25 de maio de 2009

Cúpula G-20

Líderes mundiais discutem crise econômica em Londres
José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

A crise econômica internacional é o principal tema em discussão no encontro de líderes das potências industriais e países emergentes, o G-20, iniciada dia 2 de abril, em Londres, capital do Reino Unido. A cúpula vai debater medidas para conter o protecionismo, reestruturar o mercado global de finanças e impedir novas crises.

No entanto, não é esperado o anúncio de novos pacotes de estímulos fiscais, que é quando os governos gastam mais, reduzem a arrecadação de impostos e diminuem a taxa de juros, para com isso gerarem empregos e fazer com que as pessoas consumam, "reaquecendo" a economia.

No entendimento do G-20, as medidas já implementadas nos Estados Unidos, Europa e Ásia seriam suficientes para o mercado financeiro se recuperar a partir de 2010. Quais são, então, as expectativas com a reunião?

O que é o G-20
O G-20, ou Grupo dos Vinte, foi criado em 1999 com o objetivo de propor soluções em conjunto para a economia mundial. O primeiro encontro com ministros das Finanças e presidentes dos Bancos Centrais dos países mais ricos do planeta foi realizado em Berlim, capital da Alemanha.

Antes, havia somente o G-7, grupo das sete nações mais desenvolvidas do planeta (que, após a entrada da Rússia em 1997, passou a ser chamado G-8), mas houve a necessidade de incluir os chamados países emergentes, como Brasil, China e Índia, cujos mercados em expansão interferiam na ordem econômica mundial.

Juntos, os países membros do G-20 representam 90% do PIB (Produto Interno Bruto) e 80% do comércio globais, bem como dois terços da população mundial.

O grupo é formado por integrantes de 19 países - África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia - mais a EU (União Europeia), representada pelo presidente do Conselho Europeu e pelo Banco Central Europeu.

Estrutura
Os encontros ocorrem uma vez por ano e o cargo da presidência é rotativo: este ano, acontece no Reino Unido, que preside o fórum; em 2010, será na Coreia do Sul. No ano passado, a cúpula se reuniu em São Paulo, entre os dias 8 e 9 de novembro.

Além da crise econômica, outros assuntos tratados pelos dirigentes abrangem desenvolvimento sustentável, aquecimento global e ações contra a lavagem de dinheiro, a corrupção e o financiamento do terrorismo.

Em 2008, dias depois da conferência no Brasil, os chefes de Estado se reuniram em Washington, capital dos Estados Unidos, em caráter extraordinário, onde pela primeira vez trataram da atual crise econômica. O encontro no Reino Unido dará continuidade às propostas discutidas na Casa Branca.

Pauta
A tarefa que o G-20 tem pela frente é pouco modesta: nada menos que reinventar o capitalismo. Para isso, precisam convencer os governos a manterem a política do livre mercado e evitarem o protecionismo (defesa do mercado interno contra a concorrência estrangeira, impedindo a entrada de produtos importados, por exemplo), comum em tempos de crise.

Os países membros do Grupo dos Vinte enfrentam graves problemas domésticos com a crise, principalmente Estados Unidos, Japão e Europa, com quedas sucessivas do PIB, falência de instituições financeiras e indústrias e desemprego em massa.

O Banco Mundial estima que este ano a economia global vai contrair 1,7% - ao invés de crescer 0,9%, conforme previsto anteriormente - e sofrer uma queda de 6,1% no volume do comércio mundial de bens e serviços.

No Brasil, o PIB registrou queda de 3,6 no quarto trimestre de 2008, a maior desde 1996. PIB é a soma das riquezas produzidas pelo país num determinado período e constitui um dos principais indicadores da economia.

Para reverter esse quadro, além de pacotes fiscais, discute-se a fiscalização do mercado financeiro para evitar novas recessões. Ou seja, a cúpula defende a manutenção do livre mercado, mas com a adoção de mecanismos que limitem a especulação.

Resistências
Chegar a acordos, entretanto, não é tão simples assim. Entre os obstáculos está o próprio Estados Unidos, maior economia do mundo e extremamente protecionista, que reluta em aceitar um controle externo de seu mercado.

Em oposição, o presidente da França, Nicolau Sarkozy, já avisou que vai se recusar a assinar a declaração final da cúpula e deixar o G20, caso não se aprovem medidas mais rigorosas de regulação do mercado.

Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em diversas vezes responsabilizou as nações ricas pela crise, defende maior influência econômica para países emergentes, como o Brasil, o que significa diminuir a de outros estados.

Protestos
O noticiário econômico sobre o G-20 muitas vezes é superado pelas notícias de prisões e confrontos com manifestantes, durante protestos que fazem parte da tradição do fórum. Dada a importância da cúpula e a visibilidade que consegue junto à mídia internacional, é natural que também atraia ativistas políticos.

Os grupos de manifestantes são os mais variados, desde socialistas e anarquistas que defendem o fim do capitalismo até e ambientalistas, que pressionam por leis mais duras contra a emissão de poluentes nos países ricos. Há também entidades religiosas e pacifistas.

Para recebê-los, foi montado um forte esquema de segurança, visando proteger mais de 50 delegações que participam do evento na capital britânica.

Uma semana antes do encontro, cinco jovens que planejavam uma manifestação foram detidos com armas no Reino Unido e dezenas de milhares de pessoas participaram da marcha Put People First (Coloquem as Pessoas em Primeiro Lugar), movimento que luta pela igualdade social e a preservação do meio ambiente.

Um dia antes, ocorreram novas prisões e passeatas em diversos pontos do país, a maior organizada pelo G20 Meltdown (Derretimento do G20), um dos principais movimentos de oposição ao Grupo dos Vinte.
* José Renato Salatiel é jornalista e professor universitário

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