tese de Doutorado “Sentidos do Tenentismo: memória, História e Historiografia”.
A obra é dirigida para a formação do profissional em História. O livro organiza-se em três partes. É apresentado pela autora como um estudo para a Introdução aos Estudos da História. Vavy propõe-se com esta obra, oferecer informações aos estudantes de História, ou seja, a proposta da autora é o de iniciar o aluno nesta descoberta fascinante do fazer histórico. Sua abordagem é, ao mesmo tempo descritiva e normativa.
Segundo a autora a história é inacabada, está sempre em construção. No primeiro capítulo, a autora ressalta que o mito foi uma das primeiras formas de explicação da origem humana. A História surgiu com os antigos filósofos gregos, que viram a importância da explicação histórica. Durante a Idade Média, na Europa desenvolveu-se a História Teológica, que passou a subordinar o mundo às leis de Deus.. A partir do século XVI, a História como ciência, passou a exigir procedimentos mais rigorosos do que aqueles empregados pelos historiadores até a Idade média, surgindo os primeiros passos na constituição de seu método. No final do século XVII, a História escrita pelos positivistas é uma sucessão de acontecimentos isolados, surgindo uma nova forma de elaborar a História. Na nova sociedade que se impõe, no século XIX aparece uma corrente filosófica, o Idealismo Alemão, que traz enormes consequências para a História, com Hengel, a dialética aceita desde a Antiguidade Grega por alguns filósofos, é retomada em outro sentido. Com os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial surge entre os historiadores a necessidade de rever suas posições eurocentristas. A História é apresentada como processo de desenvolvimento contínuo, desde a pré-história até o período contemporâneo.
No segundo capítulo a autora mostra a visão da historia atual. São os homens que fazem a História. A História é produzida, analisando todos os fatos, abrangendo os fatos políticos e ideológicos. O historiador deve situar-se no tempo e no espaço de quem quer estudar.
No apêndice final para a autora, a História no Brasil, está presa nas escolas e universidades. Encontra-se, afastada de sua principal finalidade; proporcionar ao ser humano, a reflexão sobre as formas de vida e de organização social desenvolvidas em todos os tempos e espaços geográficos, procurando compreender e explicar as suas causas e implicações.
O reconhecimento do significado dessa dimensão teórica na formação dos estudantes de História, entretanto, não tem sido acompanhada de uma produção editorial compatível. Abram-se alguns livros dos poucos disponíveis de Introdução á História e se poderá observar a limitação dos títulos específicos, particularmente dos editados no Brasil. O pequeno manual de Vavy (O que é História), que tem tido sucessivas edições, as indicações para leitura são, em muitos casos, obras estrangeiras ainda sem tradução no Brasil. Em vista disso o livro da autora não preenche as lacunas para dar conta da História da História, pois temos que buscar os artigos dispersos nas revistas especializadas ou monografias para preencher as lacunas na formação do profissional de História.

Cabeça gigante do faraó Amenofis III é descoberta em Luxor, no Egito.

O ministério da Cultura egípcio anunciou no dia 28 de fevereiro de 2010 que foi encontrada em Luxor, no templo funerário de Amenofis, uma cabeça gigante de granito vermelho reproduzindo a imagem do faraó Amenofis III, de 3.000 anos de idade.
"A cabeça está intacta e mede 2,5 metros de altura", indicou em um comunicado Zahi Hawass, diretor do departamento de Antiguidades Egípcias. "É uma obra prima de grande qualidade artística, um retrato do rei com traços esculpidos muito finos e cheios de juventude", descreveu.
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19 de maio de 2010

Cientistas encontram mais antigo ancestral humano na Etiópia

A humanidade está 1 milhão de anos mais velha. Cientistas descobriram um ancestral dos homens atuais de 4,4 milhões de anos. O Ardipithecus ramidus (ou apenas “Ardi”, como é carinhosamente chamado) foi descrito minuciosamente por uma equipe internacional de cientistas, que divulgaram a descoberta em uma edição especial da revista “Science” desta semana.

O espécime analisado, uma fêmea, vivia onde hoje é a Etiópia 1 milhão de anos antes do nascimento de Lucy (estudado por muito tempo como o mais antigo esqueleto de ancestral humano).