10 de janeiro de 2011

Plebiscito atrai atenção do mundo sobre o Sudão

Foco da atenção da comunidade internacional sobre o Sudão oscilou, nos
últimos anos, entre Darfur e o processo de paz norte-sul. Atual
engajamento ocidental em torno da independência do sul talvez chegue
tarde demais.

Às vésperas da votação sobre a independência do sul do Sudão, tanto
Berlim quanto Washington, Londres e Paris insistiam para que a paz
fosse mantida no país, independente do resultado das urnas. Contudo,
os apelos não fazem esquecer o fato de que no passado o Ocidente
dedicou pouco interesse aos atritos entre o norte e o sul do país
africano.

Wolfram Lacher, especialista em assuntos sudaneses do Instituto Alemão
de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), explica a situação:

"Nos últimos anos, a atenção da comunidade internacional sobre o Sudão
oscilou muito. Quer dizer: entre 2003 e 2005 Darfur esteve no fim da
lista de prioridades, para que o acordo de paz norte-sul não fosse
ameaçado. Depois que este foi assinado, a atenção se voltou
maciçamente para Darfur."

No último ano, o interesse reverteu mais uma vez: Darfur perdeu
importância, em favor do processo de paz entre as duas partes do
Sudão, segundo Lacher. Mesmo assim, o engajamento chegou tarde demais,
prejudicando o plebiscito.

Diversos tópicos do acordo de paz ou não foram implementados ou foram
postos em vigor com atraso. Um exemplo é que tanto o norte como o sul
demoraram demais a realizar um recenseamento para verificar o número
de eleitores para o plebiscito. Até hoje, o sul questiona os dados do
censo, fato que poderá utilizar mais tarde para colocar em dúvida o
resultado do referendo.

Influência ocidental restrita

À medida que se aproximava a data do plebiscito, voltou a crescer o
interesse internacional pelo Sudão. No início de outubro de 2010, a
revista Africa Confidential noticiava que o país africano era a
terceira prioridade para a política externa dos Estados Unidos, logo
após o Iraque e o Afeganistão. Diversos enviados especiais circularam
entre Washington, a capital sudanesa, Cartum, e o sul do país.

No entanto, peritos como Peter Schumann, antigo coordenador da missão
das Nações Unidas no Sudão (Unmis, na sigla em inglês), classificam
como modesta a influência das nações ocidentais sobre os
acontecimentos no país. Uma das razões para tal é sua política no
passado.

"Cartum soube jogar com maestria os interesses próprios dos diferentes
Estados, opondo-os uns aos outros. Os EUA, por exemplo, cooperaram
estreitamente com o governo sudanês na luta contra o terrorismo, que
era sua meta principal. Na realidade, por este motivo foi rechaçada
uma mudança de regime", analisa Schumann.

Enquanto tanto Africa Confidential quanto o jornal Washington Post
relatam uma aproximação entre os serviços secretos norte-americano e
sudanês, o Sudão consta oficialmente da lista dos países que apoiam o
terrorismo internacional. Especialistas creem que os EUA farão ofertas
e concessões ao regime sudanês, para que a cooperação informal
existente entre os dois países são seja afetada. Nesse sentido,
Washington já considerou até suspender as sanções econômicas contra a
nação africana.

Dívida externa e engajamento

A dívida externa sudanesa – um dos principais pomos da discórdia – é
um outro instrumento que as potências industriais ocidentais podem
acionar no contexto das negociações norte-sul. Caso o sul se torne
independente, o norte do Sudão pretende empurrar parte de suas dívidas
para o novo Estado, algo que o sul rejeita veementemente.

Aqui, o analista Wolfram Lacher vê uma chance para os países
ocidentais exercerem um papel de mediação. Importante, segundo o
especialista, é que ambos os lados sejam considerados, o que poderá
tornar o Norte mais flexível em alguns pontos.

Na qualidade de diplomata experiente, Peter Schumann tem um outro
conselho para os governos ocidentais: mais engajamento in loco.

"O importante é uma presença, não apenas nas capitais, mas sim
abrangente – como a que a missão da ONU e os representantes da
sociedade civil internacional vêm mantendo, até certo ponto. Essa é
uma contribuição muito mais importante, para deixar claro às pessoas,
nas aldeias e nas cidades, de que alguém está observando a situação."

O plebiscito sobre a eventual independência do sul do Sudão se inicia
neste domingo (09/01).

Autor: D. Pelz / P. Brooks / A. Valente
Revisão: Marcio Damasceno

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